Somos cópia de quem?

Sede meus imi­ta­do­res como tam­bém sou de Cris­to” (1 Corín­ti­os 11:1)

Imi­ta­dor de Cris­to (“Após­to­lo Pau­lo”,
por Meloz­zo da Forti)

Quem nun­ca ouviu que fula­no puxou o pai, que bel­tra­na é a xerox da mãe, que sicra­no tem o jei­to e o com­por­ta­men­to do avô, e por aí vai? A psi­co­lo­gia e a soci­o­lo­gia ensi­nam que somos repro­du­to­res de con­du­ta, de cará­ter e do meio em que vive­mos des­de a infân­cia. Não nas­ce­mos pes­soa, nas­ce­mos indi­ví­duo e, ao con­vi­ver com deter­mi­na­das pes­so­as e em deter­mi­na­do habi­tat, somos mol­da­dos e rece­be­mos influên­cia em nos­sa per­so­na­li­da­de. Em outras pala­vras, nós nos tor­na­mos pes­so­as ao nos rela­ci­o­nar­mos com outras pes­so­as e ao con­vi­ver­mos com elas. Se tivés­se­mos nas­ci­do no meio de ani­mais, agi­ría­mos e nos com­por­ta­ría­mos como ani­mais – a tal sín­dro­me de Tar­zan ou de Mogli.

Do mes­mo modo, tor­na­mo-nos cris­tãos de ver­da­de à medi­da que con­vi­ve­mos com cris­tãos de ver­da­de. Por natu­re­za, somos leva­dos a repro­du­zir con­du­tas, com­por­ta­men­tos e carac­te­rís­ti­cas. Toda a huma­ni­da­de é a repro­du­ção de algo ou de alguém. Músi­cos imi­tam músi­cos, espor­tis­tas imi­tam espor­tis­tas, per­ver­ti­dos sexu­ais imi­tam per­ver­ti­dos sexu­ais, reli­gi­o­sos imi­tam reli­gi­o­sos, assas­si­nos imi­tam assas­si­nos, dis­cí­pu­los imi­tam seu dis­ci­pu­la­dor, e todos repro­du­zem suas qua­li­da­des e até seus defei­tos. Aqui­lo que nos influ­en­cia ou pelo qual nos dei­xa­mos influ­en­ci­ar com cer­te­za nós repro­du­zi­re­mos, cons­ci­en­te ou inconscientemente.

O pró­prio Jesus decla­rou que copi­a­va, imi­ta­va e repli­ca­va tudo o que o Pai fazia, para que quem O olhas­se enxer­gas­se o pai: “Na ver­da­de, na ver­da­de vos digo que o Filho por si mes­mo não pode fazer coi­sa algu­ma, se o não vir fazer o Pai; por­que tudo quan­to ele faz, o Filho o faz igual­men­te” (Jo 5:19); “Aque­le que vê a mim, vê o Pai (Jo 14:9). Cris­ti­a­nis­mo é imi­ta­ção, repro­du­ção de esti­lo de vida; só que deve­mos saber a quem imi­tar e a quem não imi­tar. Não pode­mos imi­tar este mun­do, nem as coi­sas que nele exis­tem, nem mui­to menos imi­tar a quem não refle­te, ou imi­ta, a Cris­to de for­ma genuí­na (espi­ri­tu­al e moralmente).

Os após­to­los, que eram dis­cí­pu­los de Cris­to, enten­di­am qual esti­lo de vida, de com­por­ta­men­to e de cará­ter deve­ri­am repro­du­zir e imi­tar. Pau­lo dei­xa isso cla­ro no ver­sí­cu­lo que abre esta pas­to­ral; João diz o mes­mo, com outras pala­vras (1 Jo 2:6), e Pedro tam­bém (1 Pe 1:14–15). Exis­te um padrão, um mode­lo, um exem­plo a ser segui­do, imi­ta­do e reproduzido.

Os qua­tro evan­ge­lhos, ou as bio­gra­fi­as do Evan­ge­lho, como pre­fi­ro men­ci­o­nar, são pra­ti­ca­men­te a repro­du­ção um do outro, com algu­mas dife­ren­ças e ênfa­ses. Os três pri­mei­ros evan­ge­lhos apre­sen­ta­dos pelo Novo Tes­ta­men­to – Mateus, Mar­cos e Lucas – são cha­ma­dos de sinóp­ti­cos por con­te­rem mui­tas pas­sa­gens em comum, na mes­ma sequên­cia, e uma lin­gua­gem bas­tan­te simi­lar. Já o evan­ge­lho de João, embo­ra se asse­me­lhe aos outros em alguns aspec­tos, tem uma lin­gua­gem dife­ren­ci­a­da e deta­lhes impor­tan­tes que ampli­am mui­to as nar­ra­ti­vas dos sinópticos.

A repro­du­ção da lin­gua­gem do Rei­no trans­for­ma vidas e ter­ri­tó­ri­os. A manei­ra como você vive denun­cia quem você é e a quem você ser­ve (At 11:29; Mt 26:69–75). Já dizia o dita­do: “Nes­te mun­do nada se cria, tudo se copia”. Você é cópia fiel de quem? No Rei­no de Deus, não exis­te pon­to de vis­ta pes­so­al, pois o valor do Rei­no é a fide­li­da­de no dis­cur­so e a repro­du­ção dos prin­cí­pi­os de Cris­to Jesus. Como discípulos(as), deve­mos ser repe­ti­do­res e repro­du­to­res da ver­da­de de Deus em Cris­to Jesus, e não de um pen­sa­men­to ou ide­o­lo­gia pes­so­al. Não estou dizen­do que em seu cris­ti­a­nis­mo você não deva pen­sar ou refle­tir, até por­que nos­so cul­to não deve ser sen­so­ri­al, e sim total­men­te raci­o­nal. Entre­tan­to, já exis­te uma cau­sa, já exis­te um con­cei­to, já exis­te um movi­men­to, uma ideia, um padrão a ser copi­a­do, repli­ca­do e impul­si­o­na­do, cujo nome é Cris­to. Pode­mos até ini­ci­al­men­te imi­tar alguém que está imi­tan­do Cris­to há mais tem­po (cf. Hb 13:7), mas, no final, essa pes­soa, a quem cha­ma­mos de discipulador(a), será ape­nas uma pla­ca que apon­ta­rá para o mode­lo genuí­no a ser imi­ta­do e replicado.

Ser imi­ta­dor de Jesus impli­ca repli­car Sua vida e Seu cará­ter, e não ape­nas ado­tar um dis­cur­so vazio e uma apa­rên­cia sem vida. O imi­ta­dor de Cris­to não é um papa­gaio repe­ti­dor de falas frí­vo­las des­co­nec­ta­das da pes­soa de quem Ele é, pois, sem Jesus, nada pode­mos fazer (Jo 15:5). Se, em seu cris­ti­a­nis­mo, você copia e mode­la qual­quer um que não este­ja imi­tan­do Cris­to, não é o ver­da­dei­ro cris­ti­a­nis­mo que você vive e copia. Se não tiver Jesus como cen­tro, pode ser qual­quer coi­sa e ter a apa­rên­cia reli­gi­o­sa e o jei­to de Jesus Cris­to, mas não o será na ver­da­dei­ra essên­cia. Per­gun­te-se peda­go­gi­ca­men­te todos os dias: eu sou cópia de que e de quem? E aqui­lo que eu imi­to me tor­na igual a Jesus Cris­to ou me afas­ta do que Ele é?

Isra­el Rocha, dis­cí­pu­lo e pastor

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