“Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda O louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu” (Salmo 42:11).
Quantos de nós já acordamos, sem saber o que estava acontecendo? Um aperto no peito, uma sensação de vazio, um sentimento de sequidão… Pode ter certeza de que isso é a angústia.
E o que é exatamente a angústia? É uma espécie de ansiedade, inquietude, carência, falta de algo, um tipo de “sofrimento”. Quando ficamos tristes ou quando estamos alegres, é por alguma razão; a angústia, porém, ocorre sem nenhum motivo definido. De acordo com a ciência, a angústia é um sintoma psíquico, um sentimento sem objeto. Angústia é como um abismo que chama outro abismo, pois vem acompanhada de elementos como a solidão, a desmotivação, a tristeza, um sentimento de culpa, a agressividade e até mesmo a ideia de desistir da vida. E não é uma realidade distante de nós.
O Salmo 42, do qual extraímos o versículo que abre esta pastoral, é uma espécie de desabafo que brota do coração de uma pessoa que vive um momento de profunda angústia e, ao mesmo tempo, de desamparo. O salmista, provavelmente um dos filhos de Corá, escreve este canto de lamento no período de exílio babilônico. Estamos diante de alguém que, além de estar passando por uma terrível angústia, a ponto de não se alimentar, exceto de suas lágrimas, sentia-se abandonado por Deus e ainda ouvia o deboche de outras pessoas: “Onde está o teu Deus?” (Sl 42:3). Nos períodos de nossas dificuldades, muitas vezes nós mesmos nos perguntamos onde está Deus. Ou ouvimos, em meio a nossas dores: “Cadê o seu Deus?”.
Observe que a angústia não é um sentimento exclusivamente meu ou seu. Na Bíblia, há diversos exemplos de pessoas que passaram por terríveis angústias. Uma delas é Jó, que perdeu tudo o que tinha e estava angustiado (Jó 7:11). Outro é Jeremias, que se angustia por Jerusalém em Lamentações 2:11. Há ainda dois exemplos muito plausíveis, estes no Novo Testamento. O primeiro deles é o de Jesus, que em dois momentos demonstra extrema angústia: em Lucas 22:44 e em João 11:35. O segundo exemplo é o do apóstolo Paulo, que sofreu em prisões e passou por muitas angústias: “Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida” (2 Co 2:4).
Assim como o salmista, não estamos sozinhos com a angústia que acontece dentro de nós, em nossa alma. Aliás, no Salmo 42 encontramos seis vezes a palavra “alma”, do termo hebraico nefesh, que também significa “garganta”, região do corpo que experimenta a sede e a necessidade da respiração, isto é, da vida, sendo também símbolo do espírito. Isso porque Deus colocou em nós um dispositivo de segurança em nossa alma: a sede. De acordo com a ciência, um ser humano não vive mais de três dias sem água, pois mais de 70 por cento do nosso corpo é composto desse elemento. E esse salmo nos revela qual é a sede de nossa alma.
Primeiramente, é a sede por Deus (Sl 42:1–2). Nossa angústia e o vazio que dela se origina devem-se à falta de Deus! Só somos completos em Deus. “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22:17b).
Em segundo lugar está a sede pela comunhão (Sl 42:4–5). O salmista nos lembra que a casa de Deus deve ser um lugar de alegria e comunhão. A pior coisa para um ser humano é a solidão. Entretanto, vivemos numa sociedade em que muitas pessoas valorizam estar sozinhas, não firmam compromisso e não estabelecem relacionamento nem com Deus nem com o próximo.
Em terceiro lugar vem a sede pela misericórdia de Deus (Sl 42:8–9). É a misericórdia divina a causa de não sermos consumidos, pois ela se renova a cada manhã (Lm 3:22).
A nossa angústia também tem sede de esperar em Deus (Sl 42:10–11) Esperar em Deus é muito mais do que sonhar. “Esperei com paciência no Senhor e Ele ouviu meu clamor” (Sl 40:1). “Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes (Rm 12:12).
Todos temos condições de enfrentar nossas angústias. Jesus nos alertou de que no mundo teríamos aflições e nos ensinou a termos bom ânimo (Jo 16:33). Paulo declara que toda tribulação é leve e momentânea e que é em nossa angústia que Deus quer ser Senhor. Nossa angústia clama por mais de Deus; nossa angústia tem sede de Deus! Que em nossa fraqueza e debilidade Deus possa nos fortalecer!
“Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando me verei perante a Sua face?” (Sl 42:2).
Pastor Israel Alcântara da Rocha