Com saudade da Lei?

Faz par­te da natu­re­za huma­na a bus­ca por conhe­cer seus limi­tes, e isso se dá des­de a infân­cia. A cri­an­ça quer saber até onde pode ir, pois ain­da não com­pre­en­de quais são suas limi­ta­ções ou o peri­go de suas emprei­ta­das. Por exem­plo, quan­do fala­mos a um peque­ni­no para não se apro­xi­mar do fogo, ele enten­de, mas quer saber qual é o pon­to-limi­te des­sa apro­xi­ma­ção. Então che­ga um pou­co mais per­to, e mais per­to, e mais per­to, até que não supor­te mais ou aca­be se quei­man­do. De qual­quer for­ma, a cri­an­ça apren­de que há um limite.

Expe­ri­ên­ci­as como essa se dão ao lon­go de toda a nos­sa vida. Esta­mos sem­pre tes­tan­do nos­sos dife­ren­tes limi­tes, mas algo den­tro de nós dese­ja que alguém nos sina­li­ze até onde pode­mos che­gar. Cer­ta­men­te, esse é um dos gran­des atra­ti­vos da reli­gião, pois toda for­ma de fé pos­sui um deter­mi­na­do catá­lo­go de obri­ga­ções e deli­mi­ta­ções no modo de pro­ce­der de seus adeptos.

Quan­do estu­da­mos o cris­ti­a­nis­mo, somos reme­ti­dos às nos­sas ori­gens de fé, que desem­bo­cam na tra­di­ção judai­ca, em que a Lei desem­pe­nha um papel fun­da­men­tal. Lei nada mais é do que algo que nor­ma­ti­za ou mode­la uma ação ou com­por­ta­men­to. Por­tan­to, no tem­po bíbli­co da Lei, as regras ins­ti­tuí­das por Deus deter­mi­na­vam o pro­ce­der do Seu povo. A inten­são do legis­la­dor divi­no era, antes de tudo, pre­ser­var o povo. Por isso, a Lei era boa e, sen­do pra­ti­ca­da, acar­re­ta­ria bên­çãos do Senhor. Mas, como bem conhe­ce­mos sobre a his­tó­ria do povo de Deus, não foi exa­ta­men­te assim que ocor­reu. Por con­ta da deso­be­di­ên­cia à Lei e a Seu Cri­a­dor, o povo pere­ceu diver­sas vezes. Mas por que o povo que­bra­va a Lei? Como dis­se­mos, o ser huma­no quer o tem­po todo conhe­cer seus limi­tes e o que aca­ba acon­te­cen­do é que tais limi­tes mui­tas vezes são ultrapassados.

Deus espe­ra­va obe­di­ên­cia de Seus filhos e filhas não para pro­var que man­da em Sua cri­a­ção, mas por­que Ele a ama e dese­ja o melhor para ela. Con­tu­do, a lin­gua­gem da Lei não foi capaz de trans­mi­tir ao ser huma­no o amor de Seu Cri­a­dor. Por isso, Ele pró­prio veio ao mun­do para cum­prir a Lei e mos­trar que é pos­sí­vel viver em obe­di­ên­cia a ela. Em Jesus, temos a apli­ca­ção da Lei pelo viés da Gra­ça, pois, para o Seu Pai, a vida está aci­ma de tudo e a Lei está a ser­vi­ço da vida. Essa expres­são de amor da par­te de Deus foi tão cons­tran­ge­do­ra, inques­ti­o­ná­vel e sem pre­ce­den­tes que transpôs toda impo­si­ção legal de obe­di­ên­cia. A par­tir de Jesus, só temos de obe­de­cer por­que sen­ti­mos o amor de Deus e res­pon­de­mos a esse amor com obediência.

Tra­ta­mos de duas rea­li­da­des bem dis­tin­tas: a Lei e a Gra­ça. Ambas que­rem expres­sar o amor de Deus, mas viver na Lei é mui­to mais fácil do que viver da Gra­ça. Se eu cum­pro a Lei, já estou em obe­di­ên­cia; mas, na Gra­ça, não adi­an­ta pra­ti­car a Lei em suas mais espe­cí­fi­cas minú­ci­as se eu não esti­ver fazen­do isso por amar a Deus. Era exa­ta­men­te o que acon­te­cia com mui­tos fari­seus. Eles pra­ti­ca­vam a Lei cabal­men­te, mas não o fazi­am pela moti­va­ção cor­re­ta. Deus envi­ou Seu Filho para que os seres huma­nos O obe­de­ces­sem pela moti­va­ção cor­re­ta – o amor –, e não sim­ples­men­te para cum­prir leis fri­as e vazi­as, que se tor­na­ram veí­cu­lo de opres­são e exclusão.

Pode pare­cer estra­nho afir­mar que é mais fácil viver na Lei do que na Gra­ça, mas isso se tor­na ver­da­de à medi­da que reco­nhe­ce­mos que é mui­to mais fácil cum­prir um mon­te de regri­nhas e pron­to do que ter uma vida vol­ta­da para o amor de Deus ple­na, gra­tui­ta e espon­ta­ne­a­men­te. Não fomos cri­a­dos ape­nas para cum­prir uma lei, mas para nos rela­ci­o­nar­mos com nos­so Cri­a­dor e amá-Lo. Não adi­an­ta ser­mos cum­pri­do­res de dou­tri­nas, regras e pre­cei­tos lega­lis­tas para agra­dar a Deus, pois sacri­fí­ci­os agra­dá­veis a Deus são o espí­ri­to que­bran­ta­do e o cora­ção com­pun­gi­do e con­tri­to (Sl 51:17).

Pr Tiago Valentim

Do ami­go e pastor,
Pr. Tia­go Valentin

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