Crente ostentação

Um dos prin­ci­pais male­fí­ci­os que uma soci­e­da­de de con­su­mo igual a nos­sa pode tra­zer é o dese­jo incon­tro­lá­vel e insa­ciá­vel de osten­tar. A osten­ta­ção nada mais é do que o ato de expor o máxi­mo pos­sí­vel uma situ­a­ção ou algu­ma coi­sa adqui­ri­da, o que, den­tro da lógi­ca con­su­mis­ta, fútil e ali­e­na­da da soci­e­da­de con­tem­po­râ­nea, é vis­to como natural.

Infe­liz­men­te, nos últi­mos 40 anos, por influên­cia da teo­lo­gia da pros­pe­ri­da­de, a osten­ta­ção tem sido cada vez mais apre­go­a­da e valo­ri­za­da no con­tex­to evan­gé­li­co bra­si­lei­ro. Tal­vez uma das fra­ses que mais sin­te­ti­zem isso é: “Somos filhos do Rei e por isso mere­ce­mos ter uma vida de rei”. O argu­men­to da teo­lo­gia da pros­pe­ri­da­de é tão fra­co que, para ser der­ru­ba­do, bas­ta ques­ti­o­nar­mos quem é esse Rei.

Bibli­ca­men­te o nos­so Rei é Jesus e, se olhar­mos, até mes­mo com cer­ta super­fi­ci­a­li­da­de, para Sua vida rela­ta­da nos evan­ge­lhos, per­ce­be­re­mos com mui­ta faci­li­da­de que Ele não era um rei que seguia os parâ­me­tros huma­nos. Jesus não acu­mu­lou rique­zas, não cons­truiu um tem­plo para Si, não bus­cou reco­nhe­ci­men­to polí­ti­co ou soci­al, não fez ali­an­ças com pes­so­as influ­en­tes, não fazia ques­tão nenhu­ma de ser valo­ri­za­do por Sua posi­ção soci­al e, prin­ci­pal­men­te, nun­ca osten­tou nada – nem mes­mo o fato de ser o Filho de Deus.

Por­tan­to, cren­te que osten­ta posi­ção, bens ou qual­quer outro atri­bu­to está indo dire­ta­men­te con­tra aqui­lo que o Mes­tre ensi­nou. Jesus não fez deli­be­ra­da­men­te um voto de pobre­za nem ori­en­tou Seus dis­cí­pu­los a fazer algo seme­lhan­te, mas Sua vida e pre­ga­ção sina­li­za­vam a todos que quem dese­jas­se segui-lo deve­ria alme­jar mais a Deus do que a qual­quer outra coisa.

Pode­mos sim, por meio do tra­ba­lho hones­to e dig­no, ter uma vida con­for­tá­vel, pra­ze­ro­sa e far­ta, mas isso não sig­ni­fi­ca que somos mais pro­te­gi­dos por Deus e mui­to menos que deve­mos expor, osten­tar nos­sa vida ou esti­lo de vida para dizer que somos de Deus ou aben­ço­a­dos por Ele.

A polê­mi­ca do momen­to é o pré­dio cons­truí­do no bair­ro do Brás, em São Pau­lo, deno­mi­na­do “Tem­plo de Salo­mão”. É pre­ci­so des­ta­car que mui­tos evan­gé­li­cos, cató­li­cos, muçul­ma­nos e espe­ci­al­men­te judeus são radi­cal­men­te con­tra a cons­tru­ção des­se pré­dio. Cada um des­ses gru­pos reli­gi­o­sos tem seus argu­men­tos para cri­ti­car a edi­fi­ca­ção, mas que­ro apre­sen­tar meu argu­men­to não como teó­lo­go ou evan­gé­li­co (rótu­lo que me cabe), mas sim como cris­tão. Uma vez que sou segui­dor de Cris­to, não vejo nenhum parâ­me­tro bíbli­co, espe­ci­al­men­te no que diz res­pei­to à vida de Jesus, para enten­der, acei­tar e, mui­to menos, con­cor­dar com a cons­tru­ção des­se edi­fí­cio. Pode­ria dis­cor­rer por horas a par­tir de pas­sa­gens bíbli­cas que con­de­na­ri­am sua cons­tru­ção, mas que­ro me ater ape­nas a um prin­cí­pio: se Jesus não gas­tou tem­po osten­tan­do, se Ele fez a opção por uma vida sim­ples e desa­fi­ou Seus segui­do­res a vive­rem assim, se Ele não usur­pou o ser igual a Deus (não osten­tou Sua divin­da­de), por que então cons­truir um pré­dio para cele­bra­ções cúl­ti­cas que osten­ta tan­to poder e riqueza?

O parâ­me­tro de cons­tru­ção do ver­da­dei­ro Tem­plo de Salo­mão, rela­ta­do na Bíblia, está fora do con­tex­to da pre­ga­ção de Jesus. Por isso, o Anti­go Tes­ta­men­to pre­ci­sa ser lido sem­pre ten­do como con­tra­par­ti­da o Novo Tes­ta­men­to. Tal­vez (e só tal­vez mes­mo), se Jesus não tives­se vin­do e ins­tau­ra­do o Rei­no de Deus na Ter­ra, a recons­tru­ção do Tem­plo de Salo­mão faria algum sen­ti­do. Mas, a par­tir de Jesus, não há tem­plo cons­truí­do por mãos de homens que pos­sa enal­te­cer a gran­di­o­si­da­de de Deus, pois só uma vida trans­for­ma­da, liber­ta e san­ti­fi­ca­da pode, de fato, glo­ri­fi­car o nome do Senhor.

Pr Tiago Valentim

Bus­can­do a sim­pli­ci­da­de do Senhor,
Pr. Tia­go Valentin

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