Você não merece

Jar­dim Flo­ri­do”, por Gus­tav Klimt (1906)

Recen­te­men­te, a letra de um cân­ti­co, espe­ci­al­men­te sua pri­mei­ra estro­fe, me cha­mou mui­to a aten­ção. Tra­ta-se da músi­ca “Eu Que­ro Conhe­cer Jesus”, de auto­ria de Ales­san­dro Vilas Boas, gra­va­da pela Cia. Salt: “O meu orgu­lho me tirou do Jar­dim / Tua humil­da­de colo­cou o Jar­dim em mim / E se eu ven­des­se tudo o que tenho em tro­ca do amor / Eu falha­ria / Pois o amor não se com­pra, nem se mere­ce / O amor se ganha, de gra­ça o rece­be / Eu que­ro conhe­cer Jesus / E ser acha­do n’Ele”.

Essa letra, na ver­da­de, sin­te­ti­za de for­ma poé­ti­ca e extra­or­di­ná­ria a gra­ça de Deus! O “Jar­dim”, na can­ção, repre­sen­ta a ple­ni­tu­de da pre­sen­ça de Deus; repre­sen­ta nos­sa san­ti­da­de e depen­dên­cia no Senhor. E o que nos tira des­sa con­di­ção é nos­so orgu­lho, nos­sa autos­su­fi­ci­ên­cia, nos­sa pre­po­tên­cia em achar que pode­mos fazer algo ou ser alguém lon­ge da pre­sen­ça de Pai. Aliás, esse afas­ta­men­to do cen­tro da von­ta­de de Deus sem­pre par­te de nós, pois Ele nun­ca se afas­ta da gen­te, nun­ca nos aban­do­na, nun­ca desis­te de nós.

Por isso, por con­ta do nos­so orgu­lho, a úni­ca for­ma de vol­tar­mos para o Jar­dim é por meio da ação gra­ci­o­sa de Deus, que, mes­mo sen­do gran­de, pode­ro­so e majes­to­so, humil­de­men­te se incli­na para ouvir nos­sa voz, res­ga­tar-nos das tre­vas e nos trans­por­tar para o rei­no da Sua mara­vi­lho­sa luz! Mes­mo estan­do nós mor­tos em nos­sos deli­tos, Ele esco­lheu volun­ta­ri­a­men­te nos amar com amor eter­no e nos dar vida!

Na sequên­cia da letra des­sa músi­ca, somos con­fron­ta­dos com uma lógi­ca mui­to pre­sen­te no nos­so dia a dia, que é a meri­to­cra­cia. O autor faz ques­tão de res­sal­tar nos­sa ine­fi­ci­ên­cia e nos­sa inca­pa­ci­da­de de vol­tar para o Jar­dim. Ain­da que ven­dês­se­mos tudo o que temos, esse mon­tan­te não seria capaz de com­prar o amor do Pai. Nos­sa lógi­ca coti­di­a­na é de que, se nos esfor­çar­mos, bata­lhar­mos e fizer­mos por onde, sere­mos mere­ce­do­res de alcan­çar posi­ções, sta­tus e poder, os quais nos con­fe­ri­rão rique­zas. Mas tudo isso é con­si­de­ra­do imun­dí­cia dian­te da pure­za e da gran­de­za do amor de Deus. O amor não se com­pra e não se merece.

O agir de Deus vai na con­tra­mão da his­tó­ria, da lógi­ca huma­na e dos refe­ren­ci­ais ter­re­nos. O bem mais pre­ci­o­so que pode­mos obter nes­ta vida e na vin­dou­ra nos é dado de gra­ça! Ganha­mos de gra­ça o amor do Pai, sim, sem fazer abso­lu­ta­men­te nada, sem mere­cer e sem rei­vin­di­cá-lo. Deus nos dá Sua gra­ça, mise­ri­cór­dia e bon­da­de sim­ples­men­te por­que nos ama.

O fato é que todos os dias faze­mos esse cami­nho de saí­da e retor­no para o Jar­dim, pois todos os dias somos con­tem­pla­dos e alcan­ça­dos pela gra­ça de Deus, pro­ces­so pelo qual pas­sa­re­mos por toda a nos­sa exis­tên­cia. Por isso a ora­ção final da estro­fe: “Eu que­ro conhe­cer Jesus e ser acha­do n’Ele”. Ao conhe­cer­mos Jesus e nos encon­trar­mos na Sua essên­cia, somos res­tau­ra­dos, trans­for­ma­dos e santificados.

Mes­mo sem mere­cer­mos, Deus nos ama e sem­pre nos amará!

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valen­tin, pastor

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