Conforme Gênesis 1:26, fomos criados à imagem e semelhança de Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Isso significa que nossa essência é divina, ou seja, vivemos como Deus vive, somos a expressão da comunhão existente na Trindade, fomos criados com a capacidade de amar, relacionarmo-nos uns com os outros, frutificar e, não menos importante, ser livres.
Adão e Eva viviam em harmonia entre si e com a criação, pois essa vivência era reflexo do que eles desfrutavam com Deus. Todos os dias, ao cair da tarde, o Soberano levantava-se do Seu alto e sublime trono para passear com o homem e a mulher pelas campinas do paraíso (Gn 3:8). Talvez daí venha a expressão “cenário paradisíaco”; afinal, haveria algo mais bonito e prazeroso do que passear com Deus todos os dias vendo o pôr do sol?
Um verdadeiro amor não é imposto, condicionado, forçado, mas é resultado de uma escolha voluntária e recíproca. Por isso, Deus deixou o homem e a mulher livres para amá-Lo ou não, e nós somos tentados a abrir mão desse amor para saciar nossa sede por autossatisfação. O Diabo quer nos enredar no laço da idolatria para que nos tornemos idólatras de nós mesmos. A proposta da serpente à mulher é: “E sereis como Deus” (Gn 3:5). Que grande tentação ser como Deus. A sagacidade do mal é tão sedutora que a serpente oferece para o homem e para a mulher uma vantagem que, na verdade, eles já tinham: a de ser semelhantes a Deus.
O resultado da queda é a disfunção da vida, uma vez que o ser humano quebra seu vínculo de intimidade, cumplicidade e dependência com o Divino. O homem passa a ter vergonha de si mesmo (Gn 3:10), acusa seu próximo, que é a mulher (Gn 3:12), e esta, por sua vez, culpa a criação: “A serpente me enganou” (Gn. 3:13). A quebra de relacionamento com Deus resulta na disfunção do ser humano consigo mesmo, com o próximo e com o meio em que vive.
Adão e Eva estavam perdidos no paraíso sem saber como se relacionar; houve culpa, houve acusação, houve quebra de vínculos. É assim que nos encontramos por diversas vezes na caminhada da vida, perdidos nos nossos sentimentos. Ficamos bravos, indignados, e insatisfeitos conosco mesmos, olhamo-nos no espelho e nos perguntamos “Por quê?”. Para alguns, essa crise alcança patamares tão insustentáveis que podem levá-los a uma fuga permanente da realidade, atentando contra a própria vida.
O que falar então das relações pessoais, no campo da família, no meio profissional e também no arraial da igreja; relacionamentos truncados, falta de perdão, acusações, fofocas, intrigas etc. O resultado em muitos casos é o fim de um casamento, o rompimento de laços de amizade, a falta de continuidade e avanço profissional, o fracasso num relacionamento…
Nosso olhar fica turvo, não enxergamos outras possibilidades nem caminhos alternativos, perdemos a disposição de nos adaptarmos, o mundo vira uma grande prisão e não há lugar onde possamos encontrar paz e refrigério. É o retorno ao caos, ao vazio, às trevas.
Só há um caminho para voltarmos a nos relacionar de maneira saudável conosco mesmos, com o outro e com o meio em que vivemos: voltando a nos relacionar com o Criador. Paulo declarou que as coisas velhas ficaram para trás, e eis que tudo se fez novo (2 Co 5:17). Esse renovo nada mais é do que voltar à origem de tudo. Restaurar nossa relação com Deus sara todos os nossos vínculos. Não estar bem com você mesmo, com os outros ou com a “vida” é reflexo de algo que precisa ser revisto e tratado na sua relação com Deus.
Não fique perdido nas disfunções geradas pela idolatria do seu “eu”, mas se permita ser achado pelo Senhor para que você possa voltar a caminhar com Ele na viração do dia.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin