Graças a Deus estamos caminhando para o fim do processo eleitoral de 2018. Digo isso porque o estado de catarse e histeria que contaminou grande parte da população brasileira está chegando a um nível insuportável. Se, por um lado, nunca se discutiu tanto sobre política – o que é bom, pois antes a despolitização do povo era seu ponto mais fraco na hora de votar –, por outro lado, um princípio básico da democracia e do debate político foi esquecido: o respeito à divergência.
Neste pleito, a diversidade político-ideológica floresceu com uma grande beleza; muitas vertentes e ênfases políticas tiveram a oportunidade de se expressar, o que é muito bom. Isso revela o quanto somos plurais e que não há uma forma única de se pensar a política e de se governar. Essa é a riqueza de um povo, de uma nação livre. E, diante de diferentes opções, as pessoas puderam então refletir, optar e se manifestar de acordo com suas convicções e princípios.
Contudo, é próprio da democracia respeitar as diferenças, respeitar a opção de cada um, respeitar inclusive os exageros, as opiniões mais acaloradas, as polarizações. E respeitar aqui não significa concordar, aprovar ou acatar, mas sim tolerar, ou seja, permitir que o outro se expresse, mesmo que esteja errado. E, caso o outro lado queira discordar, que o faça dentro do campo das ideias. Talvez, após um longo debate e argumentação, nenhum dos dois lados mude de posição, o que também faz parte do jogo democrático.
Mas o que assistimos atônitos (pelo menos no meu caso) é a incapacidade de tolerar as posições divergentes, a incapacidade de acolher as pessoas acima de suas ideias. Inúmeros foram os casos de gente que sofreu agressões de toda sorte, inclusive física, por conta do seu posicionamento político. Famílias, amizades e igrejas foram abaladas por conta da falta de tolerância. Nas redes sociais, em especial, testemunhamos absurdos incalculáveis, mentiras em cima de mentiras, insultos, exposições da vida particular, questionamentos sobre a integridade e a fé das pessoas. Vimos também um grande número de indivíduos extremamente desinformados dizendo que no Brasil se instauraria um regime fascista ou uma ditadura bolivariana. Basta conhecer um pouco de história, das instituições democráticas e do sistema político-econômico para saber que ambas as possibilidades são altamente improváveis de ocorrer no Brasil.
Mas o que mais me chocou foi ver cristãos e cristãs sendo intolerantes, pois quem me conhece sabe do meu apego à coerência, e não há nada mais incoerente do que um cristão intolerante. Jesus foi vítima de intolerância no Seu tempo. Os interesses políticos, religiosos e econômicos dos romanos e de boa parte dos judeus O levaram para a cruz. Não toleraram sua pregação contra a desigualdade, contra a exclusão, contra o acúmulo, contra a avareza, contra a religiosidade. Em contrapartida, Jesus tolerou o instável Pedro, o mimado João, o inescrupuloso Judas. E tolerou a todos nós ao morrer na cruz por causa dos nossos pecados, por causa, inclusive, dos nossos posicionamentos políticos anticristãos.
A melhor forma de demonstrarmos o amor de Deus é respeitando as pessoas e suas opiniões. Talvez você questione: “E se a pessoa estiver pecando com sua opinião?”. Cabe a nós ajudarmos em amor essa pessoa a pensar e, caso ela não mude de ideia, devemos continuar amando‑a e deixar que o Espírito Santo convença a cada um de nós do nosso pecado.
Que possamos escolher, acima de tudo e de todos, Jesus!
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin