Minha angústia tem sede de Deus

Por que estás aba­ti­da, ó minha alma? Por que te per­tur­bas den­tro de mim? Espe­ra em Deus, pois ain­da O lou­va­rei, a Ele, meu auxí­lio e Deus meu” (Sal­mo 42:11).

Angús­tia”, por Andrew Carruthers

Quan­tos de nós já acor­da­mos, sem saber o que esta­va acon­te­cen­do? Um aper­to no pei­to, uma sen­sa­ção de vazio, um sen­ti­men­to de sequi­dão… Pode ter cer­te­za de que isso é a angústia.

E o que é exa­ta­men­te a angús­tia? É uma espé­cie de ansi­e­da­de, inqui­e­tu­de, carên­cia, fal­ta de algo, um tipo de “sofri­men­to”. Quan­do fica­mos tris­tes ou quan­do esta­mos ale­gres, é por algu­ma razão; a angús­tia, porém, ocor­re sem nenhum moti­vo defi­ni­do. De acor­do com a ciên­cia, a angús­tia é um sin­to­ma psí­qui­co, um sen­ti­men­to sem obje­to. Angús­tia é como um abis­mo que cha­ma outro abis­mo, pois vem acom­pa­nha­da de ele­men­tos como a soli­dão, a des­mo­ti­va­ção, a tris­te­za, um sen­ti­men­to de cul­pa, a agres­si­vi­da­de e até mes­mo a ideia de desis­tir da vida. E não é uma rea­li­da­de dis­tan­te de nós.

O Sal­mo 42, do qual extraí­mos o ver­sí­cu­lo que abre esta pas­to­ral, é uma espé­cie de desa­ba­fo que bro­ta do cora­ção de uma pes­soa que vive um momen­to de pro­fun­da angús­tia e, ao mes­mo tem­po, de desam­pa­ro. O sal­mis­ta, pro­va­vel­men­te um dos filhos de Corá, escre­ve este can­to de lamen­to no perío­do de exí­lio babilô­ni­co. Esta­mos dian­te de alguém que, além de estar pas­san­do por uma ter­rí­vel angús­tia, a pon­to de não se ali­men­tar, exce­to de suas lágri­mas, sen­tia-se aban­do­na­do por Deus e ain­da ouvia o debo­che de outras pes­so­as: “Onde está o teu Deus?” (Sl 42:3). Nos perío­dos de nos­sas difi­cul­da­des, mui­tas vezes nós mes­mos nos per­gun­ta­mos onde está Deus. Ou ouvi­mos, em meio a nos­sas dores: “Cadê o seu Deus?”.

Obser­ve que a angús­tia não é um sen­ti­men­to exclu­si­va­men­te meu ou seu. Na Bíblia, há diver­sos exem­plos de pes­so­as que pas­sa­ram por ter­rí­veis angús­ti­as. Uma delas é Jó, que per­deu tudo o que tinha e esta­va angus­ti­a­do (Jó 7:11). Outro é Jere­mi­as, que se angus­tia por Jeru­sa­lém em Lamen­ta­ções 2:11. Há ain­da dois exem­plos mui­to plau­sí­veis, estes no Novo Tes­ta­men­to. O pri­mei­ro deles é o de Jesus, que em dois momen­tos demons­tra extre­ma angús­tia: em Lucas 22:44 e em João 11:35. O segun­do exem­plo é o do após­to­lo Pau­lo, que sofreu em pri­sões e pas­sou por mui­tas angús­ti­as: “Por­que, no meio de mui­tos sofri­men­tos e angús­ti­as de cora­ção, vos escre­vi, com mui­tas lágri­mas, não para que ficás­seis entris­te­ci­dos, mas para que conhe­cês­seis o amor que vos con­sa­gro em gran­de medi­da” (2 Co 2:4).

Assim como o sal­mis­ta, não esta­mos sozi­nhos com a angús­tia que acon­te­ce den­tro de nós, em nos­sa alma. Aliás, no Sal­mo 42 encon­tra­mos seis vezes a pala­vra “alma”, do ter­mo hebrai­co nefesh, que tam­bém sig­ni­fi­ca “gar­gan­ta”, região do cor­po que expe­ri­men­ta a sede e a neces­si­da­de da res­pi­ra­ção, isto é, da vida, sen­do tam­bém sím­bo­lo do espí­ri­to. Isso por­que Deus colo­cou em nós um dis­po­si­ti­vo de segu­ran­ça em nos­sa alma: a sede. De acor­do com a ciên­cia, um ser huma­no não vive mais de três dias sem água, pois mais de 70 por cen­to do nos­so cor­po é com­pos­to des­se ele­men­to. E esse sal­mo nos reve­la qual é a sede de nos­sa alma.

Pri­mei­ra­men­te, é a sede por Deus (Sl 42:1–2). Nos­sa angús­tia e o vazio que dela se ori­gi­na devem-se à fal­ta de Deus! Só somos com­ple­tos em Deus. “Aque­le que tem sede venha, e quem qui­ser rece­ba de gra­ça a água da vida” (Ap 22:17b).

Em segun­do lugar está a sede pela comu­nhão (Sl 42:4–5). O sal­mis­ta nos lem­bra que a casa de Deus deve ser um lugar de ale­gria e comu­nhão. A pior coi­sa para um ser huma­no é a soli­dão. Entre­tan­to, vive­mos numa soci­e­da­de em que mui­tas pes­so­as valo­ri­zam estar sozi­nhas, não fir­mam com­pro­mis­so e não esta­be­le­cem rela­ci­o­na­men­to nem com Deus nem com o próximo.

Em ter­cei­ro lugar vem a sede pela mise­ri­cór­dia de Deus (Sl 42:8–9). É a mise­ri­cór­dia divi­na a cau­sa de não ser­mos con­su­mi­dos, pois ela se reno­va a cada manhã (Lm 3:22).

A nos­sa angús­tia tam­bém tem sede de espe­rar em Deus (Sl 42:10–11) Espe­rar em Deus é mui­to mais do que sonhar. “Espe­rei com paci­ên­cia no Senhor e Ele ouviu meu cla­mor” (Sl 40:1). “Rego­zi­jai-vos na espe­ran­ça, sede paci­en­tes na tri­bu­la­ção, na ora­ção, per­se­ve­ran­tes (Rm 12:12).

Todos temos con­di­ções de enfren­tar nos­sas angús­ti­as. Jesus nos aler­tou de que no mun­do tería­mos afli­ções e nos ensi­nou a ter­mos bom âni­mo (Jo 16:33). Pau­lo decla­ra que toda tri­bu­la­ção é leve e momen­tâ­nea e que é em nos­sa angús­tia que Deus quer ser Senhor. Nos­sa angús­tia cla­ma por mais de Deus; nos­sa angús­tia tem sede de Deus! Que em nos­sa fra­que­za e debi­li­da­de Deus pos­sa nos fortalecer!

Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quan­do me verei peran­te a Sua face?” (Sl 42:2).

Pas­tor Isra­el Alcân­ta­ra da Rocha

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