Flexibilize!

Flexi­bi­li­zar” é cer­ta­men­te o ver­bo mais polê­mi­co e um dos mais uti­li­za­dos nes­te qua­se um ano e meio de pan­de­mia. Den­tre tan­tos con­cei­tos e ter­mos comuns ao con­tex­to da pan­de­mia, um dos que pas­sa­mos a usar com mai­or frequên­cia é a expres­são “fle­xi­bi­li­za­ção”. Isso por­que uma das impo­si­ções da pan­de­mia são as res­tri­ções indi­ca­das pelos sani­ta­ris­tas visan­do con­ter o con­tá­gio do vírus. E apren­de­mos a dizer que, quan­do o rela­xa­men­to des­sas res­tri­ções acon­te­ce, está se fazen­do uma flexibilização.

Quan­tos se lem­bram de que, logo nos pri­mei­ros meses das res­tri­ções no Esta­do de São Pau­lo, foi defi­ni­da uma data para o fim da qua­ren­te­na e, con­se­quen­te­men­te, a fle­xi­bi­li­za­ção das res­tri­ções? Con­tu­do, no segun­do adi­a­men­to, o gover­no esta­du­al deci­diu não mais esta­be­le­cer uma data para o fim da qua­ren­te­na e, àque­la altu­ra, a fle­xi­bi­li­za­ção esta­va fora de cogi­ta­ção. Mas, além da fle­xi­bi­li­za­ção no que diz res­pei­to à mobi­li­da­de e aglo­me­ra­ções, há tam­bém uma fle­xi­bi­li­za­ção inte­ri­or, que tem a ver com nos­sas pri­o­ri­da­des e para­dig­mas de vida e tem nos desa­fi­a­do nes­te tempo.

Mui­tos foram os ajus­tes e adap­ta­ções neces­sá­ri­os para con­ti­nu­ar­mos viven­do com segu­ran­ça duran­te a pan­de­mia. Os modos de estu­dar, de tra­ba­lhar, de se diver­tir e de con­gre­gar tive­ram que mudar. Entre­tan­to, essas mudan­ças exter­nas impos­tas pela pan­de­mia não neces­sa­ri­a­men­te acom­pa­nha­ram as mudan­ças que tive­ram de acon­te­cer den­tro de nós. Lem­bre­mos o quan­to foi abrup­ta a defi­ni­ção das res­tri­ções, ain­da que elas sejam neces­sá­ri­as. Só para exem­pli­fi­car, num domin­go à noi­te está­va­mos cul­tu­an­do na igre­ja e, no domin­go seguin­te, o tem­plo esta­va fecha­do e per­ma­ne­ceu assim por qua­se um ano inteiro.

Mais do que uma mudan­ça de hábi­tos e roti­nas, tive­mos de mudar nos­sa for­ma de pen­sar, de nos orga­ni­zar, de valo­rar, de cor­res­pon­der, de viver. Des­co­bri­mos que é impos­sí­vel con­ver­ter ple­na­men­te uma vida pre­sen­ci­al em vir­tu­al. Nos­sa estru­tu­ra inter­na gri­ta den­tro de nós por uma vida pre­sen­ci­al, mas a res­pos­ta exter­na é de que isso não é pos­sí­vel. Eis o con­fli­to esta­be­le­ci­do, eis a chan­ce e, para mui­tos, a rea­li­da­de de uma crise.

A con­clu­são mais sábia e salu­tar é a seguin­te: pre­ci­sa­mos fle­xi­bi­li­zar conos­co mes­mos e com o outro. Pre­ci­sa­mos enten­der que a pan­de­mia nos impõe uma dura rea­li­da­de: a per­da é um fato ine­vi­tá­vel. Por isso, pre­ci­sa­mos ajus­tar, pon­de­rar e, lite­ral­men­te, fle­xi­bi­li­zar nos­sas expec­ta­ti­vas, nos­sas exi­gên­ci­as e nos­sos parâ­me­tros. Pre­ci­sa­mos cobrar menos, pre­ci­sa­mos exi­gir menos, pre­ci­sa­mos tole­rar mais – e isso se apli­ca a nós e a todos com quem con­vi­ve­mos. Se qui­ser­mos man­ter o mes­mo rit­mo e o mes­mo for­ma­to de vida que tínha­mos antes da pan­de­mia, ire­mos ine­vi­ta­vel­men­te ado­e­cer a nós e aos outros.

Per­ce­bo que mui­tos têm tido essa difi­cul­da­de de fle­xi­bi­li­zar con­si­go mes­mos e com o outro. Ouvi de uma pes­soa, há sema­nas, o seguin­te ques­ti­o­na­men­to: “Mas por que fula­no não está dan­do con­ta, se é algo tão sim­ples?”. Então eu per­gun­tei à pes­soa: “É sério que você não sabe por que fula­no não está dan­do con­ta?”. E, para minha sur­pre­sa, a res­pos­ta foi: “Não, não sei”. Com mui­ta paci­ên­cia, lem­brei à pes­soa que esta­mos no meio de uma pan­de­mia e que isso acar­re­ta uma série de difi­cul­da­des em todas as áre­as das nos­sas vidas.

Meu que­ri­do irmão, minha que­ri­da irmã, peço a você, pelo seu bem e pelo bem de quem con­vi­ve com você: flexibilize!

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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