Tiago Valentin
Paz na guerra
Crer em Jesus nos leva a viver numa perspectiva diferente daquela de quem não crê n’Ele. Certa vez ouvi um testemunho de um recém-convertido que me chamou muito a atenção. Ele dizia que, depois que passou a ir à igreja e entregou sua vida a Jesus, suas dívidas financeiras não diminuíram e seus conflitos e lutas continuaram do mesmo jeito que antes; apesar disso, agora ele tinha paz. A princípio, crer em Jesus não acaba com todos os nossos problemas, mas nos faz enxergá-los e enfrentá-los com outro olhar: um olhar de serenidade, confiança e esperança, fruto de uma paz que é inexplicável. Essa foi a promessa de Jesus a Seus discípulos, quando Ele os preparava para Sua partida, conforme relatado no capítulo 14 do Evangelho de João. Nessa passagem, Jesus inicia Seu discurso dizendo: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14:1). Isto é, Ele alerta os discípulos para que não fiquem com o coração perturbado, mas tenham fé n’Ele, assim como têm em Seu Pai. Jesus diz isso para tranquilizá-los, pois já previa a própria morte e não queria deixá-los desamparados. Por isso, também os conforta afirmando que o consolo viria do Espírito Santo (Jo 14:16). Portanto, diante da morte e da separação, Jesus exorta os discípulos a ficarem em paz. E afirma que essa paz viria d’Ele próprio – uma paz que não pode ser oferecida, proporcionada ou manifestada com base em critérios, lógicas ou princípios naturais; uma paz que o mundo não é capaz de nos dar (Jo 14:27). Quem crê e vive com Jesus, ainda que sofra perdas, passe por lutas, por conflitos e até diante da morte, pode sentir uma paz que é experimentada e vivenciada mesmo em meio à guerra. Jesus faz questão de distinguir a paz que Ele nos dá daquela paz que vem do mundo. A palavra “paz” em português se origina do termo pacem, que em latim significa absentia belli (ausência de guerra). Portanto, a ideia de paz está ligada a um estado em que não há nenhum conflito; ou seja, só se pode ter paz quando não há guerra. É fato que a ausência de guerra pode ser um sinal muito concreto de paz. Mas a palavra usada no grego, língua na qual o Novo Testamento foi escrito, é eireni, e seu significado é bastante específico; nela está inserido o conceito de reconciliação entre partes que estão em conflito. A partir daí, estará sempre implícita a doutrina da salvação, a qual estabelece a separação entre Deus e o homem por causa do pecado, isto é, o homem está em conflito com Deus. A paz sobre a qual Jesus está falando é resultado daquilo que acontece dentro de nós, ou seja, porque nos reconciliamos com Deus temos uma paz que flui do nosso interior independentemente do que ocorre no exterior. A paz que Jesus nos dá vai além da razão, do contexto e da lógica. Ao entregarmos nossas vidas a Jesus e caminharmos dia a dia com Ele, essa paz vai sendo gerada e renovada constantemente. Que a paz de Cristo, que excede todo o entendimento e não pode ser encontrada em nenhum lugar deste mundo, nos dê esperança, graça e força para vencermos todas as batalhas da nossa vida! Do amigo e pastor,