Os últimos meses têm sido muito desafiadores para todos nós: pandemia, quarentena, crise na saúde, crise política, crise econômica e episódios chocantes e trágicos de racismo. Isso sem falar nas notícias tristes e mentirosas recorrentes na mídia em geral e nos níveis insuportáveis de intolerância, de ódio, de insensatez e de agressividade das pessoas nas redes sociais. Há um clima de tensão no ar.
Por isso, torna-se urgente a presença e a ação efetiva daqueles(as) que foram resgatados(as) das trevas para a luz, daqueles(as) que escolheram trilhar o caminho estreito, daqueles(as) que foram transformados(as) pela graça de Deus. O apóstolo Paulo, em seu tempo, entendeu que, a partir da transformação que passara, deveria ter uma prática de vida diferente em meio às circunstâncias em que ele estava. Ou seja, diante de um mundo tão conturbado, ele se sentia no dever de ser diferente e de fazer a diferença.
Na sua carta à igreja em Roma, Paulo propõe um dos desafios mais surpreendentes contidos na Bíblia: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:19–21). Resumindo, o que Paulo está dizendo é o seguinte: “Façam diferente das outras pessoas; andem na contramão do mundo”.
Tente imaginar se todo cristão ou cristã abrisse mão de qualquer sentimento ou intenção de vingança, tornando-se solidário(a) com quem passasse por qualquer tipo de necessidade, mesmo que fosse seu inimigo, e, principalmente, retribuindo sempre o mal com o bem. Como seria a nossa cidade, o nosso país, o mundo? Pois bem, o Brasil deveria ser um ótimo país em todos os sentidos, uma vez que quase 90% da população brasileira se diz cristã. Mas não é o que acontece. Podemos até supor que o maior mal da nossa nação é a incoerência ou omissão dos que se dizem cristãos e deveriam ser diferentes e fazer a diferença.
O desafio que Paulo propõe aos romanos – e a nós também – está firmado no princípio que ele mesmo coloca quando diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:1–2). Sem uma entrega total e verdadeira de todo o nosso ser ao Senhor, inevitavelmente tomaremos a forma do mundo que aí está, tornando-nos intolerantes, agressivos, corruptos.
Cada homem e cada mulher que se diz ser de Deus precisa dar sinais ou, conforme a expressão bíblica, frutos que evidenciem essa filiação a Deus Pai. O mundo só será diferente à medida que entregarmos diariamente nossas vidas ao Senhor, permitindo que Ele nos transforme. E assim andaremos na contramão do mundo, sendo transformados e gerando transformação.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin