“Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (Mateus 3:17b).
No meu ponto de vista, o versículo que abre esta pastoral é uma das expressões mais enigmáticas da Bíblia. O contexto é o batismo de Jesus. Ele Se aproxima de Seu primo, o profeta João Batista, às margens do Rio Jordão. João hesita em batizá-Lo, por não se sentir digno, mas Jesus diz que tal ato é imprescindível para o Seu ministério. Na sequência dos acontecimentos, o impasse será esclarecido.
Pois bem, João aceita batizar seu primo mais novo. Jesus entra no rio, possivelmente, com a água até a cintura. João se posiciona e submerge Jesus. Quando ele sai da água, o cenário se modifica e o silêncio toma conta do lugar. De maneira extraordinariamente sobrenatural, o Espírito de Deus surge entre as nuvens em forma de pomba. Então o silêncio é quebrado por uma voz que diz: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado”. Uma frase relativamente curta, mas extremamente profunda e carregada de significado.
Primeiramente, Deus não chama Jesus de servo, de mestre, de senhor, mas O chama de Filho. Ou seja, Deus deixa claro em quais termos Se relaciona com Jesus. Há entre Eles uma relação de paternidade e filiação. Da mesma forma, é assim que Deus deseja relacionar-Se conosco. Ele não nos vê como servos, como membros da igreja, mas sim como filhos e filhas que são amados e amadas por seu Pai, assim como fez questão de deixar claro quando disse “meu Filho amado”.
Entender isso é maravilhoso, pois um filho ou uma filha jamais deixa de ser filho ou filha de seu pai. Não existe “ex-filho(a)”. Quando Deus opta por relacionar-Se conosco como Pai, Ele está dizendo que não há nada que possa nos separar d’Ele. Nem mesmo o pecado pode fazer isso, desde que o confessemos. O sentimento que liga um pai a um(a) filho(a) é exatamente o amor que gera o perdão, a paciência, o cuidado, o altruísmo.
Então temos a segunda parte da expressão proferida pelo Pai: “em quem me agrado”. Deus declara que Se agrada de Seu Filho, isto é, está satisfeito, está agradecido, está feliz com Seu Filho. Mas feliz com quê? O que Jesus tinha feito para o Pai Se agradar d’Ele? Isso é maravilhoso: Jesus não tinha feito absolutamente nada para deixar Seu Pai satisfeito. Deus Se agradou com o simples fato de Jesus ser Seu Filho – “só isso” e “tudo isso”!
Como eu disse anteriormente, seguindo os acontecimentos relatados no Evangelho, a hesitação de João e a insistência de Jesus se esclarecem. João não se sentia digno de batizar Jesus. Como ele mesmo disse, não se sentia digno nem mesmo de carregar as sandálias de Jesus (Mt 3:11). Mas o fato é que ninguém é digno de receber Jesus. Quando o Pai diz que já está satisfeito com o Filho antes mesmo que Ele tenha realizado qualquer milagre, pregação, ou tarefa, Deus está dizendo que é por causa de Seu amor, e não pelo que fazemos para Ele. Ou seja, o que tornou João digno de batizar o Cordeiro, o que nos torna dignos de receber Jesus em nossos corações é única e exclusivamente o amor do Pai.
Quando tomamos do corpo e do sangue de Jesus no sacramento da Ceia, renovamos, reforçamos e testemunhamos nossa filiação com o Pai. Não somos dignos, não merecemos, mas, por sermos Seus filhos(as) amados(as), Ele Se agrada com cada um e cada uma de nós.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin