Dentre os princípios fundamentais defendidos pelos reformadores do século XVI, está o “Sacerdócio Universal dos Fiéis” ou “Sacerdócio Universal de Todos os Crentes”. Esse princípio nos fala do grande privilégio que temos como filhos de Deus: cada cristão é um sacerdote; cada cristão tem livre e direto acesso à presença de Deus, tendo como único mediador o Senhor Jesus Cristo.
Contudo, esse princípio jamais deve ser entendido de maneira individualista. A ênfase dos reformadores está no seu sentido comunitário. Somos sacerdotes uns dos outros, devendo orar, interceder e ministrar uns aos outros. À luz do Novo Testamento, cada cristão deve exercer a função de poimene, que em grego quer dizer “cuidador”, “ajudador”, “pastor”, “discipulador”, entendendo seu papel e responsabilidade de discipular/cuidar de alguém. Ou seja, todo cristão é um ministro (diákonos) de Deus, chamado para servir ao outro em amor.
Podemos dizer que, num certo sentido, todos os crentes são “leigos”, palavra que vem do termo grego laós, “o povo de Deus”. Todavia, a Escritura claramente fala de diferentes dons e ministérios. Alguns cristãos são especificamente chamados, treinados e comissionados para o ministério especial de pregação da Palavra e ministração dos sacramentos. Os leigos, no sentido daqueles que não são “ministros da Palavra”, também têm importantes esferas de atuação à luz do Novo Testamento. Os líderes da Igreja devem falar sobre o ministério do povo de Deus, bem como instruir e incentivar os crentes a desempenharem seu ministério pessoal e comunitário.
O sacerdócio universal dos crentes corre o risco de tornar-se mera teoria em muitas igrejas evangélicas. Sempre que os pastores exercem suas funções com excesso de autoridade (1 Pe 5:1–3), insistindo na distância que os separa da comunidade, relutando em descer do pedestal em que se encontram, concentrando todas as atividades de liderança e não sabendo delegar responsabilidades às suas ovelhas, tornando suas igrejas excessivamente dependentes de sua orientação e liderança e não dando oportunidade para que as pessoas exerçam os dons e aptidões que o Senhor lhes tem concedido, há um retorno ao sacerdotalismo medieval, contra o qual Lutero e os demais reformadores se insurgiram.
Uma igreja que caminha baseada na prática do discipulado gera envolvimento pessoal, abrangendo a maioria das pessoas que participam da comunidade local. Esse contato em grupos possibilita maior convivência e evita a despersonalização. Aqui o anonimato desaparece.
Temos sido desafiados, como igreja, a retomar a prática cristã e metodista do discipulado, em que todos são chamados a ser cuidadores uns dos outros. Uma igreja saudável não pode viver na dependência da assistência pastoral. Cada membro precisa assumir sua responsabilidade, sair da sua zona de conforto, olhar menos para si mesmo e servir de suporte para aqueles que precisam de socorro, ajuda e esperança.
Seremos uma igreja mais forte se todos exercermos o sacerdócio, independentemente de títulos. A igreja não é feita de cargos ou posições, mas de vidas que precisam ser amadas. Uma das maiores belezas da igreja de Cristo é que, quando um está fraco, pode contar com quem está mais forte. E assim vamos nos nutrindo, crescendo e caminhado juntos.
Do amigo e pastor,
Pr. Tiago Valentin