“Com o tempo de vida reduzido pela poluição, as quaresmeiras de São Paulo estariam dando floradas mais viçosas e mais frequentes. Alguns grupos da árvore, por conta do estresse da cidade, chegam a florir três vezes por ano. Segundo biólogos e engenheiros, as plantas estressadas sabem que terão vida mais curta e produzem mais flores para garantir mais sementes e mais descendentes. A floração é a forma de perpetuação da espécie. Nas quaresmeiras, as mais velhas vão ficando cada vez mais exuberantes. Diz a bióloga Célia de Assis: ‘Quando florescem, as plantas estão tentando produzir frutos e sementes para deixar descendentes. Quando submetidas a um estresse, as árvores sabem que podem perecer mais rápido’.”
(“Olhem nossas flores: a florada das quaresmeiras é como se fosse o último grito do verde na cidade” – reportagem de Aureliano Biancarelli, Folha de S. Paulo, 3/3/2002)
Jesus disse: “Olhem os lírios no campo, que não fiam, mas Deus os veste de uma beleza sem igual”; “Observem a árvore que não dá fruto e, portanto, deve ser cortada”; ou ainda: “Vejam os campos, pois estão prontos para a colheita” (Mt 6:28; Mt 7:19–20; Jo 4:35).
A intenção de Jesus ao nos pedir que olhemos as flores e árvores é para aprendermos delas! Esse gesto de Jesus, e agora também das quaresmeiras, nos faz perceber o quanto é importante dar frutos, alegrar os lugares por onde passamos e deixar em tudo e em todos um aroma suave de ternura, felicidade, amor e paz.
Quando imagino as quaresmeiras floridas de forma tão exuberante, e com a possível intenção de com isso perpetuar a espécie, penso na grande possibilidade que Deus tem nos dado, ou seja, Ele quer que aprendamos das flores os sinais que valorizam a vida; Ele quer que descubramos, observando os lírios, as flores do campo e as quaresmeiras, o quanto é importante valorizar o amor a nós mesmos, ao próximo, à criação, ao nosso planeta. Quando deixamos de olhar para as flores, somos sufocados por este mundo que luta, que destrói a natureza, faz guerras e impede que o amor floresça na igreja, na família e em tudo. A triste realidade é que há um senso comum de banalização da vida que nos faz secar e não produzir mais frutos; esvaem-se a alegria, a saúde integral, os frutos do espírito, o amor ao próximo e a harmonia com a natureza.
Como as quaresmeiras, podemos promover uma reação. Não devemos permitir que o estresse deste mundo venha encurtar nossas vidas, fazer-nos secar e morrer. Em Deus e nos poetas aprendemos a importância de amar. Gióia Junior, num de seus poemas, escreve: “Que coisa tola meu amor me disse! / – antes nunca o dissesse – / falou-me que está perto da velhice, / que a tarde finda e a noite escura desce. / Deixa-te de tolice, por favor! / Envelhecemos, sim, mas só quando envelhece / o único bem da juventude: o amor!”.
Quero pedir que vocês observem as flores com maior atenção; olhem para o exemplo das quaresmeiras, que, apesar de todas as impossibilidades impostas por este mundo, insistem em florir mais, enchendo as ruas e as calçadas de flores roxas e rosadas. E, na medida em que as flores vão sendo amassadas pelos pés e pneus dos que apressadamente correm, não tendo tempo para viver, elas nos trarão sempre um aroma, um cheiro bom, anunciando-nos que é preciso viver, que é preciso dar frutos, que é preciso florir mais para perpetuar a espécie; para dizer aos que anunciam morte, tristeza e guerra que as flores e seu perfume sobrepujarão a tudo e a todos e teimosamente continuarão a florir mais e mais, a fim de que a vida abundante seja sempre o anúncio de tempos novos.
As quaresmeiras aprenderam que, para continuar a vida, elas terão de florir mais vezes ao ano, pois se perpetuarão na medida em que produzirem mais sementes. Ah, quaresmeiras! Que a floração de vocês seja cada vez mais intensa e mais árvores cresçam pelos caminhos deste mundo! Assim, nós também vamos aprender a optar por florir mais e encantar mais o mundo, nossas casas e os lugares por onde passarmos com flores de esperança, de vida e de amor.
Continuemos aprendendo com as flores!
Até a volta!
Por Dílson Júlio da Silva, teólogo e membro da Igreja Metodista em Itaberaba