Algumas vezes já ouvi a seguinte frase: “Jesus conseguiu ser santo porque era o Filho de Deus (ou o próprio Deus), mas nós não somos Jesus”. Essa frase é dita por quem deseja justificar a impossibilidade de ser santo como Jesus. Contudo, cremos que tudo que está na Bíblia foi inspirado pelo Espírito de Deus e, portanto, deve e pode ser praticado. E isso inclui a santidade.
Dizer que temos de ser santos quase sempre causa impacto na vida das pessoas e um certo sentimento de recusa. Isso ocorre pela equivocada interpretação que alguns dão à santidade, de que se trata de um estado de total ausência de pecado. Contudo, a santidade é muito mais um processo, uma caminhada durante a qual, a cada dia, buscamos dar lugar à ação do Espírito Santo na nossa vida. Santidade tem como base a mudança de vida; é a busca diária pela morte da nossa carne e pela vivificação do nosso espírito, o que de fato é desafiador.
Biblicamente, a palavra “santo” (no hebraico qadox) significa, segundo os estudiosos, “separado por Deus”. Assim, eles veem uma analogia entre as palavras qadox (santo, separado) e hodex (novo). Com isso, o significado de “santo” se ampliaria para “separado do velho”. Ou seja, “santidade” seria “novidade de vida”.
A melhor definição de santidade que me foi apresentada até hoje é a defendida pelo bispo metodista Paulo Lockman: “A santificação bíblica não é conhecer uma série de preceitos, mas praticar a vontade de Deus (…). Também podemos dizer que a santidade bíblica se manifesta em nossa vida de duas formas: a santidade pessoal e a santidade social comunitária. Embora sejam de dimensões diferentes, uma não existe sem a outra”.
Portanto, santidade vai além de um mero cumprimento de costumes ou regras impostos pela doutrina de uma igreja. À medida que me separo, que me consagro diariamente ao Senhor buscando viver o fruto do Espírito, meu caráter e minha vida são transformados. Com base na santidade que é gerada em minha vida e por meio dela, meus ambientes familiar, profissional e social são em geral transformados. Deus não criou o ser humano para tornar-se um fim em si mesmo, um ser inerte, que deseja apenas receber o tempo todo. Na verdade, somos um canal da ação transformadora do Espírito Santo.
A santidade tem a ver com a busca cotidiana por sermos parecidos com Jesus. Significa buscar e desejar reproduzir os frutos do Espírito, e isso passa pela consagração das nossas vidas. Quando pensamos em consagração, nós nos lembramos das disciplinas espirituais (recomendo a leitura do livro Celebração da Disciplina: o Caminho do Crescimento Espiritual, de Richard Foster), e duas delas poderão ser intensamente praticadas a partir de amanhã (1º/3), quando iniciaremos uma campanha de jejum e oração.
A santidade não é algo impossível de ser vivido, pois quem a promove é o próprio Deus. Ele não se coloca apenas como parâmetro, mas como gerador dessa obra de transformação. A nós nos cabe desejar e buscar intencional e intensamente a santidade, a qual vem por meio da nossa consagração diária.
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin