“Suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol” (Eclesiastes 11:7).
Eu sempre me lembro dos finais de tarde de sábado, quando eu, ainda criança, ficava com meu pai admirando o céu alaranjado da janela do nosso antigo apartamento. Cresci e transportei essa admiração para as poucas vezes por semana em que vou trabalhar de carro com meu esposo e passo pela Marginal do Tietê, que fica no meu trajeto. Por vezes, ele fica nervoso com o trânsito e eu digo: “Amor, olhe o céu, os pássaros, as plantas…Veja que coisas lindas em meio ao caos de concreto em que vivemos!”.
Confesso que morar em São Paulo pode criar na gente um coração e um olhar tão duros quanto as vias e prédios desta cidade. Mas creio que não é só a vida urbana que nos deixa assim. Tem também toda essa rotina maluca, em que tudo é para ontem, nosso péssimo gerenciamento do tempo, horas e horas gastas em redes sociais, celulares e aparelhos eletrônicos os mais diversos e, principalmente, nossa tentativa de ficar replicando, de forma artificial e humana, sensações e prazeres para satisfazer nossa visão, nosso toque e nossa audição, sendo que Deus já fez tudo isso por nós e de forma inigualável.
“Viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gênesis 1:31).
O Criador já se deu ao trabalho de nos dar tudo de bandeja e nós ainda insistimos em querer investir tempo e dinheiro para copiar o que já existe e é perfeito!
Não sou contra novas tecnologias, mas me recuso a gastar meu dinheiro em qualquer coisa recém-lançada que ficará obsoleta em um ano. Não compreendo pessoas que trabalham como robôs e negligenciam sua vida e família para serem aprovadas pela sociedade por suas roupas, carros, casas e eletrônicos. Quando eu morrer, não serei enterrada com meus bens materiais e ninguém ficará lembrando com saudade de mim porque eu tinha o último telefone da moda ou a roupa da marca X.
Minhas duas avós estão com seus 80 anos e todos que as conhecem dizem a mesma coisa: “Como elas são cheias de vida!”. Minha avó paterna tem um lindo pomar no fundo de sua casa e eu amo estar naquele lugar. Algumas vezes ao ano ela fazia geleias caseiras com as frutas daquelas árvores. Quando eu era criança, adorava o quintal da casa da minha avó materna, com suas galinhas, patos, cachorros e tudo o mais. E, toda vez que íamos à praia e entrávamos na água, ela pedia a Deus que nos guardasse de qualquer bicho do mar que pudesse nos machucar.
Hoje, moro num apartamento em São Paulo, com uma varanda tão minúscula que nem cabe gente de tanta planta! Cada vez que as olho, toco e molho, sinto a mão de Deus neste mundo tão cinzento em que vivemos.
Que possamos resgatar os valores e princípios básicos de vida, que nos traziam tanta alegria e contemplação diante da imensidão da natureza que Deus nos deu de presente e infelizmente foram se perdendo em meio às tentativas de inventarmos algo melhor do que Ele criou.
Por Carla Stracke