Creio que um dos maiores exemplos bíblicos de amadurecimento é a vida do apóstolo Paulo. Ele, já sendo adulto, cheio de encargos e responsabilidades, precisou cair do cavalo, ou do alto da sua prepotência, da sua arrogância, para então reconhecer o quanto era imaturo, o quanto ainda precisava aprender.
As escamas que caíram de seus olhos na casa de Ananias foram mais do que um fenômeno físico. Os olhos da sua alma se abriram para a realidade de quem ele era. Saulo pode enxergar sua tirania, sua falta de amor, sua fé imatura. Após esse episódio, Saulo voltou para Tarso a fim de se esconder daqueles que o perseguiam, mas Barnabé o havia conhecido em Jerusalém e sabia do potencial daquele centurião. Assim, Barnabé foi até Tarso em busca daquele discípulo promissor, e passou a discipulá-lo (At 11:25–26).
Apesar de ser quem era, Paulo tinha muito o que aprender. Na verdade, ele próprio chega a essa conclusão: “Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei‑o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3:5–8). Como parte do seu processo de amadurecimento espiritual, Paulo identifica que todos os seus atributos e títulos são para ele “escória”.
Apesar da idade adulta, apesar de ser um estudioso da Palavra, apesar de ser um cumpridor da lei, Paulo tinha uma fé imatura, pois ele não passava de um religioso que não era capaz de compreender e, principalmente, de vivenciar a graça de Deus.
Muitas vezes é assim que nos encontramos na nossa caminhada de fé, cumpridores de uma agenda e de uma estética religiosa, mas ainda incapazes de compreender a profundidade da revelação do Evangelho que acolhe, transforma e liberta. Desse modo, tornamo-nos inconstantes e vacilantes na nossa fé, princípios e escolhas. Pessoas imaturas não são capazes de permanecer, de resistir, de ser resilientes. A prova de que Paulo entendeu que precisava amadurecer, e buscou isso, é a sua comprovada capacidade de permanecer firme no propósito de Deus. A prisão, o naufrágio, a tortura, a iminência da morte não o fizeram retroceder em sua fé, atitude própria de quem é maduro.
Em 2020, estamos sendo desafiados a amadurecer em todas as áreas da nossa vida, mas principalmente na nossa fé. Que possamos, assim como Paulo, reconhecer, em primeiro lugar, que nossa maturidade intelectual, nossa posição social ou outros atributos que consideramos maduros – sejam comportamentais ou sociais – nem sempre se equivalem à nossa maturidade espiritual, sem a qual não temos a sabedoria indispensável para vivermos da maneira que agrada a Deus.
Que o marco deste ano seja de fato nosso crescimento e amadurecimento espiritual.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin