“Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade e os lançarão na fornalha acesa” (Mt. 13:41–42).
Encerramos a pastoral do último domingo perguntando se somos mesmo uma versão gospel da Santa Inquisição. A resposta é que, infelizmente, em muitos momentos somos, sim. Julgamos, condenamos e excluímos aqueles que pensam, agem e são diferentes da maioria, tudo com a justificativa de que a pessoa não cumpre as exigências predefinidas no inconsciente coletivo do que é ser santo.
Muitas vezes, usa-se a passagem bíblica da parábola do joio e do trigo para justificar essas medidas excludentes que pessoas e grupos da igreja adotam. Diz-se então: “Temos de separar o joio do trigo dentro da igreja. Não podemos deixar que uns poucos contaminem o grupo”. Infelizmente esse texto bíblico é interpretado e aplicado erroneamente, pois a informação mais importante nessa parábola é que o senhor da plantação, ou o Filho do Homem, é quem tem o encargo e a autoridade para separar o joio do trigo. É Ele quem dá ordem a seus anjos para que, a seu comando e instrução, separem justos e injustos. Portanto, não cabe a ninguém julgar ou fazer separação, a não ser o próprio Deus, o Senhor da Igreja.
Mas como lidar com pessoas que tenham atitudes e comportamentos pecaminosos dentro da igreja? Primeiro e mais importante é nunca julgar, simplesmente porque não temos essa incumbência. A palavra de Deus nos orienta para que, antes de apontarmos para o argueiro ou cisco no olho do nosso irmão, olhemos para a trave que há no nosso (Mt. 7:3). Ou seja, devemos nos preocupar com nossas próprias atitudes, e não com as do nosso irmão, pois cada um terá de prestar contas a Deus por suas próprias escolhas. Apontamos o dedo, criticamos e julgamos os outros, mas temos dificuldade de olhar para dentro de nós mesmos e ver aquilo que precisa ser mudado. Isso porque é muito mais fácil e cômodo dizermos que o outro é que está errado e tem de mudar do que reconhecermos nossas limitações e fraquezas e nos atermos a elas, pedindo a Deus que nos molde e nos transforme.
Sem dúvida, há muitas pessoas que precisam de ajuda para reconhecer e mudar aquilo que desagrada a Deus. É para essas situações que o apóstolo Paulo ensina que devemos exortar uns aos outros em amor (Hb. 10.24–25), sem nos esquecermos de que quem convence do pecado é o Espírito Santo. A igreja sendo um só corpo, devemos querer que todos os membros estejam bem. Estamos ligados uns aos outros e, por isso, se há algo acontecendo dentro da igreja que desagrada à vontade de Deus, precisa ser exposto e tratado, sempre em amor, para que a cura seja alcançada plenamente e, assim, todo o corpo seja beneficiado.
Que Deus nos perdoe pelas muitas vezes que julgamos aqueles que, já condenados pelo pecado, não sentiram nosso amor e solidariedade. Oremos para que Deus tire do nosso meio todos os preconceitos e faça de nós portadores e propagadores da Sua graça.
Com carinho e estima pastoral,
Pr. Tiago Valentin