“Então José, a quem os apóstolos chamavam de Barnabé, que quer dizer filho da consolação, um levita natural de Chipre, vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o depositou aos pés dos apóstolos” (Atos 4:36–37).O livro de Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, oferece uma diretriz sobre a importância de os cristãos se reunirem em comunidade. Nos cinco primeiros capítulos, isso nos é mostrado com clareza. A prática da oração coletiva é um dos privilégios que nós cristãos podemos desfrutar em nossos encontros regulares, assim como a oportunidade de compartilhar, motivar, orar e estar reunidos para a partilha tanto do pão quanto dos testemunhos de vida. A comunhão regular com irmãos e irmãs de fé numa mesma comunidade é parte imprescindível da caminhada com Jesus. O livro de Atos nos revela como eram as primeiras reuniões daquela congregação. Não havia templos como os entendemos hoje. Então, naquele início do cristianismo, as reuniões se realizavam nas casas dos fiéis, onde todos participavam da Ceia do Senhor, conversavam sobre a vida e oravam juntos. Há, portanto, uma essência que decorre do cristianismo primitivo: a predisposição para estarem juntos. Nos encontros regulares de comunhão, os apóstolos procuravam falar do que sofriam, a igreja ouvia atentamente, eles oravam juntos e Deus, por Sua misericórdia e graça, intervinha a favor deles, revigorando e impulsionando seus corações para a pregação da Palavra e da vida comunitária. Analisando ainda o livro de Atos, aprendemos que aquela convivência em comunidade incluía o cuidado com todas as partes da vida de cada irmão ou irmã, inclusive as questões materiais. Por isso, não lhes bastava estar juntos e ouvir sobre os problemas e dificuldades uns dos outros; era preciso agir e tentar resolvê-los. Assim, com base nessa necessidade de permanecerem juntos e se ajudarem, os primeiros cristãos desenvolveram em seus corações uma generosidade surpreendente para os dias de hoje. Muitos estudiosos afirmam que o desprendimento dos primeiros cristãos em relação a bens materiais se dava em decorrência da expectativa de que o retorno de Jesus seria rápido e, portanto, não haveria necessidade de acumular bens; por isso, tudo lhes era comum. Seja pela expectativa do retorno de Jesus, seja pela própria generosidade que encontramos refletida em Barnabé (At 4:36–37), que vendeu o que tinha e entregou o dinheiro aos apóstolos, o certo é que “não havia nenhum necessitado entre eles, porque os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e os depositavam aos pés dos apóstolos; então se distribuía a cada um conforme a sua necessidade” (At 4:32–35). Equidade não é igualdade. O texto não nos mostra que tudo era repartido por igual; pelo contrário, as necessidades de cada um eram analisadas e lhe era entregue o suficiente para supri-las. De modo que a partilha de forma desigual atendia as necessidades de todos, que também eram diferentes. Em resumo, o livro de Atos dos Apóstolos nos ensina que a comunhão e a partilha regular entre irmãos e irmãs de fé são partes imprescindíveis da caminhada com Jesus, e que essa comunhão e partilha podem trazer motivação evangelística e apoio mútuo. Neste tempo pós-Páscoa, somos desafiados a olhar e a refletir sobre as experiências dos primeiros cristãos. Aliás, neste mês de maio temos outras memórias a serem revisitadas enquanto metodistas, pois é o mês da Campanha Nacional da Oferta Missionária da Igreja Metodista e o mês em que celebramos a experiência do Coração Aquecido de John Wesley. Neste tempo, somos convidados a relembrar a essência e a história do metodismo e a vivenciar, nas concentrações distritais ou regionais, um outro nível da experiência de comunhão e de encontro como igreja. O movimento metodista surgiu na Inglaterra, no século XVIII, como uma mobilização pela renovação espiritual, ressaltando a importância da vivência cristã por meio da experiência pessoal de conversão, aprimoramento moral e caridade. Na verdade, uma das principais características do metodismo à época era a ênfase na solidariedade entre os membros da comunidade, especialmente em relação aos mais necessitados. Por meio de sociedades e classes, os metodistas se organizavam para se ajudarem uns aos outros em questões financeiras, emocionais e espirituais, sem deixar de praticar a leitura diária da Bíblia, a oração, o jejum e a comunhão regular. Pelo que podemos ver, nosso cerne, como metodistas, revela muito do cristianismo primitivo. Contudo, é preciso perguntar às nossas comunidades hoje se ainda mantemos tal identidade, se temos prazer em estar juntos, se estamos preocupados com a dor do outro e se temos sido generosos e desprendidos o suficiente de nossos bens e recursos para sermos agentes abençoadores da missão da Igreja e, principalmente, da vida dos mais necessitados. Que este mês de maio seja um tempo de renovação espiritual para as nossas vidas. Que o Espírito Santo tenha liberdade de agir sobre nós e sobre nossas comunidades de fé a fim de que possamos revigorar não apenas a nossa identidade metodista, mas a nossa identidade cristã originária. E que possamos empenhar nosso tempo, nossas relações, nossos bens, nossos recursos e nossa vida devocional na busca por um modo de viver que contemple o discipulado e a santidade integral, pessoal e social em nossas igrejas. Deus nos abençoe e nos fortaleça para Sua missão!
Seminarista Paulo Roberto L. Almeida Junior