Menos ideologia e mais teologia

Ontem (7 de setem­bro), come­mo­ra­mos mais um ano da inde­pen­dên­cia do Bra­sil, uma data para cele­brar nos­sa naci­o­na­li­da­de, nos­sa cul­tu­ra e nos­sa his­tó­ria. Con­tu­do, fico me per­gun­tan­do se temos tan­tos moti­vos para comemorar.

Mui­tos ana­lis­tas econô­mi­cos já estão cons­ta­tan­do que esta­mos enfren­tan­do mais uma reces­são econô­mi­ca, com milhões de pes­so­as desem­pre­ga­das e a desi­gual­da­de soci­al cada dia mais acen­tu­a­da. Além dis­so, um fenô­me­no mais recen­te vem asso­lan­do nos­sa soci­e­da­de: a pola­ri­za­ção polí­ti­ca, que pro­mo­ve um cli­ma de cons­tan­te ten­são entre as pes­so­as e os mais dife­ren­tes grupos.

A con­sequên­cia natu­ral des­sa pola­ri­za­ção são os extre­mis­mos. Para defen­der sua ide­o­lo­gia, as pes­so­as par­tem para a agres­são, a des­mo­ra­li­za­ção, a men­ti­ra, e rom­pem rela­ci­o­na­men­tos e laços por cau­sa de um ideá­rio que jul­gam ser supe­ri­or aos outros. O inte­res­san­te, e qua­se cômi­co, é que a as duas reces­sões econô­mi­cas mais recen­tes que enfren­ta­mos acon­te­ce­ram em gover­nos de ide­o­lo­gi­as opos­tas, um de esquer­da e outro de direi­ta. Ou seja, uma linha de pen­sa­men­to polí­ti­co por si só pare­ce não ser capaz de dar con­ta das gran­des deman­das da sociedade.

Pou­cos dias atrás, fomos sur­pre­en­di­dos com um núme­ro ina­cre­di­tá­vel de eco­lo­gis­tas que sur­gi­ram no Bra­sil. De repen­te milha­res de pes­so­as resol­ve­ram amar a Amazô­nia, e tão sur­pre­en­den­te quan­to isso foi ver gen­te rela­ti­vi­zan­do o pro­ble­ma do des­ma­ta­men­to e sua con­sequên­cia natu­ral para o meio ambi­en­te. O fato é que pou­cos sabi­am do que esta­vam falan­do, mas aca­ba­ram se expres­san­do para um ou para outro lado, base­an­do-se ape­nas em nar­ra­ti­vas polí­ti­cas e ide­o­ló­gi­cas. Mais uma vez emba­tes, men­ti­ras, incoerências.

Esse movi­men­to de pola­ri­za­ção de ide­o­lo­gi­as é ine­vi­ta­vel­men­te con­fli­tan­te com a prá­ti­ca do cris­ti­a­nis­mo. Pri­mei­ro e mais impor­tan­te é o fato de que as pes­so­as estão base­an­do suas vidas em ide­o­lo­gi­as. De acor­do com uma filó­so­fa bra­si­lei­ra, ide­o­lo­gia “é um con­jun­to lógi­co, sis­te­má­ti­co e coe­ren­te de repre­sen­ta­ções (idei­as e valo­res) e de nor­mas ou regras (de con­du­ta) que indi­cam e pres­cre­vem aos mem­bros da soci­e­da­de o que devem pen­sar e como devem pen­sar, o que devem valo­ri­zar e como devem valo­ri­zar, o que devem sen­tir e como devem sen­tir, o que devem fazer e como devem fazer.[…] A fun­ção da ide­o­lo­gia é a de apa­gar as dife­ren­ças, como as de clas­ses, e for­ne­cer aos mem­bros da soci­e­da­de o sen­ti­men­to de iden­ti­da­de soci­al”. Nós cris­tãos não deve­mos pen­sar, valo­ri­zar, sen­tir nem fazer nada base­a­dos num con­jun­to de idei­as, mas, sim, base­a­dos no tes­te­mu­nho e na obra reden­to­ra de Jesus Cris­to. E tal prá­ti­ca de vida não é pos­sí­vel com base sim­ples­men­te numa com­pre­en­são lógi­ca e raci­o­nal, mas, sobre­tu­do por­que cre­mos, e só somos capa­zes de crer por­que Deus nos alcan­çou com Sua graça.

Só tere­mos um mun­do mais jus­to e sem dife­ren­ças quan­do as pes­so­as muda­rem, e não somen­te os sis­te­mas. Não há no mun­do intei­ro um exem­plo sequer que com­pro­ve que uma ide­o­lo­gia polí­ti­ca foi capaz de apa­gar ple­na­men­te e indis­tin­ta­men­te as dife­ren­ças de clas­se, isso por­que os sis­te­mas não são capa­zes de mudar o cará­ter das pes­so­as. A úni­ca for­ça capaz dis­so é a obra reden­to­ra de Cristo.

Real­men­te, não temos mui­tos moti­vos para fes­te­jar nos­sa nação. Con­tu­do, nós cris­tãos pode­mos fazer duas coi­sas mui­to úteis visan­do a sua trans­for­ma­ção: pri­mei­ro, orar por nos­so país, em espe­ci­al por nos­sas auto­ri­da­des; segun­do, per­mi­tir que dia a dia o Senhor mol­de nos­so cará­ter e que essa mudan­ça seja tes­te­mu­nha­da por nos­sas ati­tu­des e pala­vras para que outras pes­so­as tam­bém sejam trans­for­ma­das pelo poder da cruz. E assim, quem sabe, fare­mos uma gran­de trans­for­ma­ção no Brasil.

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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