Acompanho com pesar a luta e o sofrimento de nossos irmãos da “igreja perseguida”, que são aquelas regiões do planeta o cristianismo é combatido. Vejo a perseverança e o amor que têm por Cristo e pelo Reino. Não posso deixar de fazer um paralelo entre os “cristãos de lá” e os “cristãos de cá” e constatar que temos muito que aprender com eles. Vejamos:
1) Em Bangladesh, o ex-muçulmano Abu Kalam é um exemplo de entrega total ao Senhor. Foi preso e acusado por seus vizinhos muçulmanos de tentar evangeliza-los. Recebeu ameaças de morte e pode ter de abandonar sua casa: “Estou pronto para ser um cristão, estou disposto a perder minha casa para Cristo, se meus vizinhos não me querem mais lá”, disse ele.
Já em São Paulo, Janaina foi ao culto num galpão apinhado de gente, e diante das câmeras desafiou Deus, pois participou da Campanha promovida pela igreja, não faltou nenhuma vez, não quebrou a “corrente”, e agora veio cobrar a Deus pelo seu esforço.
2) Nas Filipinas Joy Dimerin teve o noivo morto por um fanático islâmico: “Eu aprendi a ver o propósito de Deus na minha vida. Aprendi a aceitar as circunstâncias como instrumentos de Deus para me moldar. Através da vida do meu noivo, eu aprendi a me comprometer com o ministério e com a oração. Através da sua morte, eu aprendi a estar sempre preparada para encarar o nosso Criador”.
Em terras brasucas, os cristãos de cá não costumam aceitar provas em suas vidas, e não reconhecem que Deus possa estar trabalhando neles em meio à dor. Ao contrário, toda e qualquer dificuldade é repreendida e encarada como alguma forma de maldição, e negam-lhes qualquer caráter purificador.
3) Na Índia, o pastor Roshan recebeu ameaças de extremistas hindus caso voltasse a compartilhar o Evangelho em suas aldeias. Em princípio, Roshan não se intimidou e voltou no dia seguinte. Foi atacado pelos extremistas com paus e facas.
Por aqui, neste exato momento, podem estar ocorrendo negociações de altos valores com algum pastor “popstar”, envolvendo cachês milionários que começam em 30 mil reais, como costuma fazer um conhecido cantor que só aceita pregar e cantar a partir desse montante. Este depende do milagre chegar para ter fé. Aquele possui fé inabalável em Cristo, mesmo se o seu milagre não chegar.
4) Shi Weiha, dono de uma livraria cristã foi preso na China por imprimir cópias da Bíblia sem autorização. Sua esposa disse que os livros da loja eram legalmente impressos e vendidos, mas que o marido dela publicou muitos livros cristãos e Bíblias reservadamente sem autorização e os distribuiu entre igrejas domésticas, por isso foi preso.
No Brasil temos bíblias de estudo direcionadas para todos os gostos, mas a despeito de tantas variedades, o interesse em estudá-la e compreende-la parece ser inversamente proporcional às facilidades de se ter uma. Hoje vale mais a palavra do “apóstolo” e das profecias que pululam nas igrejas que a Revelação Eterna do Evangelho que foi dado de uma vez por todas.
5) Numa igreja doméstica da China o encontro devocional começou às 8h30, com uma hora e meia de comunhão e estudo bíblico sobre o livro de Romanos. Por volta das 10 horas, o culto da igreja teve início. Com as janelas fechadas, para não serem denunciados, a temperatura na sala subiu a um nível tropical.
Em nossas planícies, igreja doméstica não faz muito sucesso, e uma hora e meia de comunhão e estudo bíblico espanta qualquer jovem que está à busca de algo mais eletrizante. Para atender a essas necessidades de estímulos, o culto foi transformado num grande caleidoscópio. É preciso ter muita sensação, muitas atrações, uma atrás da outra. Sem dúvida, o culto da Igreja Perseguida seria considerado em nossas terras enfadonho demais: “falta avivamento”, diriam alguns.
6) Os cristãos da igreja perseguida sempre terminam seus testemunhos pedindo: “Orem por nós!”. Eles confiam ardentemente no poder da oração. A súplica e intercessão uns pelos outros é o alimento diário deles, cada minuto de suas vidas é dedicado à intensa oração ao Senhor.
Os cristãos de cá também pedem: “unjam o meu carro, unjam minha chave, escrevam num papel, queimem na fogueira, levem minha foto, uma peça de roupa, façam correntes…”. A razão para isso parece-me clara: os cristãos nativos não confiam na oração pura, simples e sincera ao Pai; por isso precisam de toda sorte de rituais místicos para “incrementar” os pedidos.
Somos uma geração que goza de liberdade. Às vezes fico pensando se tantas facilidades não produziram um povo acomodado e infantil, em busca de autosatisfação e facilidades. Há uma palavra do apóstolo Paulo, que nunca foi muito bem assimilada na cristandade ocidental, mas plenamente compreendida e vivida pelos “cristãos de lá”: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” (Fp 1.29).
[P.S.: todos os relatos da igreja perseguida são verídicos]
Pr. Daniel Rocha
A realidade do que vemos do lado de lá e do lado de cá, são dois cumprimentos bíblicos: Há um número pré determinado para ser martirizado por Cristo (Ap 6.11) e a apostasia crescente dos últimos dias que antecedem o Arrebatamento.