Um dos relatos bíblicos que mais me causam consternação é o julgamento que levou Jesus à cruz, principalmente por causa do silêncio do Mestre diante daquela farsa. Como todos sabemos, Jesus estava sendo julgado injustamente; aquela reunião não passava de uma armação orquestrada pelo sumo sacerdote e pelo poder romano. Sim, também sabemos que era necessário que a profecia se cumprisse, mas, olhando do ponto de vista histórico, o julgamento de Jesus jamais deveria ter acontecido.
Ao fazermos a leitura do texto bíblico, ficamos profundamente indignados e certamente pensamos: “Que injustiça, que grande mentira!”; “Jesus, fale alguma coisa! Reaja!”. Nosso desejo natural é de que a justiça seja feita e, se Jesus tivesse falado mais do que “Tu o dizes”, talvez alguma coisa pudesse ter mudado.
Neste tempo de pandemia e quarentena que estamos enfrentando, um dos seus efeitos colaterais, se assim podemos chamar, é a superexposição da imagem, das opiniões e dos pontos de vista das pessoas nas diferentes redes sociais. Sim, há um excesso de informações e conteúdos, os quais, quase sempre, têm a profundidade de uma poça d’água. As pessoas têm necessidade de autopromoção da sua imagem e do seu nome. Possivelmente com o intuito de interagir e se fazerem notadas, elas falam o que devem e, literalmente, o que não devem. É certo que esse processo não é fruto da quarentena, mas certamente há uma ebulição sintomática nesse período em particular.
O que a postura de Jesus em Seu julgamento nos ensina? Primeiramente, é preciso dizer que Jesus tinha muito a dizer para os Seus acusadores. Sim, Ele tinha autoridade e legitimidade para Se defender e, a princípio, não seria difícil reverter aquele quadro com base em argumentos. Contudo, o silêncio de Jesus foi o barulho, a opinião, o argumento mais ensurdecedor que o sinédrio poderia ouvir. Ao silenciar-Se, Jesus estava dizendo que não Se justificaria para não rebaixar-Se ao nível dos Seus acusadores, e também que não faria parte daquela farsa. Jesus nos ensina que, quando as pessoas não querem ouvir (como era o caso dos Seus acusadores), não há nada a ser dito. Ele também nos ensina que fazer a vontade de Deus por vezes pode nos causar prejuízos, perdas e injustiças. Ao Se calar, contudo, Jesus fez cumprir a profecia que ecoava há séculos.
Não estou dizendo que você não pode emitir suas opiniões nas suas redes sociais, longe disso. Afinal, cada um de nós responde por suas próprias opiniões e pela exposição delas. Mas eu o(a) convido a pensar sobre algumas coisas:
- Primeiro, será que de fato uma frase, um post, ou um texto publicado na internet revelam a inteireza de quem você é? Muitas vezes somos julgados e, em alguns casos, execrados por uma frase isolada. Veja bem se faz sentido dar o direito a pessoas que não conhecemos – e, principalmente, que não nos conhecem – de fazer juízo de valor sobre o nosso caráter baseadas em 150 caracteres.
- Segundo, se você quer se fazer conhecido, se você quer ser ouvido, a melhor forma de isso ocorrer é relacionando-se de verdade com as pessoas, estabelecendo vínculos de intimidade e compromisso que o(a) levarão a crescer e a fazer o outro crescer.
- Terceiro e mais importante, se você deseja fazer justiça, busque duas coisas: equilíbrio entre as suas postagens e as suas atitudes e coerência entre o que você opina e o que você faz efetivamente para promover justiça.
Não tenho a intenção nem tampouco a prepotência de esgotar esse tema. Por isso, finalizo com uma frase da escritora evangélica Yla Fernandes, para continuarmos pensando juntos: “O som da palavra é lindo, mas a sabedoria do silêncio é perfeita”.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin