“Por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas dentro em mim?” (Salmo 42.11)
Chega um momento na vida que é necessário enfrentar nossos fantasmas interiores e questionar o nosso viver. No Salmo 42 encontramos uma preciosidade que pode muito nos ajudar. Ali, o salmista assume a posição de indagar a si próprio sobre o seu estado de perturbação. É importante que façamos o mesmo. Mas quem está disposto a obter respostas sinceras? Quem está disposto a descobrir a verdadeira razão das enfermidades do seu ser?
O salmista se pergunta sobre a razão de seu abatimento: “Por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas dentro em mim?” Por que a ansiedade? Por que a perturbação? O que há por trás desse turbilhão de sentimentos que me tornam depressivo e arredio?
Passamos boa parte de nossa vida fugindo daquilo que tememos. Questionar-se é saudável. Lançar um olhar para a alma é sinal de maturidade. Inquirir-se de suas verdadeiras razões levam a um melhor relacionamento com Deus, com o próximo e conosco mesmos.
Temos dificuldades imensas em nos compreender. Chegamos mesmo a nos surpreender com os sentimentos controversos que habitam nossa alma. É necessário perguntar à alma o que está acontecendo. É imperioso que a mente se torne inquiridora em busca de respostas sinceras, ao invés de tergiversar.
O Espírito Santo pretende amorosamente nos levar à transparência do ser e à pureza de sentimentos. “Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento”, diz o salmista. Somente respostas sinceras podem tirar as escamas de nossos olhos. Por isso, coloque-se na posição de um inquiridor que deseja encontrar respostas e pergunte.
Pergunte à sua alma se ela não dramatiza demais as situações. O que lhe aconteceu é triste? Com certeza, mas não dramatize, não exagere, não chore além das medidas, não faça como Jacó que quando recebeu a notícia da morte de seu filho José “recusou a ser consolado” (Gn 37.35). Quem sabe Deus esteja colocando coisas novas em sua vida, mas seus olhos chorosos o impedem de ver.
Sua alma vive carregada de culpa? Você tem apresentado os seus pecados a Deus e mesmo assim não se sente aliviado, perdoado? A mulher pega em flagrante adultério quase foi apedrejada, mas Jesus não a condena, perdoa-lhe e manda seguir o seu caminho. Ela vai em paz. Mas você não! Deus lhe perdoou, o mundo lhe perdoou, mas sua alma continua cobrando compulsivamente. Não há descanso, nem alívio, mas uma necessidade mórbida de “sentir-se culpado” de alguma coisa. Pergunte à sua alma porquê e ela vai lhe dizer o quanto você precisa se punir o tempo todo, pois no fundo se sente incapaz de descansar na Graça.
Sua alma nunca se alegra verdadeiramente com nada? Sua alma espera por algo e quando recebe não dá tanto valor? Exige muito do outro? Talvez sua alma viva numa auto-ilusão. É uma busca inútil de quem rejeita tudo o que é humano. Pergunte à alma e descobrirá que no fundo você não aceita os seus próprios erros, tem medo de encará-los e projeta “lá fora” nos outros os defeitos aí de dentro. Há um “buraco” neste coração, e sua alma sabe disso.
Você depende demasiadamente da aprovação dos outros, e se sente sem liberdade de dizer o que pensa? Sua alma quer ter o controle de tudo? Pergunte à alma e ela lhe dirá que você tem dentro de si um grande “ladrão de alegria”. Não é de admirar o pessimismo, o medo de errar, e que as coisas estejam fora do seu controle.
Somente com coragem saberemos as respostas para sair deste círculo vicioso. Não tenha medo de descobrir que a maior parte dos seus problemas foram “fabricados”. É necessário que vejamos como nós somos. O Evangelho é o espelho que vai mostrar as profundezas do nosso ser. O Espírito Santo é a sonda que invade o nosso coração e nos mostra o que se esconde por trás de nossas doenças.
O salmista venceu o desencanto de sua vida levando a alma a crer nas promessas de Deus. Ele recusou a permanecer abatido, mas levantou a cabeça para não se afogar nas mágoas e decepções. Faça você também o mesmo e “espera em Deus, pois ainda o louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.11b).
Pr. Daniel Rocha
Obrigado!
Como são assertivas essas reflexões!