Você pode chorar

Nee­mi­as 5:13”, por Sla­vu­jac (1996)

O iní­cio do livro de Nee­mi­as (Ne. 1:1–4) nos reve­la a fra­gi­li­da­de e as limi­ta­ções do ser huma­no. Jeru­sa­lém esta­va sob o domí­nio do Impé­rio Per­sa e mui­tos foram leva­dos à capi­tal do impé­rio, mas uma par­ce­la da popu­la­ção per­ma­ne­ceu na colô­nia. Alguns des­tes, ao visi­ta­rem Nee­mi­as que esta­va na capi­tal, rela­tam-lhe a situ­a­ção cala­mi­to­sa da Cida­de San­ta, em que só havia misé­ria e destruição.

Essa notí­cia para um judeu repre­sen­ta­va a mais pura des­gra­ça. A cida­de de Deus esta­va des­truí­da, o sím­bo­lo mai­or da fé de todo um povo esta­va em ruí­nas! Pode­mos ima­gi­nar qual seria essa dor se com­pa­rar­mos ao que sen­ti­ría­mos se che­gás­se­mos domin­go de manhã à nos­sa igre­ja e a encon­trás­se­mos des­truí­da. Mas, para Nee­mi­as e todos os judeus, mui­to mais do que a des­trui­ção físi­ca de Jeru­sa­lém, tal situ­a­ção repre­sen­ta­va um aba­lo na fé e na con­fi­an­ça em Deus. A dor que Nee­mi­as sen­tiu ao rece­ber a tris­te notí­cia do esta­do em que se encon­tra­va Jeru­sa­lém o fez sen­tar-se e cho­rar por alguns dias.

Pode­mos clas­si­fi­car a rea­ção de Nee­mi­as como nor­mal. Ele esta­va tris­te e exte­ri­o­ri­zou seu sen­ti­men­to por meio do lamen­to e do cho­ro. No entan­to, por incrí­vel que pare­ça, para mui­tos den­tro das igre­jas tal ati­tu­de – cho­rar e lamen­tar – é sinal de fra­que­za espi­ri­tu­al. E os mais “espi­ri­tu­ais” logo pode­ri­am dizer: “É o dia­bo que está agin­do na vida des­sa pessoa”.

Há den­tro de nos­sas igre­jas uma cor­ren­te que acre­di­ta que demons­tra­ções de fra­gi­li­da­de ou angús­tia nada mais são do que expres­sões cla­ras de fal­ta de fé ou pura­men­te uma ação demo­nía­ca na vida do indi­ví­duo. Tal pen­sa­men­to, além de equi­vo­ca­do, ser­ve exclu­si­va­men­te para opri­mir ain­da mais os atin­gi­dos. Afi­nal, não exis­te nada mais opres­sor ou demo­nía­co do que dizer a alguém que está tris­te que, se ele exte­ri­o­ri­zar esse sen­ti­men­to, esta­rá sen­do fra­co espiritualmente.

Nee­mi­as cho­rou por­que Deus per­mi­te que seus ser­vos, até os mais expres­si­vos como o pro­fe­ta em ques­tão, fiquem tris­tes e expres­sem seus sen­ti­men­tos das mais dife­ren­tes manei­ras, inclu­si­ve por meio de um cho­ro pro­fun­do, que lava a alma e põe a dor para fora. Não pode­mos nos esque­cer de que o pró­prio filho de Deus cho­rou, num momen­to de per­da e tristeza.

Entre­tan­to, quan­do olha­mos para Nee­mi­as per­ce­be­mos que ele não se entre­gou ao sofri­men­to. E esse é o gran­de segre­do para nós cris­tãos. Pode­mos cho­rar e sofrer, mas logo em segui­da temos de olhar para o autor e con­su­ma­dor de nos­sa fé, o Senhor dos Senho­res e Rei dos Reis: Jesus. Nee­mi­as, depois de cho­rar e lamen­tar, pas­sou a jeju­ar e orar, expon­do a Deus sua dor e indig­na­ção. Deve­mos pro­ce­der da mes­ma maneira.

Pode­mos cho­rar – e isso em hipó­te­se nenhu­ma deve ser inter­pre­ta­do como fal­ta de fé –, mas não pode­mos nun­ca nos entre­gar à dor e às decep­ções, que são ine­ren­tes à vida, pois nos­sa con­fi­an­ça e espe­ran­ça estão em Deus, que nos aco­lhe com nos­sas fra­gi­li­da­des para nos reno­var e dar um novo âni­mo para con­ti­nu­ar­mos caminhando.

Pr Tiago Valentim

Com cari­nho e esti­ma pastoral,
Pr. Tia­go Valentin

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