Já alguns anos, talvez umas três décadas, temos vivido uma crise de autoridade generalizada. Filhos não respeitam os pais, alunos não respeitam seus professores, funcionários não respeitam seus chefes, leigos não respeitam seus pastores e por aí vai. Penso que uma das razões dentre muitas para tal colapso de autoridade está na relativização de valores e conceitos fundamentais, dos quais o principal é a falta de obediência.
Hoje muita coisa é relativa. O pecado se tornou algo relativo, a verdade bíblica se tornou relativa, as relações humanas foram relativizadas. Tudo depende de quem vê, de quem fala, de onde se fala, cada um tem sua verdade e todos acabam acreditando em suas próprias mentiras. E se há algo que vem sendo relativizado sistematicamente é, com certeza, o conceito de obediência. Boa parte dos dicionários relacionam obediência a consentimento, ou seja, a obediência acontece quando há negociação, convencimento e aceitação da parte que precisa obedecer. Contudo, obediência e convencimento são coisas diferentes.
A origem da palavra “obediência”, tanto no latim quanto no grego e no hebraico está associada ao ato de escutar e acatar. Portanto, a ideia de que a pessoa obedece porque é convencida de que precisa obedecer é uma concepção recente desse conceito, que, na verdade, é uma relativização da ideia original. Essa relativização é latente na relação entre pais e filhos. A pedagogia moderna diz que a criança ou o adolescente não precisam e não devem acatar uma ordem simplesmente por ela ter sido dada, mas devem questionar até que sejam convencidos de que a ordem deve ser acatada. E apenas quando a criança ou o adolescente acatam é que passa a ser considerado obediente!
Não estou advogando que não devamos dialogar com nossos filhos ou com quem quer que esteja subordinado à nossa autoridade. Aliás, boa parte dos conflitos existentes no mundo ocorrem exatamente pela falta de diálogo. São pessoas e povos que não aceitam ouvir o diferente, ver as coisas com um olhar diferente, e se tornam extremistas.
O que também não podemos aceitar é o oposto desse extremo, que diz que nunca devemos obedecer cegamente a uma autoridade. Se assim fosse, não poderíamos exercer nossa fé, pois a própria Palavra de Deus nos diz que não caminhamos pelo que vemos (por aquilo que entendemos plenamente ou por aquilo de que fomos convencidos), mas pelo que cremos (escolhemos voluntariamente obedecer à vontade de Deus sem termos razões lógicas para isso e sem termos de ser convencidos disso, simplesmente porque temos fé e somos obedientes).
Ou seja, não devemos obediência a Deus porque as coisas d’Ele fazem sentido ou porque fomos convencidos de que é assim. Obediência é um ato de fé. Cremos que, obedecendo a Deus, desfrutaremos do melhor desta vida, porque a vontade Dele é boa, perfeita e agradável.
As autoridades constituídas em nossa vida foram instituídas por Deus. Quem sabe também não precisamos ter mais fé naqueles que são nossas autoridades. Deus não quer que sejamos enganados ou conduzidos ao pecado por conta da obediência. Jesus advertiu seus discípulos e a nós dizendo que deveríamos ser simples como uma pomba e astutos como uma serpente. Paulo, ao escrever a Timóteo e à igreja em Éfeso, exorta-os dizendo que não deveriam se submeter a autoridades que estivessem em pecado e que se recusassem a se arrepender.
Devemos, sim, questionar as coisas que estão à nossa volta, devemos sempre escolher o caminho do diálogo e trilhá-lo à exaustão, mas certamente haverá momentos em que precisaremos e deveremos obedecer por crermos que, ao obedecer uma autoridade, estamos, antes de tudo, obedecendo e agradando a Deus.
Convencido de que obedecer é melhor do que sacrificar,
Pr. Tiago Valentin