Com tristeza constatamos que ano após ano tem ocorrido um esfriamento da comemoração do Natal entre os cristãos, e muitos chegam até mesmo a tomar esta data como anátema. Um dos argumentos usados é sobre sua “origem pagã”, ou seja, que se tratava originalmente de uma festa da mitologia romana, à época do imperador Constantino, que reverenciava o “Sol Invictus”.
Aos olhos da Bíblia, entretanto, o Natal teve sua origem três séculos antes de Constantino, quando numa noite escura um anjo do Senhor desceu onde pastores guardavam o rebanho, e anunciou-lhes: “hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor”. Deus enviou às campinas um mensageiro para dizer que ocorrera o maior acontecimento na história da Humanidade.
Não foi este um acontecimento digno de ser relembrado pelos séculos vindouros? Ora, a igreja é, por excelência, um lugar de celebrações: enfeitamo-la para os casamentos, e nela festejamos a Páscoa, Dia das Mães, bodas e os aniversários de nossos filhos. Creio que por uma questão de coerência, os que defendem a não comemoração do Natal, também deveriam deixar de celebrar estas outras.
Nossa vida é constituída tanto pelos acontecimentos ordinários e cotidianos, mas também pelas datas especiais e significativas. Sem a memória das coisas passadas, tornamo-nos alheios às obras que Deus faz. Por isso o salmista nos ensina: “Recordarei os feitos do Senhor, sim, me lembrarei das tuas maravilhas” (Sl 77.11). Se o nascimento do Salvador foi profetizado e ansiosamente aguardado pelos profetas do Antigo Testamento, porque agora não haveríamos de comemorar o cumprimento dessa grandiosa promessa?
Nosso Natal não é o Natal das Casas Bahia nem de Noel. Na verdade, só quem vive a realidade da Encarnação o ano inteiro é que pode separar este dia para celebrar. Agora, se o mundo se apropriou do Natal de forma indevida, cabe a nós, Igreja, mostrar o verdadeiro sentido da celebração, e não suprimi-la. Seria jogar fora a água suja com a criança dentro.
Se o nascimento de Jesus não se deu exatamente no dia 25 de dezembro, tal fato não tem maior relevância, e nem impede a nossa celebração. Também não conhecemos o dia exato de Sua Ressurreição, mas mesmo assim comemoramos a Páscoa anualmente sem questionamentos. Na verdade, Natal não é a comemoração de um dia, mas é a alegria pela Encarnação e, se isso não agrada a muita gente é bom lembrar que o diabo é que tem dificuldade em aceitar que Jesus veio em carne (1Jo 4.2–3).
Assim como Paulo revelou aos atenienses que o “Deus Desconhecido” que eles adoravam era precisamente o Salvador que ele anunciava, de igual modo, já não é mais o “Sol Invictus” dos romanos que deve ser honrado, mas sim Jesus, o nosso Sol da Justiça (Ml 4.2). E os símbolos que outrora apontavam para falsos deuses, hoje apontam para o verdadeiro e Único Senhor. Se num passado distante a árvore era associada a Astarote, hoje nós a identificamos com a “árvore da vida” (Ap 2.7) da qual Jesus nos dará acesso. Vale também lembrar que ela aponta para a vida do cristão que, ao depositar sua confiança no Senhor, mantém suas folhas sempre verdes, mesmo no inverno ou na sequidão (Jr 17.8).
É sempre no mesmo espírito de alegria e assombro dos magos e dos pastores que comemoro este dia. Um Feliz Natal a todos que se alegram no Senhor Jesus! E se alguém lhe cumprimentar com um secular “Boas Festas”, responda com um efusivo “Aleluia, Jesus nasceu, Feliz Natal”.
Pr. Daniel Rocha