No início do livro de Atos dos Apóstolos, encontramos o relato de que os discípulos estavam reunidos em Jerusalém, aguardando o cumprimento da promessa, enquanto ocorria a festa de Pentecostes. Eles oravam num cenáculo quando o Espírito Santo se manifestou. Línguas de fogo pousaram sobre suas cabeças e eles começaram a falar em outras línguas (At 2).
Depois desse episódio, a Igreja tomou forma e passou a exercer seu papel profético no mundo de maneira efetiva. Ao longo do tempo, a Igreja foi ganhando contornos e formatos específicos, dependendo da denominação. Aquelas que diziam dar ênfase e liberdade à ação do Espírito Santo se autorrotularam pentecostais, fazendo referência ao episódio do Pentecostes bíblico. O problema dos rótulos é que eles são limitados e infiéis. Um rótulo não é capaz de expressar plenamente o conteúdo de algo e muitas vezes indica ser uma coisa quando é outra. Por isso, ao dizermos que uma igreja é tradicional, progressista ou pentecostal, nunca somos capazes de indicar de fato como ela é, se é que é mesmo uma igreja!
Mas seriam algumas igrejas pentecostais e outras não? Na verdade, o problema reside no conceito “pentecostal”. Ser pentecostal não significa estritamente dar liberdade para a ação do Espírito Santo, pois, sem a presença d’Ele, simplesmente não seríamos capazes nem mesmo de ser cristãos. Isso também se aplica à igreja, que, sem a presença do Espírito Santo, não seria uma igreja, tendo em vista que não é possível ser igreja sem Aquele que a capacita e a sustenta. Por isso, podemos dizer que, se ser pentecostal é dar liberdade para o Espírito Santo, não existe igreja que não seja pentecostal. O conflito, portanto, está no que as pessoas entendem por pentecostal ou por evidência da ação do Espírito Santo. O problema aqui são os estereótipos.
O que vemos no texto de Atos 2 é que a grande evidência da ação do Espírito Santo na vida da igreja é a comunhão, a capacidade de falar uma mesma língua, o meio pelo qual podemos ser de fato uma comunidade, uma igreja. Por se tratar de uma festa que envolvia povos de diversas regiões, que falavam idiomas distintos, o Pentecostes reuniu em Jerusalém muita gente diferente. Contudo, ao agir sobrenaturalmente na vida dos discípulos e de outras pessoas ali, o Espírito Santo possibilitou que aqueles indivíduos pudessem dialogar e se entender, ainda que falassem línguas diversas.
Mas o que ocorre em muitas comunidades é que elas deixam de enfatizar e buscar a presença do Espírito Santo, o que descaracteriza a essência de uma igreja. Desejar o avivamento de Deus sobre nós é o mesmo que desejarmos ser igreja. Após a descida do Espírito Santo em Jerusalém, surgiu o que chamamos de comunidade cristã primitiva. A grande marca dessa primeira comunidade era a comunhão, um ambiente fraterno, solidário, relacional, gerando uma consequência inevitável: Deus passou a enviar pessoas para aquela comunidade. “Acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:47b).
Não devemos ficar preocupados com falsos estereótipos de que ser pentecostal é ser alienado, histérico, imaturo. Os primeiros metodistas também sofreram com preconceitos. Por causa de sua vida piedosa e devota, eram chamados de santos, metódicos, carolas. O fato é que eles estavam vivendo um grande e impactante avivamento.
Que nossa oração seja: “Vem sobre nós, Espírito Santo, para que possamos ser verdadeiramente uma igreja”.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin