Muitas vezes imaginamos que a conversão é o alvo final a ser alcançado na vida: “Ah, agora eu já sou salvo…” muitos dizem. Na verdade a conversão é o início, é o começo de uma longa e penosa jornada repleta de conflitos, altos e baixos, sensação de fraqueza e impotência, desarmonias internas, desarmonias com familiares, desencanto com a fé e até mesmo decepção com Deus.
Se você já se sentiu assim, eu quero lhe dizer: “Bem-vindo à fé cristã e ao caminho da maturidade”.
O que está a lhe ocorrer nada mais é que uma grande obra divina em execução em sua vida. Você já viu aqueles tapumes que aparecem vez ou outra pela cidade com grandes letreiros: “DESCULPE O TRANSTORNO, ESTAMOS EM OBRAS”? Pois pode comprar uma camiseta com esses dizeres para você. Suas contradições, sentimentos confusos e a falta de sentido são sinais que você “está em obra”. E que tipo de obra Deus está efetuando?
1º) Deus está fazendo uma obra de DEMOLIÇÃO! Não de sua identidade, que é como impressão digital – é única – nem do seu ser, mas de todas as mentiras e bobagens adquiridas no decorrer dos anos sem Cristo – fantasias, enganos do diabo, obsessões e compulsões que tornam a mente obtusa e fixada em tudo o que é mal e destrutivo. Quando alguém chega à Igreja ele traz uma bagagem que está arraigada no seu ser, uma crosta que precisa ser arrancada. São manias, falsas idéias, visão torta, conceitos e verdades-que-são-mentiras…
2º) Deus está fazendo uma obra de VARRIÇÃO! É a retirada de todo entulho espiritual acumulado que não corresponde àquilo que o Senhor espera de seus santos. Deus não quer fazer de você um anódino (i.e., insignficante, medíocre) para depois incorpora-lo a um grupinho de crentes sem cara, sem gosto e insossos picolés de chuchu. Mais do que uma pessoa salva, Deus quer torná-lo único, gracioso, amigo, compreensivo, perspicaz, rico em sabedoria. É paradoxal diante da Palavra que “ser espiritual” pra muita gente significa viver carregado de culpa, cheio de medos e preconceitos, incapaz de compreender quem lhe é diferente, que a tudo reage com cara de espanto: ‘Ooohh…Oohhh…”, como se fosse uma criancinha que nada sabe da vida (isso acontece quando um crente conhece muito pouco de si mesmo e ainda não desenvolveu o entendimento que o Espírito proporciona).
3º) Deus está fazendo uma obra de RE-CONSTRUÇÃO: é a restauração das feridas, o nascimento de um novo ser. É o que Paulo nos diz ao pedir que nos despojemos “do velho homem que se corrompe” e nos revistamos do novo homem, criado segundo Deus (Ef 4.22–24).
E o que Deus planeja construir? Ele pretende ver a figura de seu Filho em nossas vidas. Pretende resgatar a Sua imagem em nós, que foi perdida. É como se o Eterno quisesse restaurar a nossa “cor original” que um dia Ele criou. Frequentemente vemos obras que foram restauradas por artistas, um trabalho de anos, para resgatar a cor autêntica. São os chamados restauradores. E quão grande é a surpresa ao descobrirem a extraordinária beleza de quadros pintados no passado, cuja pintura estava esmaecida pelo tempo.
Conta-se de um apaixonado por casas antigas que comprou uma para restauração. A pintura já estava velha, sem brilho, e ele resolveu com uma espátula tirar aquela camada. Para sua surpresa havia uma outra por baixo, e mais outra, mais outra, até que chegou à cor original. E como era bela! Não há outra forma de chegarmos a ela, senão quebrando o verniz da auto-suficiência e do orgulho – que são os impedidores da reforma.
Por isso, manda brasa Senhor, quebra mesmo. E quando seus amigos e familiares lhe cobrarem por suas incongruências e contradições que ocorrem no processo, diga-lhes: “Tenha paciência comigo, estou em reforma”.
Pr. Daniel Rocha