Quem conhece e entende o verdadeiro sentido do Natal – o nascimento de Jesus, o Filho de Deus – sabe o quanto essa data vem sendo deturpada, ano após ano. Natal virou sinônimo de fôlego para o comércio. Se, durante o ano todo, as vendas não foram boas, agora é a hora de recuperar o prejuízo; consumir desenfreadamente é a “ordem” do momento; e, para alguns, infelizmente, o dia 25 de dezembro não passa de um feriado qualquer, durante o qual têm a oportunidade de se embebedar, se drogar e se prostituir.
Hoje, como há 2 mil anos, Jesus nasce na contramão da história. No tempo de Jesus, e em qualquer outro tempo, um futuro rei jamais nasceria num curral; um verdadeiro rei não seria frágil como um bebê. Mas, quando Ele nasceu, o Reino de Deus foi anunciado; o nascimento do Messias sinalizava o renovo da esperança e o início de um novo tempo. No capítulo 9 de Isaías, a profecia diz que, por meio de um menino recém-nascido, poder e autoridade se manifestariam e a vontade de Deus se realizaria dessa maneira. Com a vinda de Jesus, cumpriu-se a promessa.
Temos todo o contexto da gravidez de Maria e a aceitação de José, mas o momento mais tenso é, sem dúvida, o do nascimento propriamente dito. Não havia lugar para aquela criança indefesa e frágil vir ao mundo em segurança. Depois de uma longa viagem, sem conforto algum, Maria e José chegaram a Belém, em meio ao tumulto de um recenseamento. A cidade estava cheia e o casal não encontrou lugar para se hospedar. A única alternativa era uma estrebaria, e uma manjedoura para servir de leito. Ali o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores nasceu.
Jesus, já adulto, fez questão de valorizar aqueles(as) que eram frágeis: as mulheres, os doentes, os marginalizados e as crianças. Estas últimas, em especial, o Mestre indicou como parâmetro para quem quiser herdar o Reino dos Céus.
Jesus não nasceu em berço de ouro e sabia muito bem o quanto a vida era dura e que, para vencer, era preciso lutar muito.
O Reino de Deus confrontou e continua a confrontar todo poder instituído por homens. Todos os sistemas políticos, sociais, econômicos e culturais que a humanidade desenvolveu são relativizados diante da amplitude e plenitude do reino divino. O nascimento de Jesus nos sinaliza essa inversão de valores, pois Deus escolheu as coisas simples para confundir os sábios, exatamente como ocorreu com os magos, quando procuraram o Rei no palácio e não O encontraram.
Certamente, não daríamos o trono de um reino a um bebezinho. No entanto, Deus fez questão de enviar um menino, um bebê, para dar o passo definitivo na restauração da humanidade, a fim de que não houvesse nenhuma possibilidade de se cogitar que a ação de Deus estaria ligada ao poder, ao prestígio, ao conhecimento ou a qualquer tipo de categoria humana que defina o que pode e o que não pode.
Muitas vezes, associamos a ação de Deus em nossas vidas ao nosso muito saber, ter ou poder. Mas o que sabe um bebê, o que ele possui ou o que ele pode? Tudo, absolutamente tudo depende de Deus e do Seu querer. Seja por meio de um bebê ou de um adulto, seja por alguém muito letrado ou por um inculto, seja por alguém conhecido ou por um anônimo, é Deus quem faz a obra!
Que neste tempo de Advento possamos refletir o quanto estamos deturpando o verdadeiro significado do Natal. Talvez seja uma ótima oportunidade para desviarmos um pouco nossos olhos das luzes, dos enfeites, do pernil, dos presentes, e voltá-los para o menor ou para o mais simples, os quais são amados por Deus tanto quanto nós somos.
Do amigo pastor,
Pr. Tiago Valentin