Cuidado, crente anti-social

Tor­nou-se comum dian­te de casas com cães bra­vos colo­car-se uma pla­ca dizen­do “Cui­da­do: cão anti-soci­al”. Na ver­da­de, o cão é uma fera capaz de pro­du­zir gra­ves feri­men­tos em quem inva­dir o seu ter­ri­tó­rio, mas o dono infor­ma que ele é ape­nas “anti-soci­al”. Tra­ta-se de um recur­so lingüís­ti­co cha­ma­do de “eufe­mis­mo”.

Que­ro me valer de um eufe­mis­mo para dizer que mais do que nun­ca esta­mos cer­ca­dos por aque­le tipo de evan­gé­li­co que eu cha­mo de “cren­te anti-soci­al”. E quem é ele?

Pri­mei­ra­men­te, ele é um hedo­nis­ta espi­ri­tu­al, ou seja, vive em bus­ca inces­san­te do pra­zer pes­so­al. Tudo gira em tor­no dele e para ele. Suas ora­ções, seus cân­ti­cos, sua bus­ca é para sua satis­fa­ção somen­te. Não há o outro, não há o ser­vir, não há dese­jo em ser ins­tru­men­to, mas espe­ra tão somen­te rece­ber. Isso fica mui­to cla­ro quan­do vemos na TV audi­tó­ri­os lota­dos de pes­so­as com os olhos fecha­dos, o cenho fran­zi­do, expres­são de suplí­cio, a mão na cabe­ça, como que ten­tan­do fazer con­ta­to com algo supe­ri­or e ganhar o “prê­mio” que foi ali bus­car. São hedo­nis­tas em bus­ca da satis­fa­ção pes­so­al, e pou­co impor­ta a eles a famí­lia, a comu­ni­da­de, quem está ao seu lado, se o outro está sofren­do, se ele pode­ria ser útil… não, nada dis­so impor­ta a não ser o “seu” pra­zer. O cren­te anti-soci­al não con­se­gue enxer­gar mais nada além de si mes­mo. O seu rela­ci­o­na­men­to com Deus é obses­si­vo, cheio de sofreguidão.

Isso tudo me faz pen­sar que há somen­te duas manei­ras de se viver e nós somos cha­ma­dos a nos posi­ci­o­nar: ou vive­mos de uma for­ma ego­cên­tri­ca ou de uma for­ma cristocêntrica.

O ego­cên­tri­co só pen­sa em si mes­mo, nun­ca está satis­fei­to, sem­pre quer mais. É uma ver­da­dei­ra cri­an­ça – mima­da e infe­liz. Deus para ele é ape­nas um supri­dor dos capri­chos de sua men­te insa­tis­fei­ta. Nor­mal­men­te são pes­so­as de difí­cil tra­to, fecha­das em si, des­con­fi­a­das, sem­pre com pé atrás, inca­pa­zes de se abrir e bai­xar a guar­da. Jamais falam com trans­pa­rên­cia. Jamais trans­pas­sam natu­ra­li­da­de. É cada um cui­dan­do do seu jar­din­zi­nho e fazen­do da fé cris­tã a comu­ni­da­de mais indi­vi­du­a­lis­ta e pre­o­cu­pa­da con­si­go mes­ma na face da Terra.

Por outro lado, o cris­to­cên­tri­co se ale­gra em Deus e tudo o que ele faz é para agra­dar ao Senhor. O seu pra­zer está em ser útil ao Rei­no. Ele reco­nhe­ce o amor de Deus em cada momen­to da vida, sen­te-se ama­do e guar­da­do, por isso não tem medo de mos­trar suas fra­que­zas. Pre­o­cu­pa-se com o outro, com o irmão e com o seu pró­xi­mo, não por­que é de sua igre­ja ou de sua fé, mas por­que tem um amor no cora­ção que não dis­tin­gue pes­so­as. É aque­le tipo de gen­te capaz de tirar um pre­go da rua sim­ples­men­te por­que “alguém” que ele não conhe­ce pode se ferir (aliás, esse seria um bom cri­té­rio para ava­li­ar mui­ta gen­te que diz estar cheia de amor pela humanidade).

O cris­to­cên­tri­co não vive em bus­ca do pra­zer por­que a vida dele é pra­ze­ro­sa, é bem-aven­tu­ra­da, é leve e sol­ta. Ele não pre­ci­sa “cri­ar” cli­ma para estar bem, ele não pre­ci­sa desen­vol­ver uma per­for­man­ce para “sen­tir” Deus. Para ele não impor­ta se está no tem­plo em casa ou em meio a natu­re­za – ele se sen­te bem em todos os luga­res. Ele sabe que Deus está com ele, quer sin­ta, quer não. Ele sabe ter uma vida agra­dá­vel a Deus quer este­ja no tem­plo ou numa mas­mor­ra. Ele não pre­ci­sa rece­ber algo de Deus para ser feliz, pois em Deus ele tem tudo o que pre­ci­sa – Deus é a sua fon­te de alegria.

A pre­sen­ça divi­na em nós nos tor­na huma­nos, ter­nos, afá­veis, soli­dá­ri­os, bon­do­sos, nos dá sen­si­bi­li­da­de à alma e sabe­do­ria que vem do Alto. Toda espi­ri­tu­a­li­da­de que nos afas­ta des­sa huma­ni­da­de é peri­go­sa e demo­nía­ca, pois nos fecha no egoís­mo e no indi­vi­du­a­lis­mo, carac­te­rís­ti­cas luci­fe­ri­a­nas que o leva­ram a cair de seu esta­do ori­gi­nal. Pen­se nisto!

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

4 Replies to “Cuidado, crente anti-social”

  1. Socor­ro, esse arti­go me des­cre­veu total­men­te , o que pos­so fazer para mudar isso, meu Deus orem comi­go, nun­ca pen­sei que che­ga­ria a esse esta­do, como sou egoista!

    1. Sobre ser antis­so­ci­al — Você pode ser intro­ver­ti­da, pro­cu­re se conhe­cer mais. Ago­ra se a defi­ni­ção de egoís­ta lhe des­cre­veu, bas­ta dei­xar mais as suas von­ta­des de lado e fazer as coi­sas pelas outros como se fizes­se para si mes­ma, o egois­mo tem a ver com orgu­lho e o opos­to do orgu­lho é humildade.

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