O refrão da música Criança Não Trabalha, do grupo musical de canções infantis Palavra Cantada, diz assim: “Criança não trabalha, criança dá trabalho”. O grupo faz essa brincadeira com um real fundo de verdade. A criança de fato não tem um trabalho formal – ou pelo menos não deveria ter; sua única preocupação, na maioria das vezes, é estudar. Aos adultos é que cabe a tarefa de se preocupar com o desenvolvimento, a nutrição, o lazer, o sustento, a proteção e todo tipo de resguardo que uma criança merece e tem direito. A verdade é que cuidar de uma criança dá muito trabalho, e a brincadeira do Palavra Cantata vai nessa direção: elas não trabalham, mas nos dão muito trabalho!
Se as crianças tivessem de se responsabilizar por seu sustento, moradia, saúde etc., talvez dessem menos trabalho para os adultos. Esse princípio se aplica a muitas esferas da nossa vida. Num trabalho em grupo, por exemplo, quando um componente deixa de fazer a sua parte, um outro vai ficar sobrecarregado.
Outro exemplo é o que ocorre na igreja. Há quem reclame que não consegue se enquadrar, se envolver nos trabalhos, achar seu espaço. Podemos fazer algumas considerações a esse respeito.
Primeiramente, temos de partir do princípio de que a igreja é um espaço de todos e para todos. O dono desta casa é Deus e é Ele quem acolhe a todos. E esse talvez seja o primeiro equívoco de alguns: se não entendermos que estamos na igreja por Deus, para Deus e com Deus, possivelmente em algum momento vamos questionar se devemos continuar integrando esta comunidade. É da natureza humana o desejo de sentir-se fazendo parte de algo, o que chamamos de “sentimento de pertença”. E, para nos sentirmos pertencentes à igreja, é fundamental nos envolvermos com a comunidade, é necessário que sirvamos. Nós fazemos parte de uma igreja que se organiza pelo sistema de dons e ministérios; ou seja, Deus concede dons a todas as pessoas para que possam servi-Lo por meio de um dos ministérios da igreja. Em outras palavras, Deus quer que todos nos envolvamos com Sua obra, contribuindo de alguma maneira.
Podemos eventualmente nos deparar com uma situação em que alguém não consiga se enquadrar nem participar de nenhum dos ministérios existentes. Acho isso difícil de ocorrer, mas não impossível. O que fazer diante de tal impasse? Precisamos nos lembrar de que, ainda que algum de nós não tenha o dom de cantar, falar em público, interceder, servir, ensinar ou administrar, todos temos um dom inerente e em comum, que é o de fazer discípulos para Jesus. Sim, todos nós, quando aceitamos a Jesus como Senhor e Salvador de nossas vidas, recebemos do Espírito Santo o dom de pregar, viver e testemunhar o evangelho. Se somos discípulos de Cristo, necessariamente precisamos fazer novos discípulos para Ele.
Geralmente, quem não trabalha na igreja dá trabalho, mas ninguém precisa ficar sem fazer algo. Ainda que a pessoa não tenha um dom específico para servir em algum ministério, pode e deve fazer discípulos. E isso independe de ministério, de entrosamento na igreja ou de se sentir valorizado. Se queremos nos sentir fazendo parte da igreja, basta sermos discípulos e fazermos discípulos.
É claro que também é vazia e mentirosa a postura de alguém que canta, prega, intercede etc., mas não faz discípulos. A igreja se organizou ao longo do tempo na forma de ministérios, mas sua grande comissão, sua maior incumbência é ir e fazer discípulos antes de qualquer coisa.
Para não se sentir excluído, marginalizado ou deslocado, basta que você assuma a responsabilidade de discipular alguém, de ajudar essa pessoa a entender que o amor e a graça de Deus já estão sobre sua vida. Todos, sem exceção, podemos e devemos fazer discípulos, porque o dom para isso nós já temos, que é o poder do Espírito Santo.
Do discípulo,
Pr. Tiago Valentin