Mania de grandeza (2ª. Parte)

Con­ti­nu­an­do as refle­xões da sema­na pas­sa­da, reto­mo do exa­to pon­to em que parei: Jesus de Naza­ré. Não falo do Cris­to, mas do homem sem mui­ta ins­tru­ção, que cres­ceu e foi cri­a­do numa peque­na vila rural e pobre, esse Jesus tão indi­ges­to para os “super­cren­tes”. Jesus nas­ceu, cres­ceu e mor­reu pobre, sem pres­tí­gio huma­no, não fez gran­des aqui­si­ções duran­te a vida, não tinha uma sede, um minis­té­rio de lou­vor, nem assi­na­va Reve­ren­do, Rabi ou Sumo Sacer­do­te antes do nome. Afi­nal, Ele não veio para ser ser­vi­do, mas para ser­vir (Mc. 10:45).

Mania de gran­de­za não é um com­por­ta­men­to moder­no, mui­to pelo con­trá­rio. Ao lon­go da His­tó­ria, vemos mui­tos per­so­na­gens que foram domi­na­dos pela obses­são de ser gran­de. Quan­do Jesus fez os pri­mei­ros anún­ci­os de que um novo Rei­no esta­va por vir, os dis­cí­pu­los logo se alvo­ro­ça­ram e, na gana de obter reco­nhe­ci­men­to jun­to ao Rei, que­ri­am saber quem seria o mai­or nes­se Rei­no (Mt. 18:1–4). Mas Jesus lhes deu uma res­pos­ta den­tro do Seu padrão de com­por­ta­men­to: quem qui­ses­se ser gran­de, deve­ria ser humil­de como as cri­an­ças – elas, que mui­tas vezes são tão des­me­re­ci­das nas igre­jas, afi­nal, são ape­nas cri­an­ças. Con­tu­do, delas é o Reino!

Por isso, mania de gran­de­za nada tem a ver com os que seguem a Jesus. Ele foi mui­to cla­ro a esse res­pei­to quan­do dis­se: “As rapo­sas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde recli­nar a cabe­ça”. Jesus dei­xou bem cla­ro que aque­les que qui­ses­sem segui-lo deve­ri­am saber que con­for­to, pres­tí­gio ou sta­tus nada têm a ver com sua pro­pos­ta de Reino.

Mas por que as pes­so­as têm mania de gran­de­za den­tro da igre­ja? É que vive­mos um momen­to em que as pes­so­as estão o tem­po todo bus­can­do auto­a­fir­mar-se, e esse pen­sa­men­to tem inva­di­do as igre­jas sob o pre­tex­to de que, se Deus é gran­de, Seus filhos têm obri­ga­to­ri­a­men­te de ser gran­des, pode­ro­sos e, se pos­sí­vel, famo­sos – como se fos­se algum demé­ri­to ser­vir a Deus com exce­lên­cia em igre­ja local des­co­nhe­ci­da, sem pres­tí­gio huma­no, sem bada­la­ção e com pou­ca repercussão.

Não tenho nada con­tra quem can­ta boni­to na igre­ja, pelo con­trá­rio. Mas por que essa pes­soa obri­ga­to­ri­a­men­te teria de sair da igre­ja e ter um minis­té­rio reno­ma­do e reco­nhe­ci­do? Se todos que pre­gas­sem bem viras­sem pas­to­res ou mis­si­o­ná­ri­os, o que seria das nos­sas esco­las domi­ni­cais, das nos­sas reu­niões de ora­ção, das devo­ci­o­nais nas reu­niões dos minis­té­ri­os? O que faz de um homem ou de uma mulher uma pes­soa reco­nhe­ci­da como alguém de Deus não é o fato de ela orar alto e boni­to, mas sim se sua ora­ção, inde­pen­den­te­men­te da for­ma, é fei­ta com sin­ce­ri­da­de, como expres­são de uma vida ínte­gra e san­ti­fi­ca­da ao Senhor, den­tro e fora da igre­ja. O após­to­lo Pau­lo, ao expli­car a igre­ja usan­do a metá­fo­ra do cor­po, diz que todos são mem­bros de um mes­mo cor­po, cada um com seu sig­ni­fi­ca­do e impor­tân­cia para o pró­prio cor­po e para Deus, mas é Jesus a cabe­ça que rege esse cor­po, e esse sim mere­ce todo destaque.

Con­si­de­ro Ita­be­ra­ba uma igre­ja mui­to boa, exa­ta­men­te por­que temos mui­tos irmãos e irmãs com os mais dife­ren­tes dons, talen­tos e habi­li­da­des, empe­nhan­do tudo o que têm a ser­vi­ço do Rei­no. Como pas­tor, não espe­ro, não que­ro e não bus­co nenhum tipo de reco­nhe­ci­men­to. Aliás, até espe­ro que meu nome seja esque­ci­do com o pas­sar do tem­po e que ape­nas um nome seja lem­bra­do, por Seu caris­ma e per­so­na­li­da­de: Jesus, o Senhor da Igreja!

Pr Tiago Valentim

Com cari­nho e esti­ma pastoral,
Pr. Tia­go Valentin

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