Diz um conhecido ditado que “um gesto vale mais do que mil palavras”. Fico imaginando que a origem desse ditado poderia ser a história de alguém que se decepcionou muito com as promessas de outra pessoa e deve ter dito, cansado, que apenas um gesto teria muito mais valor do que muitas promessas que não foram cumpridas. De fato, uma das coisas mais desagradáveis que podemos enfrentar é uma promessa não cumprida.
Falando em ditado, o que mais fazia sentido e estava presente no tempo de Jesus era o “faça o que eu falo, e não o que eu faço”. Os escribas e fariseus, homens ligados à religião, cumpriam cabalmente esse ditado. Impunham sobre o povo uma carga exacerbada de leis e preceitos que eles mesmos não cumpriam integralmente. Por isso, após ouvir Jesus no Sermão do Monte, a multidão ficou maravilhada, “porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.” (Mt 7:29). A autoridade que Jesus tinha era fruto de sua coerência. Aquilo que Ele ensinava e pregava era praticado integralmente.
O que vemos no ministério de Jesus é que Ele empregava muito mais tempo buscando viver a doutrina do que simplesmente pregá-la ou ficar catequizando Seus discípulos. Na verdade, a encarnação do Cristo é a intenção concreta de Deus de cumprir Sua promessa de que o Messias viria para libertar Seu povo. Ou seja, as muitas palavras proféticas transformaram-se em uma atitude, um ato concreto: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14).
Jesus tinha plena clareza de sua missão e por isso sabia que o povo já estava enfadado de palavras lançadas ao vento. Era preciso agir, era preciso encarnar o amor do Pai. O ministério de Jesus foi e continua sendo tão impactante porque Ele praticava com a mesma autoridade com que pregava. Como Sua pregação confrontava e desafiava o viver cotidiano e Suas atitudes eram coerentes com essa pregação, isso tinha um impacto impressionante na vida das pessoas.
Foi o caso do Seu encontro com o leproso, após o Sermão do Monte. Jesus tinha acabado de pregar que Seus discípulos deveriam ser sal da terra e luz do mundo, fazendo a diferença, dando sabor, levando alegria para a vida das pessoas, e iluminando toda treva, para que a luz dissipasse todo sinal de morte. Além disso, declarou que era feliz, era bem-aventurado aquele que sofria por causa do Seu nome. Pois bem, imediatamente após descer do monte, Ele se encontrou com um homem leproso (Mt 8:1–4), que possivelmente havia ouvido todas as palavras do sermão e, por isso, confiante na autoridade daquele pregador, pediu para ser curado. Eis a oportunidade de que Jesus precisava. Ele não Se restringiu às palavras proferidas no monte, nem tampouco Se contentou em declarar a cura daquele homem. Mas, com um toque, uma atitude, disse muito mais do que as “mil palavras” do Seu sermão.
Jesus foi sal, foi luz na vida daquele homem doente, marginalizado e estigmatizado pela sociedade e pela religião. Jesus não estava preocupado com o que iriam dizer a Seu respeito por ter falado com um leproso e, principalmente, por ter tocado nele. O mais importante para Jesus era fazer com que aquele filho de Deus se sentisse acolhido, agraciado e amado por seu Pai.
Que nossas atitudes de fato possam completar e, quem sabe, superar nossas muitas palavras.
De um pregador que busca viver o que prega,
Pr. Tiago Valentin