No silêncio, Tu estás

O Silên­cio de Deus”, por Tony Henson

Há um dado da his­to­ri­ci­da­de bíbli­ca que nos cha­ma mui­to a aten­ção: dos últi­mos escri­tos do Anti­go Tes­ta­men­to até os pri­mei­ros rela­tos do Novo Tes­ta­men­to, pas­sa­ram-se 400 anos. Algu­mas edi­ções da Bíblia têm uma pági­na em bran­co divi­din­do os blo­cos do Anti­go e do Novo Tes­ta­men­to. É como se essa pági­na cor­res­pon­des­se a 400 anos. Há um vácuo de tem­po entre Mala­qui­as e Mateus.

Den­tro da teo­lo­gia bíbli­ca, esses anos são cha­ma­dos de Perío­do Inter­tes­ta­men­tá­rio, ou “400 anos de silên­cio”, por­que nes­sa fase não há nenhum escri­to pro­fé­ti­co. Mas Deus teria fica­do mes­mo em silên­cio duran­te 400 anos? Não sei quan­to a você, mas mui­tas vezes é assim que me sin­to: há momen­tos em que tenho a cer­te­za de que Deus se calou.

Cer­ta­men­te, uma das mar­cas des­sa pan­de­mia que esta­mos enfren­tan­do é o uso inten­so, e em alguns casos exces­si­vo, da tec­no­lo­gia. Apli­ca­ti­vos, pla­ta­for­mas, pro­gra­mas e redes soci­ais são todos recur­sos tec­no­ló­gi­cos que visam faci­li­tar e agi­li­zar a comu­ni­ca­ção. Con­tu­do, algu­mas vezes fica­mos com a sen­sa­ção de que per­de­mos o direi­to de nos calar, de sim­ples­men­te silen­ci­ar. Aliás, uma das fer­ra­men­tas de um apli­ca­ti­vo de tro­ca de men­sa­gens é essa: “Silen­ci­ar o gru­po”. Mas, quan­do alguém faz isso, é logo jul­ga­do como anti­pá­ti­co. Vive­mos uma espé­cie de dita­du­ra do ime­di­a­tis­mo. Se você rece­beu uma men­sa­gem e visu­a­li­zou, tem que res­pon­der na hora.

Em tem­pos nos quais nin­guém quer espe­rar por uma res­pos­ta, não há nada mais afli­ti­vo do que o silên­cio, quan­to mais um silên­cio de 400 anos! É cla­ro que dizer que Deus ficou 400 anos em silên­cio é uma cla­ra for­ça de expres­são. É cer­to que Ele fala sem abrir Sua boca, pois comu­ni­ca Seu amor e gra­ça de manei­ra prá­ti­ca e con­cre­ta todos os dias. Ape­nas para citar uma de mui­tas ilus­tra­ções, “as mise­ri­cór­di­as do Senhor são a cau­sa de não ser­mos con­su­mi­dos” (Lm 3:20); ou seja, todos os dias Deus nos “diz” que nos ama por meio da Sua mise­ri­cór­dia e, por isso, não somos aniquilados.

O Perío­do Inter­tes­ta­men­tá­rio refe­re-se a um fato espe­cí­fi­co: Deus não falou dire­ta­men­te com alguém ou por alguém duran­te aque­les anos. Sim, era um tem­po de silên­cio de “pala­vras”, como o pró­prio Deus adver­tiu ou acon­se­lhou por meio do autor de Ecle­si­as­tes: “Há tem­po […] de estar cala­do, e tem­po de falar” (Ec 3:7). Sim, há mui­tos momen­tos em que o silên­cio é algo extre­ma­men­te sau­dá­vel, neces­sá­rio, tera­pêu­ti­co e peda­gó­gi­co. O fato de Deus “ter-Se silen­ci­a­do” não alte­rou quem Ele era e mui­to menos Suas pro­mes­sas eter­nas. O silên­cio de Deus pro­va nos­sa fé, esti­mu­la nos­sa con­fi­an­ça e exer­ci­ta nos­sa perseverança.

Pre­ci­sa­mos apren­der com Deus que mui­tas vezes a melhor res­pos­ta é o silên­cio. Pre­ci­sa­mos apren­der que ficar em silên­cio aqui­e­ta nos­sa alma. Pre­ci­sa­mos apren­der que não somos obri­ga­dos a dar todas as res­pos­tas no exa­to momen­to em que as pes­so­as acham que devem rece­bê-las. E, o mais impor­tan­te, pre­ci­sa­mos con­fi­ar que, mes­mo que Deus este­ja em silên­cio, Ele nun­ca está cala­do. “Aqui­e­tai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Sl 40:10a).

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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