Recentemente, a letra de um cântico, especialmente sua primeira estrofe, me chamou muito a atenção. Trata-se da música “Eu Quero Conhecer Jesus”, de autoria de Alessandro Vilas Boas, gravada pela Cia. Salt: “O meu orgulho me tirou do Jardim / Tua humildade colocou o Jardim em mim / E se eu vendesse tudo o que tenho em troca do amor / Eu falharia / Pois o amor não se compra, nem se merece / O amor se ganha, de graça o recebe / Eu quero conhecer Jesus / E ser achado n’Ele”.
Essa letra, na verdade, sintetiza de forma poética e extraordinária a graça de Deus! O “Jardim”, na canção, representa a plenitude da presença de Deus; representa nossa santidade e dependência no Senhor. E o que nos tira dessa condição é nosso orgulho, nossa autossuficiência, nossa prepotência em achar que podemos fazer algo ou ser alguém longe da presença de Pai. Aliás, esse afastamento do centro da vontade de Deus sempre parte de nós, pois Ele nunca se afasta da gente, nunca nos abandona, nunca desiste de nós.
Por isso, por conta do nosso orgulho, a única forma de voltarmos para o Jardim é por meio da ação graciosa de Deus, que, mesmo sendo grande, poderoso e majestoso, humildemente se inclina para ouvir nossa voz, resgatar-nos das trevas e nos transportar para o reino da Sua maravilhosa luz! Mesmo estando nós mortos em nossos delitos, Ele escolheu voluntariamente nos amar com amor eterno e nos dar vida!
Na sequência da letra dessa música, somos confrontados com uma lógica muito presente no nosso dia a dia, que é a meritocracia. O autor faz questão de ressaltar nossa ineficiência e nossa incapacidade de voltar para o Jardim. Ainda que vendêssemos tudo o que temos, esse montante não seria capaz de comprar o amor do Pai. Nossa lógica cotidiana é de que, se nos esforçarmos, batalharmos e fizermos por onde, seremos merecedores de alcançar posições, status e poder, os quais nos conferirão riquezas. Mas tudo isso é considerado imundícia diante da pureza e da grandeza do amor de Deus. O amor não se compra e não se merece.
O agir de Deus vai na contramão da história, da lógica humana e dos referenciais terrenos. O bem mais precioso que podemos obter nesta vida e na vindoura nos é dado de graça! Ganhamos de graça o amor do Pai, sim, sem fazer absolutamente nada, sem merecer e sem reivindicá-lo. Deus nos dá Sua graça, misericórdia e bondade simplesmente porque nos ama.
O fato é que todos os dias fazemos esse caminho de saída e retorno para o Jardim, pois todos os dias somos contemplados e alcançados pela graça de Deus, processo pelo qual passaremos por toda a nossa existência. Por isso a oração final da estrofe: “Eu quero conhecer Jesus e ser achado n’Ele”. Ao conhecermos Jesus e nos encontrarmos na Sua essência, somos restaurados, transformados e santificados.
Mesmo sem merecermos, Deus nos ama e sempre nos amará!
Tiago Valentin, pastor