Não vou mais à igreja!” Mas que igreja?

Já abor­dei esse tema outras vezes aqui na pas­to­ral do nos­so Boin, mas o cená­rio insis­te em se repe­tir: gen­te que­ren­do aban­do­nar o bar­co! E por que falar nova­men­te sobre a ideia ou inten­ção de algu­mas pes­so­as de não irem mais à igre­ja? Por­que nes­te momen­to temos um ingre­di­en­te novo: não há igre­ja para a qual não ir!

Recen­te­men­te tive de ouvir nova­men­te (em tom de ame­a­ça, como na mai­o­ria das vezes) a seguin­te fra­se: “Pas­tor, eu não vou mais à igre­ja!”. Con­fes­so que des­ta vez foi difí­cil me con­ter, mas feliz­men­te con­se­gui, pois na mes­ma hora eu pen­sei: “Ir a qual igre­ja, se a nos­sa está fecha­da?”. Ouvi de outra pes­soa que nin­guém tele­fo­na para ela a fim de saber como ela está. Além de saber que a afir­ma­ção não é ver­da­dei­ra, mais uma vez eu me peguei refle­tin­do: “Será que essa pes­soa, que tan­to dese­ja rece­ber tele­fo­ne­mas, cos­tu­ma ligar para outras pessoas?”.

Creio que essas situ­a­ções e outras simi­la­res estão liga­das dire­ta ou indi­re­ta­men­te aos efei­tos cola­te­rais do dis­tan­ci­a­men­to soci­al. Em suma, o que as pes­so­as que­rem é rece­ber aten­ção. E isso é legi­ti­mo. Afi­nal, quem nun­ca se sen­tiu sozi­nho ou esque­ci­do em algum momen­to des­ta pan­de­mia? Creio que a gran­de mai­o­ria das pes­so­as, com inten­si­da­de e frequên­cia dife­ren­tes, sen­tiu fal­ta da famí­lia, dos ami­gos ou dos irmãos e irmãs da igre­ja. Mas pre­ci­sa­mos pen­sar sobre alguns aspectos.

Pri­mei­ro, que­ro exter­nar minha frus­tra­ção em rela­ção a uma expec­ta­ti­va par­ti­cu­lar, com­par­ti­lha­da por mui­tos, de que, duran­te a pan­de­mia, mui­tas pes­so­as iri­am rever sua for­ma de viver, suas pri­o­ri­da­des, seus sen­ti­men­tos, e enten­de­ri­am esta fase como uma gran­de chan­ce de ama­du­re­cer. Pois é, em geral o que tenho vis­to é que pon­tos nega­ti­vos e pon­tos posi­ti­vos se acen­tu­a­ram nas pes­so­as. Quan­do obser­va­mos o que se inten­si­fi­cou de posi­ti­vo nelas, per­ce­be­mos que real­men­te hou­ve um avan­ço. Mas con­cluir que quem era pre­po­ten­te pas­sou a sê-lo mais ain­da, quem era ava­ren­to pio­rou e quem era ins­tá­vel ficou mais volú­vel do que nun­ca é um tan­to triste.

O que que­ro dizer com isso? Quem afir­ma que não irá mais à igre­ja já pen­sa­va, já dizia isso antes da pan­de­mia; e o com­por­ta­men­to de quem exi­gia a aten­ção dos outros, mas pou­co fazia na dire­ção do pró­xi­mo, só se agra­vou na qua­ren­te­na. Cos­tu­mo dizer, em tom de brin­ca­dei­ra, que, se o pró­prio Jesus fos­se o pas­tor da igre­ja, ain­da assim a pes­soa diria: “Não vou mais à igre­ja”. Se Jesus, Ele pró­prio, ligas­se para essa pes­soa, tal­vez ouvis­se o seguin­te: “É, Jesus, só você me ligou. Mas e o Pai? E o Espí­ri­to Santo?”.

Ou seja, são pes­so­as insa­tis­fei­tas con­si­go mes­mas e, con­se­quen­te­men­te, com o mun­do. Por­tan­to, nenhu­ma igre­ja aten­de­rá suas expec­ta­ti­vas nem todos os tele­fo­ne­mas do mun­do serão sufi­ci­en­tes para suprir suas neces­si­da­des. A úni­ca solu­ção é que elas se resol­vam com Deus. Sim, com Deus, pois, enquan­to Ele não for tudo na vida des­sas pes­so­as, sem­pre have­rá insa­tis­fa­ção, frus­tra­ção, vazio, incons­tân­cia e imaturidade.

O con­se­lho do após­to­lo Pau­lo para a igre­ja em Éfe­so é: “Enchei-vos do Espí­ri­to” (Ef 5:18). Logo, se há a reco­men­da­ção para nos encher­mos do Espí­ri­to, é por­que esta­mos vazi­os d’Ele. Sen­do assim, nos­sa cami­nha­da com Deus deve ser pro­gres­si­va e con­tí­nua. Há sem­pre coi­sas novas e pro­fun­das a serem tra­ta­das por Deus em nos­sa exis­tên­cia. Quem não bus­ca nem dese­ja mais de Deus traz pre­juí­zo para si mes­mo e, o mais gra­ve, tor­na-se uma pes­soa infeliz.

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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