Uma coisa que me chama muito a atenção e me intriga ao mesmo tempo é quando eu ouço o relato de pessoas que fizeram supostas “regressões”. Eu nunca vi alguém dizendo que descobriu pela “regressão” que, no passado, era um escravo, um camponês, ou um serviçal. Todos que “voltam” ao passado descobrem que foram reis, imperadores, pessoas poderosas e influentes. Bem, para uma pessoa que crê em reencarnação, não custa muito também crer que já foi alguém muito importante. Afinal seria um grande prejuízo para quem manipula a chamada “regressão” dizer ao cliente que no passado ele não passava de um mero desconhecido.
Essa introdução serve para ilustrar o tema central desta pastoral: pessoas com mania de grandeza. Esse fenômeno psicológico, assim podemos classificá-lo, diz respeito ao comportamento de pessoas que buscam e muitas vezes agem como se estivessem numa posição mais elevada do que aquela em que realmente está e também, de preferência, acima daqueles com quem convive. Alguns apenas expressam tal comportamento por meio de seu discurso, enquanto outros colocam em prática essa ilusão, adquirindo bens que muitas vezes nem podem pagar, pois estão fora da sua realidade financeira, mas servem como um estandarte para mostrar seu status e poder. É claro que esses casos extremos podem até ser classificados como patológicos.
O mais surpreendente, porém, é quando vemos pessoas com “mania de grandeza espiritual”. Sim, isso existe! Falo inclusive da minha classe. Há muitos pastores, das mais diferentes denominações, que têm séria mania de grandeza. Vemos por aí discursos e ações do tipo: “Vamos construir o maior templo do mundo”, “Vamos ter a igreja com maior números de células” ou “Vamos ser a igreja que paga o maior salário de pastor” – essa última bem tendenciosa, é claro!
Mas não existem apenas clérigos com mania de grandeza. Isso também ocorre entre a membresia. Alguém canta bem na igreja, e logo dizem que essa pessoa tem um chamado especial, que tem de gravar um CD, que tem de fazer sucesso; alguém prega bem, e logo já é cotado para ser o maior missionário da história; se a pessoa que grita “glória a Deus” e “aleluia” mais alto que outros, é suficiente para ser chamado de homem de Deus ou mulher consagrada.
Primeiro temos de abrir mão urgentemente desses modelos predeterminados e enlatados que a mídia gospel anda vendendo. Os cristãos, em larga escala, estão sendo coisificados e modelados à imagem e semelhança de um Mamon que tem gravadora, grife, canal de televisão, Bíblia, artistas e shows, tudo com o “selo” gospel, para dizer que é de crente (Mt. 7:15), mas que nada tem a ver com a crença cristã.
Em segundo lugar, temos de ter clareza de que não há espaço na igreja, e muito menos no cristianismo, para mania de grandeza. Isso porque Aquele que é o fundamento da nossa fé e nosso verdadeiro modelo, Jesus Cristo de Nazaré, em nenhum momento quis ou buscou ser grande, pois Ele sabia que grande era apenas um: seu Pai.
Com carinho e estima pastoral,
Pr. Tiago Valentin