“Então disse aos servos: ‘As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes’. E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados” (Mateus 22:8–10).
A parábola dos convidados para o banquete de casamento, contada por Jesus em Mateus 22:1–14, serve como uma fascinante janela para entender o reino dos céus e o coração de Deus. Nesta história, há um rei que prepara uma festa para o casamento de seu filho e envia por duas vezes servos para buscar os convidados. Surpreendentemente, os convidados iniciais recusam o convite e alguns deles chegam ao extremo de maltratar e até matar os mensageiros. Ao presenciar tal rejeição, o rei decide então abrir as portas do banquete para todos, independentemente de sua condição social ou moral. Ao enviar pela terceira vez os servos, estes são instruídos a convidar todas as pessoas que encontrarem, tanto os considerados “bons” quanto os tidos como “maus”.
Este texto compõe uma sequência de parábolas contadas por Jesus sobre a insistente recusa de Israel em reconhecê-Lo como Messias. A primeira parte da história nos revela uma mensagem profunda sobre a universalidade do amor de Deus e da oferta de salvação. Torna-se uma representação de que o convite para participar do reino dos céus é estendido a todas as pessoas, sem nenhuma exceção, tendo em vista que a festa precisava acontecer e os indivíduos inicialmente convidados sequer deram importância ao convite, a quem os convidou e, principalmente, à própria ocasião, retomando suas atividades cotidianas e maltratando aqueles que portavam a mensagem do rei.
A análise teológica inicial que alguns fazem desta recusa é que o servo maltratado e morto seria o próprio Jesus, numa alusão à rejeição que Ele sofreu dos líderes religiosos e do povo judeu de Sua época, o que O levou à crucificação. Contudo, na minha percepção inicial, ao me confrontar com esse texto, enxergo no papel dos servos nessa história de Jesus um prenúncio daquilo que seria a Igreja, maltratada, rejeitada, perseguida e mensageira do convite da boa nova de Jesus Cristo, que, nesta leitura, é representado pelo noivo, filho do rei.
Ao recusar o convite, os convidados iniciais não apenas rejeitam a cerimônia ou o banquete como também recusam o próprio noivo, além de insultarem pessoalmente o rei que os governa.
Quando observamos sob essa perspectiva, vemos um rei, pai, orgulhoso dos feitos e das escolhas do seu filho; alguém que não mediu esforços para realizar uma grande festa, mas que não conseguiria celebrar a ocasião apenas com seu filho e seus servos. Por isso há uma inquietação quando da primeira recusa dos convidados em comparecer, e também uma insistência quando o rei reenvia o convite às mesmas pessoas.
Nosso Deus é relacional. Apesar de toda a Sua glória e majestade, Ele não deseja uma festa solitária e vazia. Contudo, o texto também vai nos dizer que um dos convidados, que se juntou à festa sem a vestimenta apropriada, é confrontado pelo próprio rei, o que significa que esse mesmo rei que estende o convite indiscriminadamente a todas as pessoas, sejam boas ou más, exige que todos passem pelo seu mestre de cerimônias e recebam vestes adequadas para aquela ocasião. A veste de casamento simboliza a transformação e a preparação necessária para verdadeiramente aceitar e viver o chamado de Deus. Ou seja, não basta apenas atender ao chamado; é necessária uma mudança genuína para a ocasião.
Talvez aquele homem fosse um dos convidados que ignoraram os primeiros convites e, vendo que pessoas inferiores a ele também foram alcançadas pelo convite, fez questão de comparecer. Uma pessoa que ignora o protocolo de vestimenta e permanece naquele ambiente comum até ser convidado a se retirar certamente tem seu ego carregado de prepotência e desobediência. A mensagem aqui é objetiva: o reino dos céus é um dom, mas também exige uma resposta adequada daqueles que desejam fazer parte dele, sejam pessoas boas ou más. Contudo, ignorar ou rejeitar as condições que Deus nos impõe pode ter implicações eternas.
Assim, a parábola do banquete, ou das bodas, nos convida a uma profunda reflexão sobre nossa relação com Deus e nossa resposta ao Seu amor. Por outro lado, ao analisarmos de forma muito objetiva o papel dos servos nesta história, enxergamos a beleza do serviço, pois, sem a preparação do ambiente, do alimento e principalmente do convite que foi entregue, inicialmente de forma restrita e depois de forma ampla, não haveria festa, mas apenas um jantar da família real. Esses servos foram obedientes e dedicados em cada detalhe. Concederam seu tempo e não mediram esforços para entregar os convites. Alguns deles perderam a própria vida por esse grande evento; outros voltaram tristes, ofendidos; outros ainda foram feridos e até mortos, tudo pelo seu rei, pelo seu príncipe e por essa festa tão importante.
Queridos irmãos e irmãs, não se enganem, não fiquem aguardando seu convite chegar e façam parte dessa equipe dedicada, que entrega tudo, inclusive a própria vida, para que todas as pessoas possam se achegar a essa festa que estamos preparando para o nosso Rei e para Seu Filho.
Não seremos nós que iremos convencer as pessoas sobre o chamado de Deus, mas o Espírito Santo e a presença do próprio Noivo nessa festa. Nós fazemos parte de toda essa estrutura e por isso devemos ser obedientes às ordens de Deus e convidar a todos e todas, sejam bons ou maus, pois é o próprio Soberano quem deve fazer o julgamento de quem está ou não vestido de forma apropriada.
Que possamos servir com a alegria e a dedicação desses servos, os quais puderam proporcionar ao seu rei uma festa com um ambiente bem preparado, muita comida e muitos convidados.
Esta palavra de hoje nos desafia não apenas a ouvir, mas a responder ativamente ao chamado divino, reconhecendo a generosidade de Deus, buscando viver de acordo com Seus padrões e, principalmente, servindo‑O. Qualquer tarefa ou atividade que venhamos a desenvolver no cotidiano de nossas comunidades deve alcançar prioritariamente seu propósito evangelístico ou de comunhão, para que possamos perceber e acolher aqueles que estão à nossa volta e são convidados de honra para esta grande festa. Tenhamos prazer em servir, pois vocês e eu já fazemos parte da festa.
Que Deus nos abençoe e nos fortaleça para Sua missão!
Seminarista Paulo Roberto L. Almeida Junior