Um silêncio ensurdecedor

Jesus Condenado pelo Sinédrio

Jesus Con­de­na­do pelo Siné­drio”,
por Micha­el O’Brien (2005)

Um dos rela­tos bíbli­cos que mais me cau­sam cons­ter­na­ção é o jul­ga­men­to que levou Jesus à cruz, prin­ci­pal­men­te por cau­sa do silên­cio do Mes­tre dian­te daque­la far­sa. Como todos sabe­mos, Jesus esta­va sen­do jul­ga­do injus­ta­men­te; aque­la reu­nião não pas­sa­va de uma arma­ção orques­tra­da pelo sumo sacer­do­te e pelo poder roma­no. Sim, tam­bém sabe­mos que era neces­sá­rio que a pro­fe­cia se cum­pris­se, mas, olhan­do do pon­to de vis­ta his­tó­ri­co, o jul­ga­men­to de Jesus jamais deve­ria ter acontecido.

Ao fazer­mos a lei­tu­ra do tex­to bíbli­co, fica­mos pro­fun­da­men­te indig­na­dos e cer­ta­men­te pen­sa­mos: “Que injus­ti­ça, que gran­de men­ti­ra!”; “Jesus, fale algu­ma coi­sa! Rea­ja!”. Nos­so dese­jo natu­ral é de que a jus­ti­ça seja fei­ta e, se Jesus tives­se fala­do mais do que “Tu o dizes”, tal­vez algu­ma coi­sa pudes­se ter mudado.

Nes­te tem­po de pan­de­mia e qua­ren­te­na que esta­mos enfren­tan­do, um dos seus efei­tos cola­te­rais, se assim pode­mos cha­mar, é a supe­rex­po­si­ção da ima­gem, das opi­niões e dos pon­tos de vis­ta das pes­so­as nas dife­ren­tes redes soci­ais. Sim, há um exces­so de infor­ma­ções e con­teú­dos, os quais, qua­se sem­pre, têm a pro­fun­di­da­de de uma poça d’água. As pes­so­as têm neces­si­da­de de auto­pro­mo­ção da sua ima­gem e do seu nome. Pos­si­vel­men­te com o intui­to de inte­ra­gir e se faze­rem nota­das, elas falam o que devem e, lite­ral­men­te, o que não devem. É cer­to que esse pro­ces­so não é fru­to da qua­ren­te­na, mas cer­ta­men­te há uma ebu­li­ção sin­to­má­ti­ca nes­se perío­do em particular.

O que a pos­tu­ra de Jesus em Seu jul­ga­men­to nos ensi­na? Pri­mei­ra­men­te, é pre­ci­so dizer que Jesus tinha mui­to a dizer para os Seus acu­sa­do­res. Sim, Ele tinha auto­ri­da­de e legi­ti­mi­da­de para Se defen­der e, a prin­cí­pio, não seria difí­cil rever­ter aque­le qua­dro com base em argu­men­tos. Con­tu­do, o silên­cio de Jesus foi o baru­lho, a opi­nião, o argu­men­to mais ensur­de­ce­dor que o siné­drio pode­ria ouvir. Ao silen­ci­ar-Se, Jesus esta­va dizen­do que não Se jus­ti­fi­ca­ria para não rebai­xar-Se ao nível dos Seus acu­sa­do­res, e tam­bém que não faria par­te daque­la far­sa. Jesus nos ensi­na que, quan­do as pes­so­as não que­rem ouvir (como era o caso dos Seus acu­sa­do­res), não há nada a ser dito. Ele tam­bém nos ensi­na que fazer a von­ta­de de Deus por vezes pode nos cau­sar pre­juí­zos, per­das e injus­ti­ças. Ao Se calar, con­tu­do, Jesus fez cum­prir a pro­fe­cia que eco­a­va há séculos.

Não estou dizen­do que você não pode emi­tir suas opi­niões nas suas redes soci­ais, lon­ge dis­so. Afi­nal, cada um de nós res­pon­de por suas pró­pri­as opi­niões e pela expo­si­ção delas. Mas eu o(a) con­vi­do a pen­sar sobre algu­mas coisas:

  • Pri­mei­ro, será que de fato uma fra­se, um post, ou um tex­to publi­ca­do na inter­net reve­lam a intei­re­za de quem você é? Mui­tas vezes somos jul­ga­dos e, em alguns casos, exe­cra­dos por uma fra­se iso­la­da. Veja bem se faz sen­ti­do dar o direi­to a pes­so­as que não conhe­ce­mos – e, prin­ci­pal­men­te, que não nos conhe­cem – de fazer juí­zo de valor sobre o nos­so cará­ter base­a­das em 150 caracteres.
  • Segun­do, se você quer se fazer conhe­ci­do, se você quer ser ouvi­do, a melhor for­ma de isso ocor­rer é rela­ci­o­nan­do-se de ver­da­de com as pes­so­as, esta­be­le­cen­do vín­cu­los de inti­mi­da­de e com­pro­mis­so que o(a) leva­rão a cres­cer e a fazer o outro crescer.
  • Ter­cei­ro e mais impor­tan­te, se você dese­ja fazer jus­ti­ça, bus­que duas coi­sas: equi­lí­brio entre as suas pos­ta­gens e as suas ati­tu­des e coe­rên­cia entre o que você opi­na e o que você faz efe­ti­va­men­te para pro­mo­ver justiça.

Não tenho a inten­ção nem tam­pou­co a pre­po­tên­cia de esgo­tar esse tema. Por isso, fina­li­zo com uma fra­se da escri­to­ra evan­gé­li­ca Yla Fer­nan­des, para con­ti­nu­ar­mos pen­san­do jun­tos: “O som da pala­vra é lin­do, mas a sabe­do­ria do silên­cio é perfeita”.

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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