“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados” (Mc. 16.14–18).
Quero compartilhar com os irmãos e irmãs um fato que me inspirou a escrever esta pastoral para o Boin. Acompanhei pela televisão a transmissão completa do culto que era veiculado ao vivo por uma igreja neo-pentecostal presidida por um pseudoapóstolo. Confesso que tive de exercer muita paciência para poder assistir toda a cerimônia, que era celebrada num grande galpão construído na Avenida João Dias para fazer frente à “concorrente” que possui uma catedral na mesma avenida.
O culto tem uma estrutura bastante simplificada, mas há um momento que acontece antes do início que é crucial para seu desenrolar. É a hora em que o dono/presidente da denominação impõe suas mãos sobre centenas e centenas de pessoas, no mais puro sistema fast food (aquela comida feita e entregue rapidamente, em oposição a slow food, refeição que se prepara sem pressa e se saboreia com prazer). Todos(as) são conduzidos(as) rapidamente a uma longa fila para, numa rápida oportunidade, serem resvalados pelas mãos do “apóstolo” em suas cabeças. Nesse momento, o pastor não se dirige a essas pessoas nem mesmo com o olhar, e muito menos com palavras.
Dá-se então início ao culto propriamente dito. São ministrados alguns cânticos e logo em seguida abre-se a oportunidade para os testemunhos de milagres de ordem física que ocorreram no momento em que as pessoas foram tocadas pelo “apóstolo” antes de o culto começar. Na sequencia, há mais uma pequena sessão de cânticos, à qual se segue a pregação conduzida de maneira muito simples e superficial. A reunião acaba com um interminável apelo por ofertas para sustentar a “obra” e seus mais diferentes veículos de comunicação, especialmente a televisão. E assim se dá o fim da cerimônia.
Calculo que 80% do culto esteve dividido entre os testemunhos dos milagres e os apelos por fundos, uma pequena parcela para as músicas e um tempo ínfimo para a ministração da palavra de Deus. Não vou aqui gastar tempo analisando a postura do dirigente da igreja televisiva (ou a falta dela). Quero me deter num fato em especial: não há dúvida de que pessoas realmente são curadas de doenças, enfermidades e males físicos nessa igreja; minha dúvida, e grande preocupação, é se elas estão encontrando a salvação para suas almas.
Parto da nossa realidade como denominação e comunidade de fé para fazer essa reflexão e críticar esse tipo de “evangelho” capenga. No entanto, ainda que digamos que o evangelho de Cristo esteja sendo deturpado, ele bem ou mal está sendo pregado. “Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós é por nós” (Mc. 9.39–40). E nós o que temos realizado? Só criticamos ou temos feito a diferença de verdade na vida das pessoas e no mundo?
Com carinho e estima pastoral
Pr. Tiago Valentin