Recentemente os holofotes e as atenções da mídia e da sociedade em geral se voltaram para as igrejas, mais particularmente sobre o nicho evangélico. Isso por conta do decreto do governo do Estado de São Paulo que classificou as igrejas como serviço essencial, igualando-as a serviços como hospitais, supermercados, postos de combustível e outros. Algo parecido ocorreu em 2020, quando o presidente da República emitiu um decreto semelhante.
Aqui é necessário, primeiramente, fazer uma diferenciação entre termos, pois “igreja” não é a mesma coisa que “templo”; na verdade, os decretos vão na direção de assegurar o direito de as denominações abrirem seus templos para oferecer serviços religiosos. Quando se divulga que as igrejas poderão ficar abertas ou que as igrejas terão de fechar, há, no mínimo, um problema semântico.
Durante todo o período da pandemia, o que temos visto é que, de uma forma geral, boa parte das denominações optou por manter seus templos abertos, com ou sem a classificação de serviço essencial. Algumas delas, como é o caso da Igreja Metodista, decidiram suspender os cultos presenciais e fechar seus templos logo no começo da pandemia. Quando foi possível uma flexibilização, passaram a disponibilizar cultos presenciais, respeitando os protocolos e restrições sanitárias; no entanto, diante do recrudescimento da pandemia, voltaram a cerrar as portas de seus templos. Isso infelizmente não se observou em todas as denominações, uma vez que houve inúmeros exemplos negativos de templos abarrotados de pessoas sem nenhuma segurança sanitária.
A questão aqui é a seguinte: independentemente de qualquer governante determinar por decreto que as igrejas são essenciais, elas nunca deixaram de funcionar, de uma forma ou de outra. Aonde quero chegar? A despeito da imprecisão no uso dos termos “igreja” e “templo”, não é um decreto que vai determinar se as igrejas são ou não essenciais. Na verdade, isso já foi decretado há quase dois mil anos. O que tem me preocupado é o fato de que pessoas que não fazem parte de nenhuma igreja ou denominação, ou até são contra a religião, de repente passaram a se posicionar na mídia e nas redes sociais, relativizando, com um pseudoconhecimento, o papel da igreja e da fé; pessoas que, sem nenhuma propriedade, afirmam que as igrejas “não são essenciais”.
Não estou aqui discutindo a importância de os templos darem sua contribuição no momento de pico de contágio do vírus, substituindo os cultos presenciais por cultos on-line. Essa deveria ser uma postural natural – e, no nosso caso, profética –, testemunhando de maneira concreta o valor da vida para a igreja. O que precisamos discutir, e que para nós cristãos deve ficar muito claro, é o seguinte: templos fechados, no contexto que estamos atravessando, têm um cunho sanitário e certamente um viés político, mas a frase “as igrejas precisam fechar” é incabível do ponto de vista teológico. Como eu disse acima, jamais um decreto governamental poderá determinar se as igrejas, e não os templos, são essenciais, pois a igreja é um projeto de Deus para Seus filhos e filhas. A comunidade de fé não são as denominações, não são os templos abertos ou fechados, mas sim um espaço de vivência da graça e do amor divinos que se manifestam a partir da comunhão, da partilha e do amor expressos por irmãos e irmãs que se reconhecem como filhos e filhas de um único Pai.
Tenho visto cristãos e cristãs afirmarem categoricamente que as “igrejas não são um serviço essencial”. Cuidado! Esteja atento(a) para não ser induzido(a) a erro! Se você defende que, no momento, os templos devam estar fechados, você tem toda a razão, ainda que para algumas pessoas estar no templo seja essencial para a sua fé. No entanto, é preciso deixar claro que a igreja jamais será essencial porque um governante decretou que fosse desse modo, e sim porque quem faz parte dela reconhece o seu valor e o seu papel e, principalmente, porque sabe quem é o seu dono, senhor e pastor.
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin