Ao longo desta reflexão, buscaremos responder à pergunta que está no título. Mas antes precisamos levar em consideração outra questão: de que santidade estamos falando?
Santidade, ou santificação, não tem sido um tema muito presente na vida da Igreja nos últimos tempos. Como exemplo, podemos observar aquilo que se prega na televisão. Nunca ou raramente ouvimos os pregadores televisivos dizerem enfaticamente a seus telespectadores algo como: “Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.” (Mt 3:7–8). Talvez porque, na última vez em que alguém proferiu essas palavras, acabou perdendo a cabeça!
Seria a santidade um tema desgastado ou sem implicação para a vida espiritual do cristão? Certamente não. O tema santidade perpassa por toda a Bíblia. O apóstolo Pedro, em sua primeira carta, resgata as palavras do livro de Levítico – “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1:16 e Lv 20:7) –, sinalizando que a santidade deve ser almejada e desejada pelos cristãos.
Paulo é outro apóstolo que também aborda o tema da santidade em suas epístolas e nos apresenta um dado ainda mais comprometedor: especialmente em suas cartas às igrejas, ele se refere ao povo ali reunido como “santos” (Ex.: Rm 1:7; 2 Co 1:1; e Ef 1:1). Ou seja, aquele(a) que opta por seguir a Cristo inicia automaticamente em sua vida um processo de santificação, porque a conversão implica obrigatoriamente mudança de vida, e essa mudança é um processo que se dá ao longo de toda a caminhada cristã. Não pregar sobre santidade é negligenciar o grande objetivo de Deus ao enviar Seu filho ao mundo: santificar Seu povo (1 Pe. 2:1–10).
Mas, voltando ao início, de que santidade estamos falando? Biblicamente, a palavra “santo” (no hebraico qadox), significa, segundo os estudiosos, “separado por Deus”. Assim, eles veem uma analogia entre as palavras qadox (santo, separado) e hodex (novo). Com isso, o significado de “santo” se ampliaria para “separado do velho”. Ou seja, “santidade” seria “novidade de vida”.
A santidade de Deus é o modelo e o critério para o esforço do ser humano em tornar-se santo. É nesse momento que Deus desafia as pessoas a serem santas, como Ele é santo (Lv 19:1–4). Assim, a Bíblia amplia o conceito de santidade ao deixar de enfatizar a visão de que santidade seria uma propriedade exclusiva de Deus para desafiar o ser humano a imitar o divino. Surge, assim, a ideia de ser separado para servir, na prática do amor, da bondade, e no caminhar com Ele. (Mq 6:8).
Portanto, santidade vai além de um mero cumprimento de costumes ou regras impostos pela doutrina de uma igreja. Ser santo é ser escolhido ou separado por Deus para santificar o mundo. Deus não criou o ser humano para ser um fim em si mesmo, um ser inerte, que deseja só receber o tempo todo. Na verdade, somos um canal da ação transformadora do Espírito Santo.
Talvez isso realmente não dê muito ibope, pois santidade está diretamente ligada a serviço, entrega, testemunho, e, infelizmente, vivemos numa geração contaminada pelo individualismo e pelo conformismo.
Estendo a intercessão de Paulo em favor dos filipenses para todos nós, que somos a igreja de Cristo: “Que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” (Fl 2:15).
Com carinho e estima pastoral,
Pr. Tiago Valentin