“As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade (Lamentações 3:22–23).
Um dos episódios mais delicados registrados na Bíblia é a mentira de Abraão sobre Sara, sua mulher. No contexto em que Abraão vivia, era permitido ao rei, quando interessado por uma mulher casada, executar seu marido para, assim, possuí-la. Já, se a mulher desejada pelo rei fosse solteira, ele simplesmente a possuía.
O capítulo 20 de Gênesis relata que Abraão e Sara foram habitar na cidade de Gerar, governada pelo rei Abimeleque. Ao chegar a Gerar, Abraão enviou Sara a Abimeleque e, com a finalidade de se livrar de uma possível execução, declarou que ela era sua irmã. Contudo, Abraão não contava que o rei de Gerar fosse um homem temente a Deus e que o Senhor o advertiria em sonho sobre sua atitude de tomar para si uma mulher casada. Abimeleque, que ainda não havia se deitado com Sara, expressou sua total falta de conhecimento de que ela fosse casada e imediatamente declarou-se arrependido (Gn 20:3–5).
O rei então procurou Abraão e o questionou sobre sua postura. Diante do confronto, Abraão confessou sua mentira e revelou surpresa: “Eu dizia comigo mesmo: ‘Certamente não há temor de Deus neste lugar, e eles me matarão por causa da minha mulher’” (Gn 20:11). Abraão não esperava que Abimeleque fosse um homem temente a Deus.
Diante do engodo e da posição de total exposição em que foi colocado, Abimeleque poderia ter exterminado Abraão e toda a sua família. Mas, porque o rei temia a Deus, perdoou Abraão e, mais do que isso, honrou o profeta do Senhor e sua mulher (Gn 20:15–16). Perceba que o que fez o rei perdoar Abraão não foi o poder do patriarca, a sua posição, o nome de sua família, o seu cargo e muito menos a sua sinceridade e integridade. O que fez o rei ter misericórdia de Abraão foi o seu temor a Deus.
Essa é uma lição fundamental para a nossa vida: não é sobre nós, mas sobre Ele! As bênçãos que desfrutamos, os livramentos que experimentamos, a honra que recebemos não são por causa do nosso valor ou por algum mérito de nossa parte, mas sim pela graça e pela misericórdia do Senhor. O fato de Abraão ser o Pai da Fé, amigo de Deus e patriarca dos patriarcas não fez nenhuma diferença quando sua mentira foi constatada. Aliás, o mais surpreendente é que, apesar de toda a sua relevância e notoriedade, Abraão era também um grande mentiroso.
Entenda isso: nem as qualidades nem os defeitos de Abraão fizeram a diferença no episódio relatado em Gênesis 20. O que fez toda a diferença foi o fato de Abimeleque ser temente a Deus e, por conhecer a Deus e Seu caráter, poupou Abraão. Portanto, quem fez toda a diferença naquele caso, e ainda faz até hoje em nossas vidas, é o Senhor.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin