“Senhores atenienses! Percebo que em tudo vocês são bastante religiosos, porque, andando pela cidade e observando os objetos de culto que vocês têm, encontrei também um altar no qual aparece a seguinte inscrição: ‘Ao Deus Desconhecido’” (Atos 17:22–23).
Na Atenas antiga, o apóstolo Paulo caminhava pelas ruas e observava altares dedicados a diferentes deuses. Um altar, no entanto, destacou-se: aquele dedicado ao “Deus Desconhecido”. O texto retrata um momento crucial da jornada de Paulo, documentado no livro de Atos, quando ele habilmente utilizou elementos culturais do povo ateniense para comunicar a mensagem cristã. Atenas era um epicentro de educação, filosofia e espiritualidade. Tinha habitantes curiosos e devotos, e isso se torna evidente justamente pela existência de um altar dedicado ao “Deus Desconhecido”, simbolizando sua precaução em não negligenciar nenhuma divindade, inclusive as desconhecidas.
Identificamos em Paulo a peculiaridade de optar por não confrontar diretamente as crenças dos atenienses; pelo contrário, ele age com sabedoria e discernimento ao usar um altar já edificado para apresentar Jesus Cristo e o Deus de toda a criação, demonstrando ali sua destreza como comunicador que tinha não só o domínio das Escrituras, mas também a capacidade de adaptá-las a diferentes realidades.
Hoje podemos encontrar circunstâncias parecidas em nossas vidas e em nossa sociedade. Neste mundo contemporâneo, muitos podem conhecer e até reconhecer o nome de Jesus, mas qual Jesus foi apresentado a essas pessoas e ao nosso mundo de hoje? Certamente, muitos têm uma visão equivocada ou parcial sobre Ele justamente em razão da própria comunicação recebida. Assim, surge outra questão: qual imagem de Jesus estamos transmitindo?
Muitos enxergam Jesus somente como um personagem histórico, seja um mestre ético ou até mesmo um revolucionário para a sua época. A frequente tendência de perceber Jesus meramente como um líder histórico ou como um mestre ético deve ser desafiada em nosso tempo. O texto nos lembra que Jesus não pode ser integralmente compreendido nem confinado em descrições humanas restritas; do contrário estaríamos criando uma moldura ou apenas mais um “altar” para uma divindade que projetamos pela nossa condição humana.
Crescem hoje movimentos relacionados ao ateísmo e ao gnosticismo. Um dos motivos talvez seja a nossa limitação em perceber a grandeza e a multiforme graça de Deus entregue pelo sacrifício de Jesus na cruz por todos (1 Pe 4:10). Jesus não pode ser emoldurado em nossa pequena concepção, pois nosso amor é limitado e condicional, bem como o nosso perdão e a nossa misericórdia, que se manifestam muitas vezes apenas pela conveniência, pela culpa e pelo arrependimento do outro. Jesus é a manifestação mais pura do Deus criador, o Messias aguardado para redenção de toda a criação. Como poderíamos então restringir ao nosso vocabulário e à nossa limitada consciência esse Deus tão grande em amor?
Na atualidade, as mídias sociais nos oferecem justamente o contrário do que Paulo fez em Atenas. Pois não adaptamos a mensagem de Jesus às realidades, mas a utilizamos conforme nossa própria visão, alterando seus ensinamentos para alinhá-los com nossas próprias inclinações individuais e religiosas. Por isso, é crucial que busquemos o Jesus verdadeiro retratado nas Escrituras.
Nesse sentido, não devemos simplificar a mensagem de Deus como apenas um juízo rigoroso. Ele é, de fato, justo, mas é também o Deus que expressou Seu amor ao mundo de forma tão intensa. Por certo, o Jesus que caminhava ao lado dos mais excluídos do Seu tempo é mais companheiro e pastor do que juiz e rei, papéis que o povo judeu aguardava do Messias.
Em essência, ao proclamar Jesus, é nossa responsabilidade fazê-lo com um entendimento abrangente e harmonioso de Sua verdadeira natureza. É anunciar quem Ele verdadeiramente é e o que fez, sem deixar que nosso tempo e nossa própria percepção do Deus que achamos que Ele é domine nossa pregação; do contrário estaremos edificando altares de um falso Jesus em nosso tempo.
Que essa característica de “Deus Desconhecido” anunciada por Paulo sobre Jesus possa gerar em nós a verdadeira busca para conhecê-Lo face a face (1 Co 13:12), rompendo as barreiras da nossa própria compreensão cultural, social e religiosa sobre Ele, a fim de que o Seu Espírito Santo nos capacite a enxergar os falsos altares erguidos na vida de tantas pessoas para falsos Messias, e para que possamos aproveitar todas as oportunidades de testemunhar, como Seus discípulos e discípulas, a grandeza e a profundidade do amor do “Deus Desconhecido” que identificamos por meio de Jesus Cristo.
Deus nos abençoe e nos fortaleça para Sua missão!
Seminarista Paulo Roberto L. Almeida Junior