Hoje, 50 dias depois da Páscoa, celebramos, no calendário cristão, o Dia de Pentecostes. No judaísmo, comemorava-se nessa data o sucesso pela colheita anual. Mas, com Jesus, esse dia passou a ser associado ao cumprimento da promessa da vinda do Consolador. Após 50 dias da ressurreição de Cristo, os discípulos, reunidos em Jerusalém, aguardavam o cumprimento dessa promessa, enquanto ocorria a festa de Pentecostes. Eles oravam num cenáculo quando o Espírito Santo se manifestou. Línguas de fogo pousaram sobre suas cabeças e eles começaram a falar em outras línguas (At 2).
Depois desse episódio, a Igreja tomou forma e passou a exercer seu papel profético no mundo de maneira efetiva. Ao longo do tempo, a Igreja foi ganhando contornos e formatos específicos, dependendo da denominação. Aquelas que diziam dar ênfase e liberdade à ação do Espírito Santo se autorrotularam pentecostais, fazendo referência ao episódio do Pentecostes bíblico. O problema dos rótulos é que eles são limitados e infiéis. Um rótulo não é capaz de expressar plenamente o conteúdo de algo e muitas vezes indica ser uma coisa quando é outra. Por isso, ao dizermos que uma igreja é tradicional, progressista ou pentecostal, nunca somos capazes de indicar de fato como ela é, se é que é mesmo uma igreja!
Mas seriam algumas igrejas pentecostais e outras não? Na verdade o problema reside no conceito “pentecostal”. Ser pentecostal não significa estritamente dar liberdade para a ação do Espírito Santo, pois, sem a presença d’Ele, simplesmente não seríamos capazes nem mesmo de ser cristãos. Isso também se aplica à igreja, que, sem a presença do Espírito Santo, não seria uma igreja, tendo em vista que não é possível ser igreja sem Aquele que a capacita e a sustenta. O conflito, portanto, está no que as pessoas entendem por pentecostal ou por evidência da ação do Espírito Santo. O problema aqui são os estereótipos.
Quem não se considera pentecostal de acordo com o que se estabeleceu por esse rótulo afirma que não o é porque valoriza a razão e a ordem, zela pelo equilíbrio e pela coerência da igreja e é contra todo tipo de alienação e desorganização. Já os que se acham pentecostais dizem que o são porque deixam Deus agir “de verdade” e têm poder e autoridade superiores aos dos demais. Para muitos deles, nada é mais importante do que falar em outras línguas, ou na língua dos anjos, que seria a expressão e evidência máximas de que alguém é pentecostal.
Biblicamente, esses dois polos estão errados. O que vemos no texto de Atos 2 é que a grande evidência da ação do Espírito Santo na vida de igreja é a comunhão, a capacidade de falar uma mesma língua, o meio pelo qual podemos ser de fato uma comunidade, uma igreja. Por se tratar de uma festa que envolvia povos de diversas regiões, que falavam idiomas distintos, o Pentecostes reuniu em Jerusalém muita gente diferente. Contudo, ao agir sobrenaturalmente na vida dos discípulos e de outras pessoas ali, o Espírito Santo possibilitou que aqueles indivíduos pudessem dialogar e se entender, ainda que falassem línguas diferentes.
Por isso, podemos dizer, com toda a certeza, que somos pentecostais, pois em nossa comunidade valorizamos e nutrimos o respeito, a tolerância, o diálogo, a comunhão e, sobretudo, o amor. Somos diversos, pensamos diferente, agimos de forma distinta, mas, por obra e graça do Espírito Santo, conseguimos conviver, comungar e caminhar juntos para um mesmo destino: a cruz de Cristo. Somente valorizando e liberando a ação do Espírito Santo é que podemos realizar o milagre de ser igreja.
Que neste Dia de Pentecostes, o Senhor derrame mais uma vez sobre nós o fogo que anula as divisões, os preconceitos, os individualismos e o desamor.
Tiago Valentin, pastor