Quase sempre que nos deparamos com o desafio de viver em santidade somos remetidos à ideia de que isso é impossível e que, de alguma maneira, os relatores da Bíblia se equivocaram ou exageraram quando disseram que tínhamos de ser santos como Jesus é santo. Contudo, cremos que tudo que está na Bíblia foi inspirado pelo Espírito de Deus e que deve e pode ser praticado. E isso inclui a santidade.
Quando dizemos que a santidade está ao nosso alcance, não estamos querendo com isso esvaziar sua importância ou relativizar sua busca, mas apenas levar ao entendimento de que viver em santidade é possível e necessário. Dizer que temos de ser santos quase sempre causa impacto na vida das pessoas e um certo sentimento de recusa. Isso ocorre pela equivocada interpretação que alguns dão à santidade, dizendo que ela é tão somente o cumprimento burocrático de uma série de regras e doutrinas pretensamente inspiradas em preditos bíblicos. E também porque a santidade tem como base uma mudança de vida; é a busca pela morte da nossa carne e vivificação do nosso espírito, o que de fato é desafiador.
Biblicamente, a palavra “santo” (no hebraico qadox), significa, segundo os estudiosos, “separado por Deus”. Assim, eles veem uma analogia entre as palavras qadox (santo, separado) e hodex (novo). Com isso, o significado de “santo” se ampliaria para “separado do velho”. Ou seja, “santidade” seria “novidade de vida”.
A melhor definição de santidade que me foi apresentada até hoje é a defendida pelo bispo metodista Paulo Lockman: “A santificação bíblica não é conhecer uma série de preceitos, mas praticar a vontade de Deus (…). Também podemos dizer que a santidade bíblica se manifesta em nossa vida de duas formas: a santidade pessoal e a santidade social comunitária. Embora sejam de dimensões diferentes, uma não existe sem a outra”.
Portanto, santidade vai além de um mero cumprimento de costumes ou regras impostos pela doutrina de uma igreja. Ser santo é ser escolhido ou separado por Deus para santificar o mundo. Deus não criou o ser humano para ser um fim em si mesmo, um ser inerte, que deseja só receber o tempo todo. Na verdade, somos um canal da ação transformadora do Espírito Santo.
A santidade de Deus é o modelo e o critério para o esforço do ser humano em tornar-se santo. É nesse momento que Deus desafia as pessoas a serem santas, como Ele é santo (Lv. 19:1–4). Assim, a Bíblia amplia o conceito de santidade ao deixar de enfatizar a visão de que santidade seria uma propriedade exclusiva de Deus para desafiar o ser humano a imitar o divino. Surge, assim, a ideia de ser separado para servir, na prática do amor, da bondade, e no caminhar com Ele. (Mq. 6:8).
Sim, a santidade está ao nosso alcance, pois quem a promove é o próprio Deus. Ele não se coloca apenas como parâmetro, mas como executor dessa obra de transformação. A nós nos cabe viver em contrição, quebrantamento e temor diante da santidade do Senhor.
Do amigo e pastor,
Pr. Tiago Valentin