Sempre fez parte da fé judaica separar lugares, datas, territórios, objetos e utensílios para dedicá-los a Javé. Sagrados eram os utensílios usados no templo, e santo era o lugar onde Deus se mostrava. Até hoje a Palestina é chamada de “Terra Santa”, e muitos buscam pisar lá, batizar-se lá, e quando isso não é possível, trazem pedra, água e o óleo de lá.
O Tabernáculo era dividido em zonas de exclusão, onde somente os separados podiam entrar. O Pentateuco proibia até mesmo pessoas possuidoras de algum defeito físico – tais como anão, caolho, manco — adentrar naqueles lugares, pois essas pessoas eram consideradas impuras. Igualmente impuros eram os estrangeiros, os mortos, os leprosos, os que tinham hemorragia e também todos que tocassem neles.
Quando Jesus vem, Ele dá uma reviravolta nesses entendimentos. Ele se deixa tocar por uma mulher hemorrágica, toca em defuntos, pega em leprosos. Ao invés de ser contaminado, a sua presença santifica e descontamina. Em Jesus, sagrado já não é mais só o espaço físico do templo, nem só o altar, mas todo o lugar onde está presente um filho de Deus. Em Cristo, já não há mais necessidade de se ungir os utensílios do templo, nem os instrumentos musicais, pois não é o “objeto” que precisa ser separado, mas quem o usa. E todos os que verdadeiramente possuem o Espírito Santo o são: “vós tendes a unção” (1Jo 2.20).
Na Nova Aliança não se unge nem quartos, nem apartamentos, nem carros, pois onde estiver um filho de Deus, tudo o que ele possui, já é abençoado. É difícil imaginar Jesus entrar na casa da sogra de Pedro, que estava enferma, e ungir aquele quarto, ou chegar na casa de Jairo e orar contra o espírito de morte que havia na casa. Em ambos os casos Jesus se dirigiu às pessoas.
Por que não se unge mais objetos e lugares? É simples: para nós, todos os dias são santificados, os lugares mais comuns podem ser sagrados, e as coisas cotidianas da vida também. Não há mais dia, nem hora, nem lugar para cultuar a Deus.
Jesus veio à terra na forma humana, viveu como homem, realizava tarefas diárias como todo ser humano, amarrava as suas sandálias, ajeitava o cinto, sentia sono, fome, entristecia-se, chorava e também ia às festas e se alegrava… enfim, viveu uma vida “no mundo” como todos nós. Porém, Jesus imprimiu um aspecto sagrado, santo, ao ordinário, ao comum. Não há aspecto cotidiano que Deus não possa consagrar.
Alimentos? Recebidos com ações de graça nada é recusável, ou seja, pela oração todos os alimentos são santificados (1Tm 4.4).
Filhos? Paulo diz que pelo convívio com a mãe crente eles são santos (1 Co 7.14).
Lugar de culto? Não importa – onde houver dois ou três reunidos em nome de Cristo, até a abóbada celeste se transforma numa catedral.
Terra santa? Não fica no Oriente Médio, mas exatamente aí onde pisa a planta dos teus pés.
O Altar é sagrado? Sim, tanto quanto a sala de sua casa quando a família se reúne para almoçar.
Instrumentos? Não há instrumentos profanos, seja atabaque, pandeiro, cuíca ou berimbau. Se forem usados para glorificar a Deus serão tão sagrados quanto o piano.
Desligar o nosso cotidiano de Deus e não santificar a vida é torná-la profana. Pense nisto. “Na verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não sabia”. Sim, Deus está aí do seu lado enquanto lê esta matéria.
Pr. Daniel Rocha