Extraordinário no ordinário

Bar­ti­meu”, por Kees de Kort

Mila­gre: acon­te­ci­men­to extra­or­di­ná­rio, inco­mum ou for­mi­dá­vel que não pode ser expli­ca­do pelas leis natu­rais. Sim, um mila­gre é algo extra­or­di­ná­rio! E extra­or­di­ná­rio é aqui­lo que não é ordi­ná­rio, que por sua vez sig­ni­fi­ca: o que é comum, ou a ordem natu­ral das coisas.

Por­tan­to, mila­gre é tudo aqui­lo que alte­ra a ordem natu­ral das coi­sas, aqui­lo que muda o seu dia, a sua vida. O minis­té­rio de Jesus na Ter­ra nada mais foi do que a mani­fes­ta­ção do extra­or­di­ná­rio no ordi­ná­rio. As pala­vras e ati­tu­des e o “sim­ples” exis­tir de Jesus muda­ram a vida das pes­so­as, ou o que era ine­vi­tá­vel ou irre­me­diá­vel para muitos.

Por exem­plo, o ordi­ná­rio para o cego Bar­ti­meu seria ficar à bei­ra do cami­nho pelo res­to de sua vida, mar­gi­na­li­za­do, excluí­do, limi­ta­do. Mas algo extra­or­di­ná­rio alte­rou a ordem do seu dia: ele se encon­trou com Jesus, com Sua aten­ção, com Seu cui­da­do. As pala­vras do Mes­tre cura­ram Bar­ti­meu, o qual, para além da sua visão físi­ca, pode vol­tar a enxer­gar com os olhos da fé, com os olhos da espe­ran­ça, e esco­lheu o melhor cami­nho, seguin­do a Jesus.

O que dizer do homem com lepra, tam­bém mar­gi­na­li­za­do e excluí­do pelo pre­con­cei­to soci­al e reli­gi­o­so, fada­do irre­ver­si­vel­men­te a ter de se acos­tu­mar com o sofri­men­to. Entre­tan­to, um ges­to de Jesus, ape­nas um ges­to, ope­rou um mila­gre. Algo extra­or­di­ná­rio se deu den­tro daqui­lo que não era nor­mal acon­te­cer. O Mes­tre tocou aque­le homem con­si­de­ra­do impu­ro. Milagre!

Não nos fal­tam exem­plos do extra­or­di­ná­rio impac­to que Jesus cau­sa­va na vida das pes­so­as, mas per­mi­ta-me dar ape­nas mais um, que con­si­de­ro ser óti­mo: o encon­tro de Jesus com a mulher sama­ri­ta­na. Como sabe­mos, ela vivia uma vida pro­mís­cua, fru­to de uma dis­fun­ção de sua iden­ti­da­de. Era alguém que não se ama­va, que não con­se­guia se ver com os olhos gra­ci­o­sos do Pai; alguém que, para suprir o vazio da sua exis­tên­cia, bus­ca­va no pra­zer efê­me­ro satis­fa­ção para sua alma vazia, frus­tra­da e inqui­e­ta. O nor­mal na vida daque­la mulher era ser abu­sa­da, jul­ga­da e des­va­lo­ri­za­da. Con­tu­do, algo anor­mal acon­te­ceu naque­le dia quen­te, à bei­ra do poço de Jacó. Um judeu falou com ela, repi­to, ape­nas falou com ela, mas com res­pei­to, hones­ti­da­de e gra­ça. E sua vida foi trans­for­ma­da pelo extra­or­di­ná­rio amor de Deus.

Jesus fez mui­tas outras coi­sas que extra­po­la­ram a ordem natu­ral: andou por sobre as águas, trans­for­mou água em vinho, mul­ti­pli­cou pães e pei­xes etc. Mas peque­nos ges­tos, como aten­ção, um toque ou um olhar afe­tu­o­so, foram capa­zes de trans­for­mar a dor, a exclu­são e o sofri­men­to, a prin­cí­pio ine­vi­tá­veis para mui­tas pes­so­as. Coi­sas sim­ples tor­na­ram-se extra­or­di­ná­ri­as naqui­lo que esta­va deter­mi­na­do no ordinário.

Somos con­vi­da­dos hoje, sob a ação do Espí­ri­to San­to, a mani­fes­tar­mos da manei­ra mais con­cre­ta e den­sa a pes­soa de Cris­to por meio de peque­nos ges­tos que pos­sam, quem sabe, se tor­nar ver­da­dei­ros mila­gres na vida das pes­so­as. Deus mani­fes­ta o extra­or­di­ná­rio no ordi­ná­rio de mui­tas manei­ras, assim como diz a can­ção de Pau­lo Cesar Baruk: “Na folha que cai, na flor que bro­ta / Na onda que vai, no ven­to que sopra / No homem que sen­te, as ale­gri­as da vida / No peque­no que apren­de, o que o mes­tre ensi­na / Na mãe que con­so­la a cri­an­ça nos bra­ços / Em cada estre­la que bri­lha no espa­ço / No pai que abra­ça o filho que volta/ No escra­vi­za­do que das alge­mas se sol­ta / Deus está eu sei / Deus está”.

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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