Ainda que eu entregue os dízimos de todos os meus ganhos ao Senhor, e faça todos os sacrifícios que me forem pedidos, se for por interesse ou para cobrar recompensa de Deus depois, nada valerá.
Ainda que eu ofereça na casa do Senhor as mais belas canções de amor, numa atmosfera de harmonia e espiritualidade, contudo, se uma ponta de vaidade e orgulho sutilmente se esgueirar por trás do meu rosto crispado, ao Senhor nada aproveitará.
Ainda que eu cure inúmeros doentes e levante paralíticos, e os cegos que minhas mãos tocarem voltem a enxergar, mas a despeito disso, se o nome do meu ministério ou de minha pessoa ofuscarem Aquele que é a origem de todos os milagres, sou um nada que imagina ser alguma coisa.
O amor não se arroga ter qualquer direito. O amor não faz cobranças a Deus, nem Lhe exige nada, pois é agradecido de coração por tudo o que recebe. O amor recusa-se a orar somente para pedir, mas faz da oração o momento de buscar comunhão com o Eterno. O amor não tenta mostrar aquilo que não é, posto ser transparente até mesmo quando erra.
Há muitas manifestações que se confundem com amor: a necessidade de sentir-se aceito pelo grupo ou até mesmo pela família pode tornar alguém extremamente servil, mas ao longo do tempo esse servilismo, erroneamente confundido como um amor-cuidadoso – por ser tão gentil e benevolente – pode transformar-se em raiva acumulada por tudo o que ele fez e “nunca lhe deram o devido valor”. Um ego que sente a necessidade de ser reconhecido como alguém especial fará tudo para dominar as pessoas que transitam à sua volta, com um amor-provedor, mas só enquanto elas forem úteis para o seu propósito. No mundo gospel motivações inconfessáveis se escondem por trás da voz mansa, do gesto suave, ou palavras de lisonja, parecendo um pastor-amoroso, mas não passa daquele “lobo em pele de cordeiro” que Jesus falou.
Desde o Antigo Testamento Deus mostrou seu desagrado com o povo, pois este cumpria o que a Lei pedia, sem entretanto colocar ali o seu coração, e se davam por satisfeitos como “cumpridores da Lei”. Mas vem Jesus e mostra que não basta apenas “fazer”, mas… com que intenção? Com que coração? Com que motivação? Se não for por amor… esqueça.
Por vezes a (má!) intenção do ato está tão descaradamente à tona que não conseguimos esconder de nós e muito menos dAquele que perscruta todas as coisas. Outras vezes não está muito claro ao nosso consciente as motivações ocultas, pois “como águas profundas são os propósitos do coração do homem” (Pv 20.5).
Invariavelmente o Espírito me incomoda quando minha motivação não foi o amor. Sinto-me decepcionado com minha mesquinhez. Entendo agora porque Davi pedia com tanto ardor: “cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Sl 51.10).
Pureza de propósitos, pureza de coração, é tudo o que o Eterno espera.
Percebo que os cristãos reformados são craques nas Confissões de Westminster. Admiro os adventistas que recitam de cor o Decálogo de Moisés. O bom metodista já leu os 25 artigos de religião de Wesley, e os batistas conhecem as “4 leis espirituais”. Parece que o apto a confessar-se cristão é aquele que aprende, memoriza, repete e concorda com os princípios de fé. Mas há uma pergunta que ainda precisa ser respondida, a mais importante de todas, aquela pergunta que se não tiver a resposta correta, todas as outras perdem sentido:
- “Filho, você me ama?”
Pr. Daniel Rocha