Talvez você já tenha ouvido ou dito a seguinte frase: “A vida é minha e eu faço dela o que quiser”. O mais comum é essa frase estar inserida no contexto de uma intensa discussão ou até, quem sabe, de uma briga. Quem diz isso quer deixar claro que é dono da própria vida e não quer que ninguém se intrometa nela. Não sei qual é a sua percepção, mas, para mim, independentemente das circunstâncias ou motivações, esta é sempre uma frase infeliz.
Certamente, o momento mais marcante da nossa vida é quando tomamos consciência do que Cristo fez por nós na cruz, arrependemo-nos dos nossos pecados e confessamos Jesus Cristo como nosso único e suficiente salvador. Para nós metodistas, esse momento que chamamos de experiência com Deus é imprescindível, muito embora não estabeleçamos nenhum padrão ou modelo a ser seguido ou chamado de correto. E é bom que seja assim. Entendemos que todas as pessoas devem ter suas experiências pessoais com Cristo à sua maneira. Ao reconhecermos e experimentarmos a obra de Jesus por nós, fazemos uma entrega consciente de nossa vida ao Senhor.
Por isso, o apóstolo Paulo declarou em sua carta aos irmãos na Galácia: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo‑a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2:20). Ou seja, uma vez que entregamos nossa vida nas mãos do Senhor, estamos com isso abrindo mão dela e permitindo que Jesus viva através de nós. Portanto, quem entrega sua vida ao Senhor deposita na cruz sua vontade, seus desejos, seu eu.
A afirmação de Paulo, somada a outros princípios bíblicos, leva-nos ao entendimento de que, ao entregarmos nossa vida ao Senhor, o fazemos de forma total. Isso quer dizer que tudo o que somos e temos passa a ser d’Ele. Portanto, se você entregou sua vida ao Senhor, ela não é mais sua, e sim d’Ele. Logo, você não pode fazer com ela o que quiser.
Quero destacar para você o fato de que essa entrega implica colocar tudo o que temos nas mãos do Senhor. Ele é o dono da nossa vida. Ele é o dono de todas as nossas coisas, inclusive do nosso dinheiro. Sim, o seu suado dinheiro não é seu, mas de Deus. Por essa razão, afirmo sem nenhum medo de errar que, quando alguém tem condições de dar o dízimo e intencionalmente não o faz, possivelmente essa pessoa ainda não entregou sua vida ao Senhor, ainda não se converteu, porque quem entrega sua vida, entrega tudo. Essa pessoa, na verdade, está convencida de que é uma boa fazer parte de uma comunidade fé, de que é agradável cantar e orar com essa comunidade e de que, em alguns casos, é até vantajoso ser crente.
Mas falta a consciência de que a experiência de entrega significa rendição e oferta total e completa. Jesus sabia do poder e do fascínio que o dinheiro podia causar nas pessoas e, por isso, alertou Seus discípulos de que era necessário escolher a quem servir: a Deus ou às riquezas. Veja o quanto isso é sério. Jesus está equiparando o senhorio de Deus ao senhorio do dinheiro sobre a vida das pessoas. Ser dizimista não é e nunca foi uma questão financeira na vida da igreja, mas sim uma questão espiritual. Há pessoas que são dizimistas e ainda não se converteram? Sim, com toda certeza. Mas até mesmo para essas pessoas a entrega total é mais fácil de ser alcançada, pois, no caso delas, o dinheiro não se torna um entrave.
Mais uma vez: quando entregamos nossa vida ao Senhor, deixamos de ser donos dela. Na verdade, não somos donos de mais nada, pois tudo passou a ser do Pai, que de bom grado permite que usufruamos do que já é d’Ele mesmo.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin